2021/06/13

Capela Ultramarina canta Camões


Capela Ultramarina
(fotomontagem com o sexteto)




Capela Ultramarina, 2016. - Foto de Kristina Augustin



Um cancioneiro para Luis de Camões

 


Descalça vai pela neve (Rimas, 1614, fls.176v) 
sobre “Pensando que se acabava”, CMP, Fls. 55v-56.

(Obras Completas, Tomo III, 1843, fls. 102-103) 
sobre “Adonde estás Alma mia”, CMP, fls. 112v-113


Muito Sou meu enemigo (Rimas, 1614, fls. 164-164v)
sobre “Ay que biviendo no bivo”, CMP, Fls. 0v-.

Não sei se m’engana Helena (Rimas, 1614, fls. 181-181v)
sobre “Lo que queda és lo seguro”, CME, fls.47v-48 e CMP, fls. 19v-20.

Não tragais borzeguis pretos (CMBP, n.º 130, fls. 129v-130)

Música: “Vi chorar huns claros olhos” (Rimas, 1616, Segunda Parte, fls. 31v.-32), 
sobre “Dipues viene delaldea”, CMP, Fls. 88v-89.

Pastora da Serra (Rimas, 1616, Segunda Parte, fls.35,35v,36) 
Música “Quién te hizo, Juan pastor”, CMP, fls. 3v-4

Perguntais-me, quem me mata? (Rimas, 1614, fls. 183) 
Música "Quierese morir anton”, CME, fls. 40v-41

Porque me não ves Joana (CME n.º 20, fls. 58v-59)

Que he o que vejo (CME n.º 32, fls. 70v-71)









A cantar vma Cantiga

Cantigas e Vilancetes Portugueses do Século XVI 

do Cancioneiro de Paris


Capela Vltramarina

Álbum Completo (2019)










CANCIONEIRO


1. Perdi a esperança  - 0:00  (CMBP nº 10 - fls. 9v-10) Soprano, alto, tenor, flauta, violas, adufe.
2. Se me a mym não casam 2:12                     (CMBP, fls. 18v-19) Soprano, alto, tenor, flauta, violas, pandero quadrado.
3. Lágrimas de saudade 5:42                           (CMBP n.º 24, fls. 23v-24) Soprano, alto, tenor, baixo, flauta, violas, bendir.
4. Partir não m'atrevo 14:32                            (CMBP, fls.25v-26) Soprano, alto, tenor, viola de mão em mi.
5. Vida da minh’alma 20:03                            (CMBP, fls. 44v-45) Soprano, alto, tenor, flauta, violas, bendir.
6. Pois tudo tam pouco dura 23:56                (CMBP, fls. 92v-93) Soprano, tenor, baixo, violas.
7. Nam vos acabeis tam cedo 30:45               (CMBP, fls. 99v-100) Soprano, tenor, baixo, violas.
8. Bem sei que minha tristura 33:35              (CMBP, n.º 104, fls. 103v-104) Soprano, alto, tenor, flauta, violas.
9. Já não posso ser contente  - 37:21                (CMBP n.º 105, fls. 104v-105) Soprano, alto, tenor, flauta, violas.
10. Quem quiser comprar huma vida 41:10 (CMBP n.º 53, fls. 106v-107) Alto, tenor, baixo, flauta, violas, bendir.
11. Nam m'espanto já de não 44:32                (CMBP, fls. 110v-111) Soprano, alto, tenor, flauta, violas, bendir marroquino.
12. Do vosso bem querer, senhora 47:28      (CMBP, fls. 115v-116) Soprano, alto, tenor, flauta, violas, bendir.
13. Foyse gastamdo a esperança 50:37          (CMBP, fls. 118v-119) Soprano (alto, tenor), flauta, violas.
14. Na fomte está Lianor 55:10                        (CMBP n.º 66, fls. 119v-120) Soprano, alto, tenor, flauta, violas.
15. No val das mais belas 1:01:42                    (CMBP, fls. 50v-51) Soprano, alto, tenor, flauta, violas, tambor de alfaia.







Para saber +




Site oficial do grupo.

Capela Ultramarina, versão 2016.





