Celebração do “Tricentenário de Camões”
1880
O TRICENTENÁRIO DE CAMÕES EM LISBOA
por Irisalva Moita
“Integrada nas comemorações do IV centenário da morte de Luís de Camões (1580-1980), promovidas pela Câmara Municipal de Lisboa, os Serviços de Museus Municipais organizaram, no Museu da Cidade, uma exposição Iconográfica e documental sobre as brilhantes cerimónias que assinalaram, há cem anos, em Lisboa, o tricentenário da morte do Épico que esteve aberta ao público entre junho e dezembro de 1980.
Com esta Exposição pretenderam chamar a atenção para o significado cultural, político e social daquele acontecimento, transformado mercê das profundas Incidências que teve naqueles campos, num dos mais importantes marcos da história portuguesa da segunda metade do século XIX, impondo definitivamente a identificação de Camões com a Nação.
Já em 1972, quando das comemorações do IV centenário da publicação de Os Lusíadas, os mesmos Serviços tinham tentado uma abordagem do assunto, numa pequena exposição que esteve patente no “foyer” do Teatro Municipal de S. Luís, de que demos notícia em “Lisboa e o seu Município nas comemorações camonianas”, publicada no n.º 134/135 de 1972 desta revista. O sucesso dessa pequena mostra animou-nos a retomar o assunto, dando-lhe, agora, uma maior amplitude.
Naturalmente, tanto na anterior, como na presente exposição, contentamo-nos em circunscrever o âmbito do acontecimento e seus reflexos a Lisboa, donde, aliás, partiu a iniciativa das comemorações e, onde estas alcançaram maior significado e importância, ainda que, na realidade, se tenham alargado a todo o Pais, estendendo-se mesmo ao Ultramar e ao Brasil. [...]
O sector da exposição dedicado propriamente ao Tricentenário de Camões em Lisboa foi, por sua vez, planeado visando os três seguintes aspetos:
I. O programa da celebração do Terceiro Centenário da morte de Camões e as principais figuras intervenientes nos acontecimentos.
II. As cerimónias que integraram as comemorações do Tricentenário em Lisboa.
III. O Tricentenário da Morte de Camões, nas artes, e na literatura, na política e na sociedade.
Porque a exposição, quando patente ao público, apenas dispôs dum catálogo policopiado, vamos dar, de cada uma das epígrafes enunciadas, uma pequena notícia, seguida da redação das principais espécies iconográficas, bibliográficas e documentais com que se encontrava ilustrada. Parece-nos importante fazer uma resenha da documentação exposta, não só por uma questão de arrumação dos materiais reunidos, mas porque foi possível apresentar algumas espécies pouco conhecidas ou, mesmo, anda não utilizadas.
I. O programa da celebração do Terceiro Centenário da morte de Camões e as principais figuras intervenientes nos acontecimentos.
Por iniciativa da corporação da imprensa jornalística de Lisboa, constituiu-se, em março de 1880, uma Comissão Executiva para a celebração do Terceiro Centenário da Morte de Camões, presidida por Ramalho Ortigão, e de que faziam parte, Teófilo Braga, Eduardo Coelho, Luciano Cordeiro, Rodrigues da Costa, Pinheiro Chagas, Jaime Batalha Reis, Magalhães Lima e Rodrigues Pequito, que esteve na origem e foi o verdadeiro motor de arranque da ideia. Esta Comissão que obteve, desde o início, o apoio da Sociedade de Geografia e da Academia das Ciências, colheu, também, de imediato, a adesão ao Município lisbonense, a que presidia, na altura, José Gregório de Rosa Araújo, e das mais variadas corporações, associações, estabelecimentos de ensino, casas de espetáculo, etc., da capital.
A Comissão Executiva da Imprensa
promotora do tricentenário de Camões
in “Occidente”, III, 128, 1880.
