IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969)
EVOCAÇÕES CAMONIANAS
"A figura incontornável da cultura nacional, Luis Vaz de Camões, o poeta-viajante envolvido direta e ativamente no processo de expansão territorial portuguesa no Oriente a partir do século XVI, e que o próprio imortalizou na sua obra magna de Os Lusíadas, teve no decurso das comemorações celebrativas de 1969 a sua efígie multiplicada nos modelos de representação tradicionalmente aceites pelos especialistas.Os festejos comemorativos dos quatrocentos anos da saída definitiva de Camões da Ilha de Moçambique destacar-se-iam das restantes quatro comemorações ocorridas em 1969 – como as de Vasco da Gama por exemplo – pela menor expressão celebrativa entre as sociedades locais e as da metrópole, em dimensão e na duração dos eventos. Tanto quanto sabemos, somente as festividades camonianas não dispuseram de um evento em Lisboa.Circulando com maior ou menor impacto na província moçambicana, até alcançar inevitavelmente a metrópole portuguesa, as edições comemorativas móveis e de pequeno porte – as coleções filatélicas e as séries medalhísticas –, foram permitindo contribuir para a difusão do programa final das comemorações oficiais a decorrer naquela pequena ilha africana. Enquanto os selos postais foram produzidos em suporte de papel com uma ampla margem de distribuição, as medalhas, cunhadas em bronze e em prata, foram difundidas essencialmente nos meios mais elitistas dos círculos institucionais e dos circuitos colecionistas.Mas entre as diversas obras comemorativas promovidas pelas comissões ganhou destaque, pela imponência física, simbologia histórica e exclusividade material, a escultura de Camões empunhando o manuscrito de Os Lusíadas na Ilha de Moçambique, segundo uma imagem idealizada e algo romantizada integrada no projeto de recuperação e beneficiação dos principais eixos urbanísticos e arquitetónicos daquele território insular.No quadro político-ideológico da época, as comemorações camonianas de 1969 permitiram à máquina propagandística e ideológica do Estado Novo continuar a difundir uma mensagem de cunho histórico-nacionalista português e europeísta, vincada por um sentimento de partilha e pertença identitária expresso na obra de Os Lusíadas. Contudo, não foi apenas o regime salazarista que se aproveitou politicamente da obra e do seu autor.O mesmo Camões que fora recrutado pelos republicanos contestatários ao regime monárquico nos finais do século XIX, associando-o aos anseios de luta pela liberdade «cerceada pelo despotismo» – e que para muitos falecera em 1580, o ano em que D. Filipe I de Portugal [1527|1581-1598] começara a forjar a Monarquia Dual Ibérica com entrada no Reino –, acabara por ser convocado uma vez mais para legitimar a presença portuguesa nos territórios em que começaram a irromper os movimentos independentistas da denominada Guerra da Libertação de Moçambique a partir de 1964.Independentemente da forma e da matéria, e do impacto de cada peça ou conjunto, os elementos comemorativos camonianos permitiram assinalar o acontecimento histórico e impulsionar uma vez mais a biografia e a obra do Poeta. E neste caso, a escultura camoniana concebida por António Pacheco ocupou um lugar preponderante entre as demais peças celebrativas promovidas."
Milton Pedro Dias Pacheco
Milton Pacheco
Historiador, investigador, camonista
Diretor, Casa-Museu Elysio de Moura
CAMONIANA
- (2022) Evocações camonianas: o IV Centenário da Estada de Luís Vaz de camões na Ilha de Moçambique (1569-1969): Parte II, Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, n.º 52 (2022), 201-273.
- (2021) Evocações camonianas: o IV Centenário da Estada de Luís Vaz de camões na Ilha de Moçambique (1569-1969): Parte I, Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, n.º 51 (2021), 157-192.
- (2020-21) responsabilidade, com Maria Bochicchio, na realização de Refrações Camonianas em Artistas do Século XXI – Vt Poesis Pictura. – Artistas do século XXI em diálogo com Camões. – Exposição no Museu Nacional de Machado de Castro (de 17 nov. 2020 a 28 mar. 2021), com curadoria de Maria Bochicchio, e ciclo de conversas com os respetivos artistas plásticos. Org. CIEC, em parceria com o Museu Nacional de Machado de Castro e a Câmara Municipal de Coimbra. – Participação de Milton Pacheco na produção dos vídeos promocionais e das conversas com os artistas:
- (2019) Camões na Ilha de Moçambique: marcos históricos e marcas artísticas, in Ciclo Comemorativo dos 25 Anos do CIEC. – Colóquio “Camões e a Lusofonia II”, Org. CIEC, Coimbra, 13.03.2019. Coimbra: Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos; Biblioteca Geral da Univ. de Coimbra.
