2022/08/27

Camonista - José Carlos Seabra Pereira






José Carlos Seabra Pereira, n.1949
Professor universitário, investigador, camonista.


José Carlos Seabra Pereira é licenciado em Filologia Românica (Univ. de Coimbra) e doutorado pelas universidades de Poitiers, França (1983) e Coimbra (2000).
Trabalhou como professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e da Universidade Católica; foi professor convidado no Instituto Politécnico de Macau. Investiga e leciona nas áreas de Teoria Literária e Literatura Portuguesa Moderna (Decadentismo, Simbolismo, Neorromantismo), de Estudos Camonianos e de Estudos Pessoanos (Modernismo).
Coordenador Científico do Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos é também vice-diretor da luso-brasileira Revista Camoniana. Pertence ao Conselho Executivo da Fundação Inês de Castro, presidindo ao júri do Prémio Inês de Castro. Tem integrado os júris dos principais prémios literários de Portugal e da CPLP, entre os quais o Prémio Camões.



 
 

Camoniana









Primeira epopeia / Luís de Camões

Coord José Carlos Seabra Pereira, Martinho Soares. 
Benfica: Círculo de Leitores, 2018. 

– [439, [9] p. (25cm). 
– Col. “Obras pioneiras da cultura portuguesa”, n.º 17, 
dir. José Eduardo Franco, Carlos Fiolhais.




  • (2018) “Introdução”, in Primeira epopeia / Luís de Camões. Coord José Carlos Seabra Pereira, Martinho Soares. S.l.: Círculo de Leitores, p. 7-39.
  • (2018) Os Lusíadas, na figuração de Levi Guerra. Coord. José Carlos Seabra Pereira, Margarida Negrais; fot. Marcos Oliveira. S.l.: Levi Guerra - CIEC. – [147, [1] p. : il. (31cm)].









"Na proto-história da literatura de Macau (Camões, F. Mendes Pinto, Bocage, Garrett)"

in O Delta Literário de Macau

de J C Seabra Pereira
Macau: Instituto Politécnico de Macau, 2015, 19-48.






  • (2015) Camões na Perspectiva do Modernismo, conferência, in Congresso Internacional "Orpheu 100". [...]
  • (2013) Novos reflexos da Inês camoniana, in Pedro e Inês: o futuro do passado. Coimbra: Associação de Amigos de D. Pedro e D. Inês, 61-83.
  • (2013) Carlos Queiroz e o efeito Camões: um “uso mais moderno¿?»", Diário de Notícias, Suplemento Quociente de inteligência. - [V. AA.VV - Carlos Queiroz (1907-1949) – Retrato de um poeta pelos seus amigos, Coimbra: CIEC, 2015].
  • (2012) Vasco Graça Moura mediador de Camões, As Artes entre as Letras, 2 (2012), 10-12.
  • (2012) Camões e a espiritualidade do seu tempo, in Maria do Céu Fraga et al, Camões e os Contemporâneos. Coimbra, Ponta Delgada, Braga: CIEC/ Univ. dos Açores/Univ. Católica Portuguesa, 117-154. – [Conferência de abertura do Colóquio Internacional Teografias III, Univ. de Aveiro, 20.06.2013].










Actas da VI reunião internacional de camonistas


Coord. José Carlos Seabra Pereira; Manuel Ferro.

Coimbra: Imprensa da Universidade, 2012.




  • (2012) Ainda Actéon na “Écloga dos Faunos” e a cisão na lírica camoniana, in Actas da VI reunião internacional de camonistas. Coord. José Carlos Seabra Pereira; Manuel Ferro. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 109-119.










"Reler Os Lusíadas em tempos de crise"

in Luís de Camões, Os Lusíadas


Lisboa: A Bela e o Monstro Edições, 303-311.




