2017/06/11

A Camões, poema-homenagem por Manuel Bandeira

A CAMÕES



Quando n’alma pesar de tua raça
a névoa da apagada e vil tristeza,
busque ela sempre a glória que não passa,
em teu poema de heroísmo e de beleza.


Gênio purificado na desgraça,
tu resumiste em ti toda a grandeza:
poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
o amor da grande pátria portuguesa.

E enquanto o fero canto ecoar na mente
da estirpe que em perigos sublimados
plantou a cruz em cada continente,

não morrerá sem poetas nem soldados
a língua em que cantaste rudemente
as armas e os barões assinalados.

Manuel Bandeira

In A cinza das horas. Rio de Janeiro, 1917.

   Manuel Bandeira (1886-1968)
nasceu no Recife em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1968.
Foi crítico literário e de arte, tradutor, professor de literatura e escritor. 
Autor, entre outros, dos livros de poesia A cinza das horas (1917) e Libertinagem (1930).