Um *inédito* triplamente publicado
Em conversa informal com o Professor Felipe de Saavedra, da Rede Camões na Ásia (RCnA) - http://www.asia.pt ficámos a saber que o soneto de Camões anunciado hoje por vários órgãos de imprensa portugueses como "inédito" e recém-descoberto, foi já publicado em pelo menos três instâncias:
Edição princeps:
- em 1968, por Edward Glaser na ed. crítica do Cancioneiro de Manuel de Faria, p. 218.
A partir daí entrou nas edições que se seguiram dos sonetos de Camões:
- por C. Berardinelli na ed. dos Sonetos de 1980, p. 457 e 663.
- por M. L. Saraiva na ed. da Lírica Completa II de 1994, p. 485.
Também se encontra mencionado por Leodegário de Azevedo F. na Lírica de Camões, vol. 1, p. 241.
Vamos pois proceder aqui e agora à quarta edição deste belo soneto:
De Luis de Camões, a Christo atado a colunna
Se misericordia e amor não vos atara,
A corda per sy só se desfizera;
E, se isto deste modo acontecera,
Quem da prizão eterna me livrara?
Se amor, com vos prender, não me soltara,
Em cárcere infernal sempre estivera;
E, se do Ceo esse amor vos não decera,
Quem do inferno ao ceo me levantara?
Por demais forão gemidos nem oferta,
Se amor vos não tivera tão atado.
E cuidão cegos que a corda vos aperta!
E vos de amor estais tam apertado
Que so elle se acende e se desperta
Mais que algos contra vos, por meu pecado.
LUÍS DE CAMÕES
Fonte:Cancionero recopilado por Manuel de Faria. – Dedicado ao Conde de Haro em 1666, ms., f. 36.
Pontuação modernizada.
Atribuído a António Leitão.
Museu de Lamego
Cristo atado à coluna, 1565
Óleo sobre madeira de castanho.Atribuído a António Leitão.
Museu de Lamego