CAMÕES
erros meus, má fortuna, amor ardente
FILME
Estreia em 20 SET. 1946 | S. Luiz, Lisboa
A preto e branco | 118 min.
Realização:
José Leitão de Barros
Assistente de realização:
Carlos Ribeiro, Alejandro Perla, Fernando Macedo, Carlos Marques,
Celestino Soares, Óscar Acúrcio, João Moreira, Fernando Silva
Argumento:
Leitão de Barros , António Lopes Ribeiro
Revisão de diálogos:
Afonso Lopes Vieira
Produção:
António Lopes Ribeiro
Montagem
Vieira de Sousa
Música:
Ruy Coelho
Som: Francisco Quintella
Direcção de fotografia:
Manuel Luís Vieira, Francesco Izarelli
Cenários:
Vasco Regaleira, Rui Couto, Pierre Schild
Assistente de decoração:
Manuel Lima, João Barros, Jorge de Sousa,
Armando Pires, Joaquim Esteves
Guarda-roupa:
Paula Lopes, Álvaro Costa
Chefe de indumentária:
Alberto Anahory, Maria da Paz d'Orey
Empresa de guarda-roupa:
Paiva, Sastreria Cornejo, Peris Hermanos, Vazquez
ELENCO:
O Poeta e seus contemporâneos:
António Vilar (Luís de Camões)
José Amaro (Dom Manuel de Portugal)
Igrejas Caeiro (André Falcão de Resende)
Paiva Raposo (Pero de Andrade Caminha)
António Góis (Pedro Nunes)
Amigos de Camões:
João Amaro (amigo),
Baltazar de Azevedo (amigo), Carlos Velosa (amigo)
Figuras femininas:
Leonor Maia (Leonor) | Idalina Guimarães (Inês)
Maria Manuela Fernandes (Dinamene) | Dina Salazar (Burguesa de Coimbra)
Eunice Muñoz (Beatriz da Silva) | Carmen Dolores (Catarina de Ataíde)
Lúcia Mariani (Guiomar Blasfé) | Maria Brandão (a rainha D. Catarina)
Julieta Castelo (infanta D. Maria) | Regina Montenegro (aia da infanta)
Cacilda de Albuquerque (Isabel)
Virgínia de Vilhena (Luísa), Joselina Andrade (a outra prima)
Isabel de Carvalho (dama que dá o mote)
Família de Natércia:
Mário Santos (pai de Natércia) | Josefina Silva (mãe de Natércia),
Amigos de Pero de Andrade de Caminha:
Manuel Lereno (amigo) | Carlos Moutinho (amigo)
Júlio Pereira (amigo) | Eduardo Machado (amigo)
Realeza:
João Villaret (D. João III de Portugal)
Armando Martins (D. Sebastião, Rei de Portugal).
Censores e Impressores:
José Vítor (Frei Bartolomeu Ferreira)
Sales Ribeiro (impressor António Gonçalves)
Do Mal-Cozinhado
Vasco Santana (Mal-Cozinhado)
Olga Fernandes (dama de aluguer) | Maria Julieta (dama de aluguer)
Álvaro da Fonseca (freguês) | Vilar de Miranda (freguês) | Mário Lázaro (freguês)
Outras figuras:
Celestino Soares (camareiro-mor) | Celestino Ribeiro (homem das velas)
Mário Ramsky (mestre de baile)
Alfredo Henriques (alcaide) | Assis Pacheco (D. João da Silva, regedor das Justiças)
José Paulo (Jorge da Silva) | Fernando de Oliveira (amigo de Jorge da Silva)
Costinha (Gaspar Borges) | Ferreira da Cunha (pintor)
António Silva (cabo dos meirinhos) | Virgílio Macieira (1º meirinho)
Sinopse:
Filme realizado por José Leitão de Barros, que relata a vida aventurosa de soldado e a escrita genial de poeta desse grande português - Luís Vaz de Camões: desde os tempos juvenis e irreverentes em Coimbra, o "amor ardente" iludido ou contrariado, o guerreiro da "má fortuna", a sua errância pelo Oriente e terras do Índico, até ao seu regresso à pátria, com a leitura de "Os Lusíadas" (1572), em Sintra...