Por um Cancioneiro Musical de Luis de Camões, seminário por Fábio Vianna Peres


GRUPO DE INVESTIGAÇÃO POÉTICAS EM LÍNGUA PORTUGUESA (PLP)

(No âmbito do projeto de investigação “Reescrever o séc. XVI”)

“Cantar Camões”
Por um Cancioneiro Musical de Luis de Camões

Fábio Vianna Peres – São Paulo/Brasil

Seminário online

11 / junho / 2021

11h-13h (hora de Portugal continental) / 7h-9h (hora do Brasil)

Contacto: micaelar@ilch.uminho.pt / dircehum@ilch.uminho.pt

"A produção poético-musical portuguesa quinhentista foi conservada em quatro cancioneiros de mão. Estes são os únicos documentos que trazem, além da poesia, música escrita. Apesar do número relativamente pequeno de documentos musicais diante da imensa produção poética do período, podemos afirmar que a poesia em redondilhas e em especial aquela escrita nas formas fixas da cantiga, do vilancete e do romance, tinham carácter musical e eram entoadas musicalmente no contexto da vida cortesã quinhentista.

Em um destes cancioneiros, o de Paris, é possível identificar alguns motes musicados que são coincidentes com motes glosados por Camões, reunidos já na primeira edição de suas Rythmas, em 1595.

A partir de concordâncias identificadas entre as redondilhas de Luis de Camões com o material poético musical do Cancioneiro de Paris, é possível propor a criação de um Cancioneiro Musical com a obra do poeta.

Com a premissa de que existe uma musicalidade inerente à vocalização dos versos em redondilha, propomos a utilização de material musical proveniente dos cancioneiros musicais portugueses quinhentistas para dar uma “voz musical” a outras voltas escritas por Camões.

A pesquisa se materializa em um programa de concerto intitulado “Cantar Camões”, que traz voltas escritas pelo poeta adaptadas a melodias dos cancioneiros de Paris e Elvas."


Capela Ultramarina, “Cantar Camões”

Concepção, pesquisa, adaptações, arranjos e edições,
Fábio Vianna Peres

Fábio Vianna Peres, voz e vihuela
Roney Facchini, ator convidado
Carla Candiotto, direção cênica

Texto:
Soneto: “Amor, que o gesto humano na alma escreve”

Música:
“Na fonte está Leanor”
(Rimas, 1616, Segunda Parte, fls. 29v.-30)
Música “Na fonte está Lianor”, CMP, Fls. 119v-120






Fábio Vianna Peres, nota biográfica

Fábio Vianna Peres é n
atural de Niterói, no Rio de Janeiro, e vive em São Paulo desde 1997.
É músico e dedica-se à pesquisa e interpretação da música antiga segundo as práticas da interpretação historicamente informada. 
Nesse domínio, atua como cantor e instrumentista de cordas dedilhadas antigas - vihuela, guitarra de cinco ordens e teorba - com especial atenção ao repertório ibérico dos séculos XVI e XVII.
Criou a Capela Ultramarina, em 2000, ensemble focado na música dos cancioneiros portugueses quinhentistas e com o qual lançou o álbum “A cantar uma cantiga” (2019), com música do "Cancioneiro de Paris" escrita sobre poemas em língua portuguesa.
Integra também o Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) e é Diretor Artístico Assistente da Orquestra Municipal de Jundiaí.




2021/06/10

UT POESIS PICTURA – a receção artística portuguesa contemporânea à obra de Camões


Refrações Camonianas em Artistas do Século XXI – Vt Poesis Pictura


Ciclo de conversas com artistas plásticos
Exposição no Museu Nacional de Machado de Castro
& Projeto de artes em contexto educativo

2020-2021

Curadoria da Exposição:
Maria Bochicchio




Inauguração com a presença de:
o Presidente da República Portuguesa e a Ministra da Cultura
José Carlos Seabra Pereira, Coordenador Científico do CIEC
Ana Alcoforado, Diretora do MNMC
Manuel Machado, Presidente da CMC
Bernardo Alabaça, Diretor-Geral do Património Cultural


Artistas com obras expostas:

Pedro Calapez * Pedro Pousada * Pedro Proença
Zulmiro de Carvalho


Organização:
Grupo de trabalho "Poética e Retórica" do CIEC da Universidade de Coimbra
em parceria com o Museu Nacional de Machado de Castro e a Câmara Municipal de Coimbra.






