2010/06/11

REDONDILHAS de Luís de Camões



Índice




A

A alma que está of’recida
A dor que minh'alma sente
Ai de mi
Ai de mim, mas de vós ai,
Amaria eu, Gil amigo
Amores de ûa casada
Amor loco, amor loco
Amor, que todos ofende
Amor que viu minha dor
A morte, pois que sou vosso
Ana quisestes que fosse
Apartaram-se os meus olhos
Aquela cativa

C

Campos bemaventurados
Carta minha tão ditosa
Caterina bem promete
Cinco galinhas e meia
Coifa de beirame
Como quer que tendes vida
Com razão queixar-me posso
Com vossos olhos Gonçalves
Conde, cujo ilustre peito
Corre sem vela e sem leme

D

Da doença em que ardeis
D’alma e de quanto tiver
Dama d’estranho primor
De atormentado e perdido
De dentro tengo mi mal
De pequena tomei Amor
De que me serve fugir
Descalça vai pera a fonte
Descalça vai pola neve
Deu, Senhora, por sentença
Deus te salve, Vasco amigo
De vós quererdes meu mal
De vuestros ojos centelhas
Do la mi ventura
Duas que o diabo leve

E

Em tudo vejo mudanças
Enforquei minha esperança
Esconjuro-te, Domingas
Esperanças mal tomadas
Esses alfinetes vão
Este mundo es el camino

F

Falso cavaleiro ingrato
Ferro, fogo, frio e calma
Foi-se gastando a esperança

G

Gaurdai-me esses olhos belos

H

Há um bem que chega e foge

I

Irme quiero, madre

J

Já eu vi o taberneiro
Já não posso ser contente
Justa fué mi perdición

L

Lágrimas dirão por mim
Logo lhe vi mui mau jeito
Lume desta vida

M

Macho, sim, mas macho de andas
Mandastes-me pedir novas
Mas porém a que cuidados
Minh’alma, lembrai-vos dela
Minina dos olhos verdes
Minina fermosa
Minina fermosa e crua
Minina, não sei dizer
Moscas, abelhas e zangãos
Muito sou meu inimigo

N

Na fonte está Lianor
Não estejais agravada
Não posso chegar ao cabo
Não sei se me engana Helena
Não sei se por ser do Porto
Nasce estrela d’alva
No meu peito o meu desejo
Nos livros doutos se trata

O

Ojos, herido me habiéis
Olhai que dura senteça
Olhos em que estão mil flores
Olhos, não vos mereci
Ó meus altos pensamentos
Ora cuidar me assegura
Os bons vi sempre passar

P

Para evitar dias maus
Para homem tão honrado
Pastora da serra
Peço-vos que me digais
Pequenos contentamentos
Pera que me dán tormento
Perdigão perdeu a pena
Perguntais-me quem me mata
Pois a tantas perdições
Pois me faz dano olhar-vos
Pois que, Senhora, folgais
Por uns olhos que fugiram
Porque no miras, Giraldo
Por usar costume antigo
Prazeres, que me quereis?
Pus meus olhos nũa funda
Pus o coração nos olhos

Q

Qual terá culpa de nós?
Quando me que enganar
Que diabo há tão danado
Quem disser que a barca pende
Quem no mundo quiser ser
Quem se confia em olhos
Querendo escrever um dia
Qué veré que me contente
Que vistes, meus olhos?


R

Retrato, vós não sois meu

S

Saüdade minha
Se alma ver-se não pode
Se de meu mal me contento
Se derivais de verdade
Se Helena apartar
Se me desta terra for
Se me levam águas
Sem olhos vi o mal claro
Sem ventura é por demais
Sem vós e com meu cuidado [1]
Sem vós e com meu cuidado [2]
Se n’alma e no pensamento
Se não quereis padecer
Senhora, pois me chamais
Senhora, quando imagino
Senhora, se eu alcançasse
S’espero, sei que me engano
Se vossa dama vos dá
Sois fermosa e tudo tendes
Sois ũa dama
Suspeitas, que me quereis?

