Comédia Aulegrafia
de Jorge Ferreira de Vasconcelos (1515-1585)
7 julho a 24 julho 2022
quintas / sextas / sábados/ domingos, às 21h
Nos claustros do Convento da Graça
Uma dramaturgia e encenação de Silvina Pereira
Com interpretação de:
Ana Sofia Santos, Bruno Vicente, Guilherme de Bastos Lima,
Guilherme Filipe, Jan Gomes, João Didelet, Júlio Martín, Lita Pedreira,
Mário Abel, Miguel Freire, Miguel Vasques, Sara Machado, Tiago de Almeida
Silvina Pereira sobre a "Comédia Aulegrafia"
"A Comédia Aulegrafia, como o seu próprio nome indica, inspira-se na vida da Corte. Textualmente quer dizer escrita sobre o paço, sendo “hum largo discurso da cortesania vulgar” que pretende mostrar “ao olho o rascunho da vida cortesã, representada per corrente e aprazível estilo”.
Nela se fala das intrigas amorosas do paço real, do vício da aderência, tendo como pano de fundo a fuga dos homens para a Índia. Uma comédia “em que vereis uma pintura que fala”, nas palavras de Jorge Ferreira de Vasconcelos. Uma caracterização da sociedade feita pelo cómico. As personagens são damas da Corte, nobres fidalgos, cavaleiros pobres, criados, um mulato fanfarrão, um aventureiro castelhano procurando vida em terras de Portugal.
O argumento desta intriga palaciana da Lisboa Quinhentista é de grande simplicidade. Como nos diz o autor no prólogo, “Grasidel de Abreu amante servidor de Filomela”, inesperadamente, vê-se abandonado e depois trocado por um outro servidor que goza dos favores da cortesã Aulegrafia.
No enredo desta história/fábula tudo começa e acaba com a acção da Aulegrafia. Desde o início da comédia que os dados estão lançados por ela. Impressiona ver uma personagem com um projeto de intriga tão inexorável como a que tem a personagem Aulegrafia. A propósito desta figura, Isabel Almeida adverte que não estamos perante uma alcahueta típica. Esta Aulegrafia “sabe mays cautelas que hum Legista, pode ler as leys do Paço como Bartolo”, destoando completamente da “velha plebeia concebida por Fernando de Rojas”.
Aulegrafia gere a sua intriga com maldade e, embora a motivação pareça ser o dinheiro e a cobiça, como vai sendo dito ao longo da comédia, desconfiamos que haverá outras razões, como a inveja e o ódio à felicidade dos outros. Embora o contexto social seja diferente, como diferentes são as razões e as consequências, a intriga que lago executa em Otelo, de Shakespeare, remetem-nos para esta personagem. Também aqui a mentira leva à destruição. Em Otelo, a mentira provoca o ciúme e o ciúme de Otelo provoca a morte de Desdémona. No caso da Comédia Aulegrafia, a mentira de Aulegrafia provoca a ruptura e a morte do amor de Filomela por Grasidel: “Sinta cada hum sua perda, & calese com ella, que eu assi o farey, segura de me arrepender”. Um tom que, por vezes, pouco tem de comédia."