Introdução ao evento / VÍDEO 
no programa Nada Será Como Dante
RTP2, 23 de Março 2021







I. Ciclo de conversas com artistas plásticos



Vídeo inaugural do ciclo de conversas.


A partir do dia 22 de fevereiro de 2022, foi realizado um ciclo de conversas com artistas plásticos, nas suas relações com o universo camoniano, no âmbito do programa "Refracções Camonianas em Artistas do Século XXI", organizado pelo grupo de trabalho "Poética e Retórica", em parceria com o Museu Nacional de Machado de Castro e a Câmara Municipal de Coimbra.

A sessão inaugural do ciclo foi no dia 22 de fevereiro, às 16h00, e contou com a direção do CIEC, o Prof. Doutor José Carlos Seabra Pereira e o Prof. Doutor Manuel Ferro, com a vereadora CMC, Doutora Carina Gomes, e a diretora do MNMC, Dra. Ana Alcoforado.

Os vídeos do ciclo de conversas foram apresentados semanalmente nos media do CIEC. Clique no nome do artista, ao lado da imagem, para ver o vídeo (entre 2-4 min.).







































II. A exposição “Refracções Camonianas em artistas do século XXI – Ut Poesis Pictura”


Inaugurada a 17 de novembro de 2020, a exposição "Refrações Camonianas em Artistas do Século XXI – Ut Poesis Pictura”, que se propunha revisitar “uma das figuras míticas do Humanismo português”, pôde ser visitada no Museu Nacional de Machado de Castro até 28 de abril de 2021. Foi comissariada por Maria Bochicchio, no âmbito do Grupo de Trabalho de "Poética e Retórica”. Na sua inauguração, pelas 17h, dignaram-se estar presentes Sua Exa. o Senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e Sua Exa. a Senhora Ministra da Cultura, Graça Fonseca.

Veja no seguinte registo vídeo reportagem da RTP sobre a referida inauguração.

Inauguração da exposição, 17.11.2020, às 15h.



Visita de Sua Exa. o Senhor Presidente da República, 20.11.2020









III. Projeto de artes em contexto educativo



“Tereis o Entendimento de Meus Versos”




“Tereis o Entendimento de Meus Versos” foi um projeto desenvolvido pela professora estagiária Márcia Gonçalves com a sua turma do 10º ano de Artes, da Escola Secundária Dr. Manuel Gomes de Almeida, em Espinho.

Foi realizado com a supervisão da Prof. Doutora Isabel Morujão, no âmbito do Estágio Pedagógico do Mestrado em Ensino do Português e de Língua Estrangeira da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

O projeto “Tereis o Entendimento de Meus Versos” é “constituído por desenhos que traduzem refrações camonianas em contexto educativo, refletindo a compreensão e o conhecimento de Camões pelos alunos”.

Fonte: página do CIEC no Facebook.


Clique nesta imagem para ver o vídeo.

 



Sinopse dos eventos:

“O CIEC [...] através da sua linha de investigação Poética e Retórica concebeu e, em parceria com o Museu Nacional de Machado de Castro e a Câmara Municipal de Coimbra, levou por diante um gesto propiciatório: o convite a um grupo altamente representativo de artistas plásticos para, na diversidade de orientações com que se têm distinguido os seus trajetos, manifestarem em obra original facetas do seu diálogo com o legado camoniano.

A consideração dos nexos que a nossa contemporaneidade artística estabelece com as grandes figuras da tradição cultural constitui questão nuclear na compreensão atual da criação estética.

Nesse quadro, avulta Camões, como mito vivo da cultura lusíada e autor cimeiro do cânone nacional (como Dante ou Cervantes); e a sua incerta vida, a sua forte e perturbadora personalidade, a sua obra inacomodada e fascinante (de alcance universal, como Shakespeare ou Goethe), continuam a interpelar e a estimular esses recetores qualificados que são os artistas dos nossos dias.

Daí esta singular convocação: o convite a um grupo altamente representativo de artistas plásticos para, na diversidade de orientações com que se têm distinguido os seus trajetos, manifestarem em obra original facetas do seu diálogo com o legado camoniano.”

Fonte: Descrição do evento no Facebook.