T

Tal estói después que os vi
Tende-me mão nele
Todo es poco lo posible
Trabalhos descansariam
Triste vida se me ordena
Trocai o cuidado
Tudo pode ũa afeição

V

Vai o bem fugindo
Vede bem se nos meus dias
Vejo-a n’alma pintada
Venceu-me Amor, não o nego
Verdes são as hortas
Verdes são os campos
Ver e mais guardar
Vi chorar uns claros olhos
Vida da minh’alma
Vós, Senhora, tudo tendes
Vos tenéis mi corazón
Vossa Senhoria creia
Vosso bem-querer, Senhora





2010/06/10

SONETOS de Luís de Camões

Redondilha - No monte de Amor andei



No monte de Amor andei





MOTE

No monte de Amor andei,
por ter de monteiro fama.
Sem tomar gamo nem gama.


VOLTAS

Achei-me tão enlevado
neste monte a montear,
que donde cuidei caçar
eu mesmo fiquei caçado.
Caçador desesperado,
saí de üa e outra rama,
sem tomar gamo nem gama.

Levava por meus monteiros,
nesta caça de tormento,
os meus ais, que, como vento,
iam diante, ligeiros.
Uns tão tristes companheiros
levava, como quem ama,
por descobrir esta gama.

A roupa de montear
que neste dia levava,
era o mal que me pesava;
a corneta, o suspirar.
Já não podia cessar,
como touro quando brama,
só por buscar esta gama.

Os cães eram meus tormentos,
cheios de muita agonia;
o furão, minha porfia;
as redes, meus pensamentos.
Nem me valeu tomar ventos
nem penetrar pela rama
pera descobrir tal gama.

Luís de Camões


Fonte:
Lírica completa - I [Redondilhas], org., pref. e notas de Maria de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., Lisboa: INCM, 1980, p. 27-28. / 2.ª ed., 1986, p. 347-348 [em “Redondilhas de autoria controversa”].





Redondilha - Quem ora soubesse



Quem ora soubesse



CHISTE

Quem ora soubesse
onde o amor nace,
que o semeasse.



VOLTAS

D' Amor e seus danos
me fiz lavrador;
semeava amor
e colhia enganos.
Não vi, em meus anos,
homem que apanhasse
o que semeasse.

Vi terra florida
de lindos abrolhos:
lindos para os olhos,
duros para a vida.
Mas a rês perdida
que tal erva pace
em forte hora nace.

Com quanto perdi,
trabalhava em vão;
se semeei grão,
grande dor colhi.
Amor nunca vi
que muito durasse,
que não magoasse.

Luís de Camões


Fonte:
Lírica completa - I [Redondilhas], org., pref. e notas de Maria de Lurdes Saraiva, 1.ª ed., Lisboa: INCM, 1980, p. 25. / 2.ª ed., 1986, p. 25.



2010/01/01

Camoes et son esclave mendiant, 1853, por Ernest Slingeneijer




"Camoes et son esclave mendiant", 1853

Pintura de Ernest Slingeneijer, 1820-1894


Tela; 100 x 80cm (120 x 100cm)
Título em placa de cobre.



Camões e o Jau

"Está Camões sentado ao pé de uma coluna, pensativo, e junto dele o Jau erguido em pé, pede esmola no chapéu para o Poeta; duas figuras, a certa distância, de um cavalheiro e uma senhora vão retirando-se, e do lado direito do quadro, no topo, se vê um edifício. 

A cara do Poeta é bem pintada, tem dignidade, e representa uma cabeça não vulgar, e cheia de inspiração e tristeza, as mãos e os braços mirrados representam a pobreza; é pena que não seja o retrato do Poeta. 

O resto do quadro me pareceu anacrónico, tanto no que diz respeito ao edifício, como às duas personagens, que estão vestidas com um vestuário muito mais moderno.

