Primavera, por Émile-René Ménard (1861–1930)
Se as penas com que Amor
tão mal me trata
quiser que tanto tempo viva
delas
que veja escuro o lume
das estrelas,
em cuja vista o meu se
acende e mata;
e se o tempo, que tudo
desbarata,
secar as frescas rosas
sem colhê-las,
mostrando a linda cor das
tranças belas
mudada de ouro fino em
fina prata;
vereis, Senhora, então também
mudado
o pensamento e a aspereza
vossa,
quando não sirva já sua
mudança.
Suspirareis então pelo
passado,
em tempo quando
executar-se possa
em vosso arrepender minha
vingança.
Luís de Camões
Fonte:
Lírica completa - II
[Sonetos], org., pref. e notas de Maria
de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., revista, Lisboa: INCN, 1994, p. 149.