“Encontro com Cabrita [Pedro Cabrita Reis]” (1.03.21)
“Encontro com Manuel Casimiro” (8.03.21)
“Encontro com António Olaio” (12.03.21)
“Encontro com Nikias Skapinakis (com a intervenção de Helena Skapinakis)" (15.03.21)
“Encontro com Fernando Marques de Oliveira” (19.03.21)
“Encontro com José Maçãs de Carvalho” (22.03.21)
“Encontro com Pedro Pousada” (26.03.21)
“Encontro com Lu Lessa Ventarola” (29.03.21)
“Encontro com Francisco Laranjo” (5.04.21)
“Encontro com José Rodrigues (com a intervenção de Ágata Rodrigues)" (9.04.21),
“Encontro com Albuquerque Mendes” (12.04.21)
“Encontro com Sobral Centeno” (16.04.21)
“Encontro com Júlio Pomar (com a intervenção de Sara Antónia Matos)" (19.04.21),
“Encontro com Pedro Calapez” (23.04.22)
“Encontro com Rui Sanches” (26.04.21)
“Encontro com Arlindo Silva” (28.04.21).
- (2014) As musas tagídeas de Camões na obra de Columbano Bordalo Pinheiro, in Ciclo de conferências promovido pela Confraria Camoniana de Ílhavo. – Ílhavo, Museu Marítimo, 22.11.2014.
- (2014, maio) Do mito para a tela: as representações das Tágides camonianas na arte portuguesa de Oitocentos, in VILELA, Ana Luísa; Elisa Esteves; Fabio Mario Silva; Margarida Reffóios (ed.) Representações do Mito na História e na Literatura. Évora: Centro de Estudos em Letras / Instituto de Investigação e Formação Avançada / Universidade de Évora, 279-292. – [Comunicação apresentada no Congresso Internacional: Mito e História, org. CEL-UÉ; CIDEHUS da UÉ. – Évora, Colégio do Espírito Santo – Univ. de Évora, 25.10.2011].
- (2012) “Que fez o Serenissimo & Reverendissimo Cardeal Iffante Dom Anrique”: a acção legisladora do Arcebispo e Inquisidor-Mor no tempo de Camões, in Camões e os contemporâneos. – [Atas], org. Maria do Céu Fraga et al., Coimbra/Ponta Delgada/Lisboa: CIEC; Univ. dos Açores; Univ. Católica Portuguesa, 387-402. – [Comunicação apresentada no Colóquio Internacional Camões e os seus Contemporâneos, Braga, 14.04.2012].
Apresentação sobre "Camões na Ilha de Moçambique..."
Colóquio Camões e a Lusofonia, org. CIEC, Coimbra, 13.03.2019
CAMÕES E MOÇAMBIQUE
Alguma bibliografia a partir do texto de Milton Pacheco, Evocações camonianas, I e II
- (1968, março) Informações e Notícias: IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique, Boletim Geral do Ultramar, 513, 118-119.
- (1968, nov.-dez.) Informações e Notícias: IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique, Boletim Geral do Ultramar, 521-522, 120.
- (1969, jan.-fev.). Informações e Notícias: Três comemorações centenárias relativas ao Ultramar, Boletim Geral do Ultramar, 523-524, 167-169.
- (1969, 29 de maio) Os centenários de Vasco da Gama, Luis de Camões e Gago Coutinho no distrito de Moçambique, Diário de Moçambique, 6601, 9.
- (1969, junho). Informações e Notícias: Filatelia. [Selos comemorativos do IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique], Boletim Geral do Ultramar, 528, 198-200.
- (1969, set.-dez.) Informações e Notícias: IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique, Boletim Geral do Ultramar, 531-534, 201-202.
- (1969, 12 de novembro). Um cruzeiro no “Infante D. Henrique” integrado nas comemorações camoneanas, Diário de Moçambique, 6763, 1.
- (1969, 19 de novembro) Comemorações Camoneanas, Diário de Moçambique, 6769, 1.
- (1969, 20 de novembro) O “Infante Dom Henrique” chegou ontem à Beira, Diário de Moçambique, 6770, 2, 9.
- (1969, 22 de novembro) Comemorações Camoneanas na Beira, Diário de Moçambique, 6772, 3.
- (1969, 22 de novembro) O Governador-Geral inaugura hoje o importante edifício do Colégio Luís de Camões, Diário de Moçambique, 6772, 1.
- (1969, 23 de novembro) Comemorações camoníanas: o novo edifício do Colégio Luís de Camões foi ontem inaugurado na Beira pelo Governador-Geral, Diário de Moçambique, 6773, 1-3.
- (1969, 24 de novembro). A estátua de Camões foi ontem inaugurada na Ilha de Moçambique pelo Governador-Geral, Diário de Moçambique, 6774, 1-3.