Estas são as impressões que me inspirou este quadro nos poucos momentos que tive para o examinar. Pertence a Sua Magestade o Sr. D. Fernando."
Visconde de Juromenha, 1807-1887
Obras de Luís de Camões. Vol. I, 1860, p. 421-2.



Camoes et son esclave mendiant

"A pintura ilustra o poeta português do século XVI Luís de Camões com o seu criado javanês Jau. Luís de Camões é considerado um dos maiores poetas de Portugal, mas [diz-se que] morreu na pobreza. O artista pintou a lenda que descreve como o empregado doméstico Jau ia mendigar à noite em Lisboa para sustentar o seu senhor miserável.

A cena passa-se provavelmente numa praça do centro antigo de Lisboa que ainda hoje leva o nome do poeta (Praça Luís de Camões) e onde se encontra a sua estátua.

Hoje, esta pintura deve ser vista no 'zeitgeist' do século XIX, em que o colonialismo fazia parte do contexto político europeu e os servos pessoais eram mais comuns."

Description ENG

'Camoes et son esclave mendiant', 1853
Canvas. Signed and dated 'Ernest. Slingeneijer. 1853.'.
Title on copper plaque.

The painting illustrates the 16th-century Portuguese poet Luís de Camões with his Javanese house servant Jau. Luís de Camões is considered one of Portugal's greatest poet, yet he died in poverty. The artist painted the legend that describes how the house servant Jau went begging at night in Lisbon to support his penniless master.

The scene probably takes place in a square in the old city centre of Lisbon which is still named after the poet today (Praça Luís de Camões) and where his statue is located.

Today this painting should be seen in the 'zeitgeist' of the 19th century in which colonialism was part of the European political context and personal servants were more common.

Description FR

'Camoes et son esclave mendiant', 1853
Toile. Signée et datée 'Ernest. Slingeneijer. 1853.'.
Titre sur plaque en cuivre.

Le tableau représente le poète portugais du 16ème siècle Luís de Camões avec son domestique javanais Jau. Luís de Camões est considéré comme le plus grand poète du Portugal, mais il est mort dans la pauvreté. L'artiste dépeint ici la légende romantique selon laquelle son domestique Jau allait mendier la nuit à Lisbonne pour soutenir son maître.

La scène se déroule probablement sur la place de la vieille ville de Lisbonne, qui porte encore aujourd'hui le nom du poète (Praça Luís de Camões) et où se trouve également son monument.

Le sujet doit être interprété dans l'esprit du 19ème siècle, où le colonialisme faisait partie du contexte politique européen.

Beschrijving NL

'Camoes et son esclave mendiant', 1853
Doek. Getekend en gedateerd 'Ernest. Slingeneijer. 1853.'.
Titel op koperen plakketje.

Op het schilderij zien we de zestiende eeuwse Portugese dichter Luís de Camões met zijn Javaanse huisdienaar Jau. Luís de Camões wordt aanzien als Portugals grootste dichter maar hij stierf in armoede. De kunstenaar verbeeldt hier de romantische legende dat de huisdienaar Jau 's nachts in Lissabon ging bedelen om zijn berooide meester te steunen.

De scène speelt zich waarschijnlijk af op een plein in het oude centrum van Lissabon, dat vandaag nog steeds vernoemd is naar de dichter (Praça Luís de Camões) en waar ook zijn monument staat.

Het werk dient vandaag natuurlijk gezien te worden in de tijdsgeest van de 19de eeuw waarin kolonialisme deel uitmaakte van de Europese politieke context en persoonlijk dienstpersoneel meer courant was.


Fonte da imagem do cabeçalho e do texto:
leilões on-line



  1. Retrato do pintor Ernest Slingeneyer, por Joseph Dupont. - Na Wikipedia. 
  2. "Camoes et son esclave mendiant", 1853, pormenor mostrando o título e a autoria no manuscrito de "Os Lusíadas". - Imagem na leiloeira Invaluable.
  3. Bailarina com pandeiro, obra de Ernest Slingeneyer. - Na Wikipedia.