Para saber +

MN Machado de Castro, canal do Youtube










2021/06/07

O comentário do poema «Sôbolos rios que vão» por Faria e Sousa foi publicado pela Profa Maria do Céu Fraga











Evocação de Camões e de Faria e Sousa

VÍTOR AGUIAR E SILVA



No seu exílio em Londres, o último Rei de Portugal, D. Manuel II, constituiu uma riquíssima biblioteca de livros antigos portugueses, dedicando atenção especial à aquisição de bibliografia camoniana. A biblioteca camoniana de D. Manuel II, homenagem admirável a Camões, à língua e à cultura portuguesas, está integrada no Museu-Biblioteca da Fundação da Casa de Bragança, no Paço Ducal de Vila Viçosa. Deve ser sublinhado que o Conselho de Administração da Fundação, que teve entre os seus Presidentes o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, tem enriquecido o património legado por D. Manuel II, com a aquisição de relevantes espécies da bibliografia camoniana.

A Doutora Maria do Céu Fraga, professora da Universidade dos Açores e autora de notáveis estudos sobre Camões e sobre a literatura portuguesa do Renascimento e do Maneirismo, acaba de publicar um precioso livro intitulado Babel e Sião. Um manuscrito da Camoniana de D. Manuel II (Fundação da Casa de Bragança, 2021), no qual dá a conhecer, com sólido saber filológico e histórico-literário e com apurado sentido hermenêutico, um dos tesouros da Camoniana do último monarca português. Trata-se de um manuscrito autógrafo de Faria e Sousa (1590-1649), o inigualável comentador de Os Lusíadas (Madrid, 1639) e das Rimas varias (Lisboa, 1685 e 1689; edição póstuma levada a cabo por Pedro de Faria e Sousa, filho do célebre comentador). O manuscrito agora publicado constitui num caderno de trabalho do polígrafo seiscentista, um borrador que contém o comentário do poema «Sôbolos rios que vão» e um excurso sobre a história e a composição da redondilha como forma poética.

Fica-se assim a conhecer o comentário de Faria e Sousa a um dos grandes poemas da lírica camoniana, pois que a edição das Rimas varias não abrangeu a obra de Camões escrita na chamada medida velha. Com a sua vastíssima cultura literária, em sentido amplo, e com a sua prodigiosa memória textual, Faria e Sousa analisa minuciosamente e quase sempre com pertinência as relações intertextuais, no plano da forma e no plano do conteúdo, de «Sôbolos rios que vão» com textos gregos e latinos, medievais, renascentistas e maneiristas, demonstrando ao mesmo tempo a riqueza da poesia de Camões e a riqueza da cultura literária do seu comentador e intérprete. Mencionarei apenas um exemplo desta análise de relações intertextuais. Na décima vinte e oito – deixo suspenso o problema da composição em décimas ou em quintilhas do poema camoniano –, lê-se: 

Ouça-me o pastor e o Rei,
retumbe este acento santo,
mova-se no mundo espanto;
que do que já mal cantei
a palinódia já canto. 

Faria e Sousa comenta assim o último verso: 
«Quer dizer que dá o dito por não dito, isto é, que tendo cantado erros quer cantar acertos. O poeta Estesícoro escreveu contra Helena por ser causa da ruína de Tróia com a sua formosura; mas, aparecendo-lhe Castor e Pólux, cegaram-no por estes escritos e ele, tornando a desdizer-se, escreveu louvores de Helena e logo recuperou a sua vista: este foi o princípio disto a que se chama cantar a palinódia. Platão, no Fedr. : Palinodium cecimimus» (tradução de Maria do Céu Fraga). 

O comentário de Faria e Sousa invoca pertinentemente o Fedro (243a-243b) de Platão, que Camões teria conhecido direta ou indiretamente. Costa Pimpão, que no início da década quarenta do século XX travou uma breve polémica com Vergílio Ferreira sobre o conhecimento que Camões terá tido de Platão, gostaria de ter conhecido o comentário de Faria e Sousa que corrobora o seu ponto de vista.

Faria e Sousa, o príncipe dos comentadores de Camões nas palavras de Lope de Veja, fonte inesgotável para todos os camonistas – mesmo para aqueles como Storck, Carolina Michaelis e Costa Pimpão que o exautoraram –, ainda não recebeu de Braga, cidade onde fez os primeiros estudos, o reconhecimento simbólico que justamente merece.





 
 



Referência:
SILVA, Vítor Aguiar e  (2021) Evocação de Camões e de Faria e Sousa, in Diário do Minho, 6.06.2021.