2021/09/13

O que teria acontecido se Camões tivesse escolhido salvar a sua amada em vez da sua epopeia? – receção criativa pelo ficcionista Maicon Tenfen

Dinamene, por Maicon Tenfen

Projeto gráfico de Vilmar Schuetze e Jean Valim; ilustrações de Rubens Belli. 

Ituporanga, Santa Catarina, Brasil: Ronin / Ed. Salto Grande Ltda, 2021.

– Disponível na Amazon em formato Kindle e capa comum.




O autor sobre a escrita da sua narrativa:





A ideia de escrever um romance com a história de Dinamene é antiga. É claro que não me interessava reescrever a lenda conforme ela entrou para o imaginário. Era preciso mudar alguma coisa, e a primeira, sem dúvida, estava na decisão de Camões. Por que não salvar a mulher amada em vez de Os Lusíadas? Ao longo dos anos, lancei essa pergunta a meus alunos: quem vocês salvariam? Escrevi inclusive uma crônica, cujo fragmento abaixo vai esclarecer os que estão boiando com a minha conversa. Em certo momento de 2018, pus a mão na massa e comecei a escrever esse romance que chega agora em março.

In: Facebook, 29.01.2021


Fragmento da crônica A NAMORADA CHINESA:

Conta-se que Camões enfrentou vários naufrágios em suas andanças pelo Oriente. O mais famoso se deu na foz do Rio Mekong, quando uma tempestade pôs a pique a caravela em que viajava.

Na confusão que se seguiu, o poeta deparou com um dilema que atravessaria os séculos: de um lado, sumindo na imensidão das águas, viu a bolsa com o manuscrito d’Os Lusíadas; de outro, tomando os primeiros caldos e gritando por socorro, a sua bela namorada chinesa.

A quem salvar?

Veja que a solução do problema não era tão simples quanto pensam os apressados.

Camões imaginava que Os Lusíadas tornar-se-iam o poema mais importante do idioma. Símbolo máximo da cultura portuguesa, é composto por 8816 decassílabos simetricamente heroicos (com tônica na sexta e na décima sílabas de cada verso), algo muito difícil de fazer, trabalho que lhe consumiu anos e mais anos de reclusão.

E a namorada chinesa? Era doce e graciosa como um lírio num vaso de ouro, um pêssego em forma de gente, uma flor de tamareira. Dizem que se chamava Dinamene, tinha olhos verdes e declamava madrigais em português fluente e harmonioso.

Se Camões salvasse Dinamene, Os Lusíadas desapareceriam nas águas inclementes; se salvasse Os Lusíadas, Dinamene é que afundaria e morreria afogada. Mais que violenta, a tempestade não permitia a alternativa de socorrer a obra e a amada ao mesmo tempo. Ou uma, ou outra, e o poeta tinha menos de dois segundos para decidir.


[imagem, na página do Facebook do autor do livro]


Sinopse:

"Conta-se que Camões enfrentou vários naufrágios em suas navegações pelo Oriente. O mais famoso se deu na foz do Rio Mekong, quando uma tempestade pôs a pique a caravela em que viajava. Na confusão que se seguiu, o poeta deparou com um dilema que atravessaria os séculos: de um lado, sumindo na imensidão das águas, viu a bolsa com o manuscrito d’Os Lusíadas; de outro, gritando por socorro, a sua amada Tin Na Men. A quem salvar? 

Considerando que hoje o resumo de um dos maiores épicos da literatura universal está em todos os manuais de Língua Portuguesa da Europa, América, África e Ásia, fica claro que Camões ignorou as súplicas da namorada e mergulhou para salvar o manuscrito.

Esse é o ponto de partida de Dinamene, com a importante diferença de que aqui Camões não mergulha para salvar o poema, mas a mulher da sua vida. 

Conheceremos o poeta em sua dimensão mais romântica, assim como a enigmática Tin Na Men, ou Dinamene, uma habilidosa praticante de Kung Fu que se vê no meio de uma guerra familiar na China do século XVI.

A Macau recém-tomada pelos portugueses é o cenário de muitos encontros inesperados: da língua portuguesa com as artes guerreiras orientais, dos jesuítas ibéricos com os devotos da deusa A-Má, do mercantilismo europeu com os costumes chineses e de um aventureiro inconsequente com uma jovem destinada a um casamento convencional.

Uma história de amor e aventura cujo pano de fundo é a criação do Poema que forjou a identidade dos portugueses e fundamentou um dos idiomas mais difundidos do mundo." (in: Amazon/Facebook)



O autor


Maicon Tenfen nasceu em 1975 em Ituporanga, Santa Catarina, no Brasil.

É formado em Letras (1998) e entre 2000 e 2006 concluiu os cursos de mestrado e doutoramento em Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina.

É professor de Literatura Brasileira na FURB, Universidade de Blumenau; leciona oficinas de escrita criativa e coordena a equipe de roteiristas da série de animação televisiva “Boris e Rufus”.

Estreou-se literariamente em 1996 e desde então já publicou cerca de duas dezenas de títulos, compreendendo crónicas, contos, romances e ensaios. 

Destacam-se os contos reunidos em O Impostor (2006), os romances da série Quissama e a coletânea Ler é uma droga: crônicas sobre livros e leitura (2012). 

Colaborou como cronista no “Diário Catarinense” e no “Jornal de Santa Catarina.” 


Para saber +

GEARINI, Victória (20221) Dinamene: a saga de Camões e de sua amada, segundo obra, in AH – Aventuras na História, 26.04.2021.

PINHEIRO, Gonçalo Lobo (2021) Escritor brasileiro lança livro com Macau e Luís de Camões no enredo, in Ponto Final [online], 13.05.2021.

Pré-leitura (amostra) na Amazon.