2016/04/02

"A fermosura desta fresca serra", soneto de Luís de Camões

"Praia das Maças", 1918 - por José Malhoa















A fermosura desta fresca serra
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos of'rece,
me está, senão te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enjoa e me avorrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mór tristeza. 

Luís de Camões


Fonte:
Lírica completa - II [Sonetos], org., pref. e notas de  Maria de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., revista, Lisboa: INCN, 1994, p. 212.