A CAMÕES
Quando n’alma pesar de tua raça
a névoa da apagada e vil tristeza,busque ela sempre a glória que não passa,
em teu poema de heroísmo e de beleza.
Gênio purificado na desgraça,
tu resumiste em ti toda a grandeza:
poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
o amor da grande pátria portuguesa.
E enquanto o fero canto ecoar na mente
da estirpe que em perigos sublimados
plantou a cruz em cada continente,
não morrerá sem poetas nem soldados
a língua em que cantaste rudemente
as armas e os barões assinalados.
Manuel Bandeira
In A cinza das horas. Rio de Janeiro, 1917.
Manuel Bandeira (1886-1968)
nasceu no Recife em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1968.
Foi crítico literário e de arte, tradutor, professor de literatura e escritor.
Autor, entre outros, dos livros de poesia A cinza das horas (1917) e Libertinagem (1930).