- (1969, 25 de novembro). Comemorações camonianas, Diário de Moçambique, 6775, 3.
- (1969, 26 de Novembro). [Exposição Camoniana na Beira], Diário de Moçambique, 6776, 2.
- Albuquerque, Luís de [coord.] (1979) Memoria das Armadas qve de Portvgal pasaram ha Índia. E esta primeira e ha com qve Vasco da Gama partio ao descobrimento dela por mamdado de ElRei Dom Manvel no segvndo anno de sev reinado e no do nacimento de Xpõ de 1497. Lisboa: Edição da Academia das Ciências de Lisboa.
- BASTOS, F. de Magalhães (1972) Camoês na ilha de Moçambique, in Facho-Sonap., 17 (1972), p. 6-8.
- Couto, Diogo do (1786) Da Asia. Dos feitos, que os Portuguezes fizeram na conquista, e no descubrimento das terras, e mares do Oriente. Decada Oitava. Lisboa: Regia Officina Typographica.
- Cruz, M. A. L. (2011) Camões e Diogo do Couto, in V. A. e Silva (Coord.), Dicionário de Luís de Camões. Lisboa: Editorial Caminho, 134-140.
- Garcia, A. (1969) Camões em Moçambique: 1567-1569, Monumenta. Publicação da Comissão dos Monumentos Nacionais de Moçambique, 5, 29-31.
- Garcia, A. (1969, 22 de novembro). IV Centenário de Camões em Moçambique. 1567- 1569, Diário de Moçambique, 6772, 13.
- Gonçalves, A. da. S. (1969) Camões e Moçambique, Monumenta. Publicação da Comissão dos Monumentos Nacionais de Moçambique, 5, 23-25. I
Catálogo da exposição itinerante, cartográfica e iconográfica, comemorativa do IV Centenário da Estada de Camões na Ilha de Moçambique
Lisboa: Arquivo Histórico Ultramarino, 1969
- Lisboa, Eugénio (1981) Camões, a Ilha de Moçambique e nós, in Estudos sobre Camões: páginas do Diário de Noticias dedicadas ao poeta no 4.o centenário da sua morte. Lisboa: INCM - Editorial Notícias, p. 177-186. / reprod. em Oceanos, n.º 25 (jan.-mar. 1996), 76-80.
- Lobato, Alexandre Marques (1969) Ilha de Moçambique: IV Centenário da Estada de Camões na Ilha de Moçambique: V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama. Lisboa: Comissão Provincial dos Centenários.
- Lobato, Alexandre Marques (1969, novembro) Comemorações do IV Centenário da Publicação de “Os Lusíadas” [Programa]. Lourenço Marques: Comissão Provincial do IV Centenário da 1.a Publicação de Os Lusíadas. - [Há também um folheto explicativo dos festejos].
- Lobato, Alexandre Marques (1969, novembro) Programa dos festejos centenários na Ilha de Moçambique. Ilha de Moçambique. IV Centenário da Estada de Camões na Ilha de Moçambique. V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama. Lisboa: Comissão Provincial dos Centenários.
- MANO, Manuel Lourenço (1939) Luiz de Camões na ilha de Moçambique, in Moçambique: documentário trimestral, n.º 20 (out.-dez. 1939), p. 103-115.
- MANO, Manuel Lourenço (1935) Luis de Camões na Ilha de Moçambique [Estada de Camões em Moçambique, no seu regresso do Oriente], in Moçambique: documentário trimestral, n.º 20 (out.-dez. 1935).
- Mariz, P. de (1613). Ao estudioso da lição Poetica, Manoel CORREA, Os Lvsiadas do Grande Lvis de Camoens. Principe da Poesia Heroica, Lisboa, Por Pedro Craesbeeck, 1613, [fls. IIv-V].
- Pacheco, Milton (2022) Evocações camonianas: o IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969): Parte II, Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, n.º 52 (2022), 201-273.
- Pacheco, Milton (2021) Evocações camonianas: o IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969): Parte I, Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, n.º 51 (2021), 157-192.
- Pacheco, Milton (2019) Apresentação sobre "Camões na Ilha de Moçambique: marcos históricos e marcas artísticas", no Colóquio "Camões e a Lusofonia", org. CIEC, na Universidade de Coimbra, 13.03.2019.
- Ribeiro, Eduardo (2012). Camões no Oriente e outros textos. Lisboa: Labirinto das Letras. / 2.ª ed., Lisboa, 2018.
- Rodrigues, V. (c.1577) Primeiro Roteiro da Carreira da Índia. In Costa, A. F. (1940) Roteiros portugueses inéditos da Carreira da Índia do século XVI. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 87-116.
- SAÚTE, Nelson; António Sopa, comp. (1992) A ilha de Moçambique na voz dos poetas. Lisboa: Edições 70.