A Comissão Executiva da Imprensa, à qual coube coordenar as várias iniciativas, e que, em resposta ao apelo, lançado nos jornais, e aos convites que enviara, recebera adesões dos mais diversos quadrantes da sociedade, arranca em abril, com o Programa da celebração em Lisboa do Terceiro Centenário de Luís de Camões, do qual constavam um grande numero de atos, cerimónias e iniciativas, algumas das quais, contando com a presença e apoio do soberano ou do governo, revestiram-se de carater público e oficial; outras, partindo de instituições culturais, associações de classe, agremiações de caráter privado, etc., tiveram âmbito mais restrito, limitando-se, por vezes, a assinalar o acontecimento, com uma conferência, um espetáculo ou uma exposição; outras, ainda, preferiram comemorar o acontecimento, promovendo realizações duradouras, fundações e instituições de caráter permanente (escolas, bibliotecas, asilos, etc.) ou instituindo organismos associativos (grémios, associações, sindicatos, etc.)
A ilustrar este setor encontravam-se expostas as seguintes espécies:
- Ampliação fotográfica da gravura A Comissão Executiva da Imprensa e os artistas que delinearam os carros triunfais da Procissão Cívica, publicada em “Ocidente”, II, 128, 1880;
- Busto de D. Luís (mármore), assinado por Anatole Calmeis;
- Busto de Teófilo Braga (gesso) assinado por A. Teixeira Lopes;
- Retrato de Rosa Araújo (óleo), por Miguel Ângelo Lupi;
- Retrato de Luciano Cordeiro, litografia colorina (cedida pela família Cordeiro de Sousa);
- uma série de Retratos-Caricaturas de algumas figuras intervenientes nos acontecimentos (Luís de Camões - o Trinca-Fortes, Anselmo José́ Braamcamp, Ramalho Ortigão, D. Luís e D. Fernando),
- litografias coloridas do “Álbum das Glórias”, por Rafael Bordalo Pinheiro, (1880-1882);
- Programa da celebração em Lisboa do Terceiro Centenário de Luís de Camões, Lisboa, 1880 (exemplar anotado que serviu a Rodrigues Pequito para ordenar e dirigir a saída do Cortejo Cívico do Terreiro do Paço);
- Arquivo Municipal de Lisboa referente ao ano de 1880, no qual se encontram publicadas as atas das sessões em que foram tratados assuntos referentes ao Tricentenário (cerca de 23 Atas), com destaque para a Acta da Sessão de 1 Junho de 1880, durante a qual o Vereador Elias Garcia apresentou o programa das iniciativas da Câmara para as comemorações;
- Esboço de uma proposta da participação da Câmara Municipal àqueles festejos (manuscrito do Arquivo Histórico Municipal, Pasta do Tricentenário de Camões, Doc. n.º 1, 1880), dois modelos da circular-convite que a Comissão da Imprensa enviou a várias instituições e grupos (Coleção da Família Cordeiro de Sousa), etc.
II. As cerimónias que integraram as comemorações do Tricentenário em Lisboa.
1. Trasladação das cinzas de Camões e Vasco da Gama para a Igreja dos Jerónimos
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2. Inauguração do Bairro Camões
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3. O Cortejo Cívico do dia 10 de Junho de 1880
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por Enrique Casanova
por Enrique Casanova
MC.DES.4525
Carro Triunfal da Imprensa
por Enrique Casanova
Carro Triunfal da Marinha
por Enrique Casanova
MC.DES.4523
Carro Triunfal da Sociedade de Geografia de Lisboa
por Enrique Casanova
MC.DES.4522
Carro Triunfal das Artes
por Enrique Casanova
MC.PIN.0138
por Enrique Casanova
MC.PIN.0137
4. O Banquete oferecido à Imprensa e à Câmara Municipal de Lisboa, no dia 4 de Julho de 1880
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5. Outras homenagens e manifestações
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III. O Tricentenário da Morte de Camões, nas artes, e na literatura, na política e na sociedade.
1. Nas Artes e na Literatura
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2. Na Política e na Sociedade
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*Fonte:
MOITA, Irisalva – O tricentenário de Camões em Lisboa numa exposição comemorativa do quarto centenário da morte do poeta, in Revista municipal: Lisboa. – Publicação cultural da Câmara Municipal de Lisboa. Ano XLIII, 2.ª série, n.º 2 (1982), número dedicado ao Poeta, p. 35-60.