CAMÕES de Leitão de Barros
por Jorge Leitão Ramos
“Camões” é um caso sem paralelo na História do Cinema Português. A sua singularidade começa no fausto da produção, para a qual foram canalizados meios nunca antes (nem depois...) disponíveis na nossa cinematografia – em boa medida providenciados pelo Estado, já que o Governo considerou o filme de «interesse nacional» – e bem expressos no aparato cenográfico, de guarda-roupa e de elenco, prossegue na audácia do próprio tema (uma biografia de Camões, símbolo central da ideia de portugalidade que o nacionalismo salazarista celebrava), conclui-se no extenso sucesso que o filme obteve (com entrada no 1.º Festival de Cannes, em 1946, e tudo).
Sobre ele afirmou António Ferro ser ‘uma grande obra, um grande fresco cinematográfico que honra não só o cinema nacional como constitui padrão da sensibilidade portuguesa, marco da sua epopeia, tapeçaria movediça da sua glória’, e que ‘se não ganhou em Cannes o prémio que merecia, apesar das palmas que interromperam a sua exibição, foi apenas porque nesse concurso e nesse momento, o nacionalismo elevado, puro, não estava na moda’.
Por todas as razões “Camões” é um momento indeclinável do cinema português? Por todas as razões menos por uma: os seus méritos estéticos. Com efeito a retórica empolada que lhe está na matriz (e de que a interpretação de António Vilar, no protagonista, é expoente) cobre-o de um manto de incredulidade e de ridículo de que não é possível sair nem elidir. Cenas como as da invenção de ‘Descalça vai para a fonte / Leonor pela verdura...’, a da intuição dos Lusíadas (ambas, na época, saudadas por Augusto Fraga, no "Século", como ‘momentos culminantes’ do filme) ou a sequência final são exemplos acabados de uma falta de fôlego irremível, de um cinema poeirento e com barbas na pior de todas as tradições de representação.
E quanto à verdade histórica da fita, logo à época houve quem a contestasse, sendo o caso mais paradigmático o de Alfredo Pimenta que, n’"A Nação", lhe chamou ‘monstruosidade... a mais escandalosa deturpação da vida de Camões’. Foi, todavia, voz muito minoritária, o diapasão geral da recepção na Imprensa afinou por tom entusiástico.
Mas se “Camões” não é (e nunca foi) um grande filme, vê-lo, desapaixonadamente, agora, tem lições várias. A maior de todas é constatar como os únicos intérpretes que aguentam a travessia incólumes se chamam Eunice Muñoz – ainda não tinha dezoito anos e assim se estreava no cinema – e João Villaret ou, em ‘intermezzos’ de natureza pícara, Costinha, Vasco Santana e António Silva.
Não é inútil, também, olhar a invenção cenográfica (muito ao estilo Exposição do Mundo Português, mas mesmo assim...).
E, sobretudo, é assaz proveitoso meditar numa obra que a propaganda oficial do Estado Novo apresentava como modelo."
Jorge Leitão Ramos
in Dicionário do Cinema Português 1895-1961
Lisboa: Editorial Caminho / Leya, 2012, p. 67.
Texto reprod. pelo autor na sua página do Facebook, 10.06.2022.
- José Leitão de Barros, professor, cineasta, jornalista, dramaturgo e pintor português.
- O filme "CAMÕES" em siporte DVD. - Apesar das críticas, o público tem acolhido a obra, que tem sido divulgada em diferentes suportes materiais, de acordo com a evolução técnica dos multi-média.
para saber +
Luís de Pina
"Camões, de Leitão de Barros"
In História do Cinema Português
Lisboa: Europa-América, 1986.
José Leitão de Barros | Wikipédia
Programas TV: Camões | in RTP [online]
Alfredo Pimenta
In "A Nação", n.º 41 (30.11.1946), p. 1-10.
Texto reprod. no blogue Nonas, 25.6.2008
in IMDb
Redação: 16.06.2016, atualizado em 8.06.2024