  • (2011) Inês de Castro (episódio de), in Vítor Aguiar e Silva, coord., Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Caminho, 444-449.
  • (2011) Camões e o(s) Modernismo(s) em Portugal, in Vítor Aguiar e Silva, coord., Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Caminho, 147-153.
  • (2011) Camões e o neorromantismo, in Vítor Aguiar e Silva, coord., Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Caminho, 167-172.
  • (2011) Augustinianismo em Camões, in Vítor Aguiar e Silva, coord., Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Caminho, 45-52.
  • (2009) Alotropia e desejo de plenitude na modernidade ocidental (com preâmbulo camoniano), in Utopias & Distopias. Coimbra: Imprensa da Universidade, 277-285.
  • (2009) A pena da escrita e o canto: de Camões a Pessoa, in Actas do Centre d'Études Lusophones de Genève, Filologia e Literatura, n.º 1, Lisboa: Colibri, 113-122.
  • (2007) Primeiros apontamentos sobre Camões no Neo-Romantismo português, Relâmpago, n.º 20 (2007), 61-90.
  • (2007) Notas sobre Camões e o(s) Modernismo(s) em Portugal, in Estudos Para Maria Idalina Rodrigues, Maria Lucília Pires, Maria Vitalina Leal de Matos. Lisboa: FLUL - Dep. Literaturas Românicas, 519-536.
  • (1999) A Fome de Camões e outros Destinos poéticos, Gomes Leal. Ed. de – . Lisboa: Assírio & Alvim.
  • (1984) Para o estudo das incidências augustinianas na lírica de Camões, in IV Reunião Internacional de Camonistas: actas. Ponta Delgada: Univ. Açores, 431-448.
  • (1984) Apontamentos sobre uma elegia augustiniana de Camões: “Se quando contemplamos as secretas”, in Afecto às letras: Homenagem da literatura portuguesa contemporânea a Jacinto do Prado Coelho. Lisboa: INCM, 329-35.









"Em torno das relações paragramáticas da poesia de Afonso Duarte com a obra de Camões"

in Do fim-de-século ao tempo de Orfeu


Coimbra: Almedina, 1979, 119-148.






2022/08/26

Dicionário dos Primeiros Livros Impressos em Língua Portuguesa


Dicionário dos Primeiros Livros Impressos em Língua Portuguesa

4 volumes, de A a Z

Responsável científico: Prof. Doutor José Barbosa Machado, 
docente da UTAD, evercial@gmail.com


"Depois de vários séculos de amadurecimento, a Língua Portuguesa de finais do século XV prefigura aquilo que será nos séculos seguintes. A produção literária da época, quer pela tradução de textos latinos e castelhanos, quer pela criação de obras originais, contribuiu para a maturidade da língua, permitindo o alargamento do léxico e o desenvolvimento da construção sintática com repercussões na capacidade de expressão.

A imprensa, que entrou em Portugal no reinado de D. João II, teve um papel fundamental na divulgação de textos e no desenvolvimento e maturidade da Língua Portuguesa escrita.

O dicionário, com mais de onze mil entradas, baseia-se no vocabulário das seguintes obras incunabulares: 




Dicionário dos Primeiros Livros Impressos em Língua Portuguesa

José Barbosa Machado

Livro eletrónico (ebook) e impresso em papel, 1.ª ed., 2015

Volume I - A-C
Volume II - D-H
Volume III - I-P
Volume IV - Q-Z


 
 

2022/08/25

Camonista - Roger Bismut

LES LUSIADES, a tradução francesa comentada de Roger Bismut






Roger Bismut, 1918-2001



Roger Raphaël Bismut, nasceu em Sousse, na Tunísia, a 7.09.1918 e faleceu em Paris em 23.02.2001.

Foi um académico francês, especialista em Maupassant, camonista e tradutor de comentador de Os Lusíadas para a língua francesa (1954, 1961, 1980, 1992, 1996).

Em 1970 defende uma tese sobre La lyrique de Camões, publicada no ano seguinte pelas Presses Universitaires de France (Paris: PUF. – 569 p, il.: 8 pág. fac-simile).

  


  

 








“Na verdade, desde 1890, ninguém se tinha arriscado a traduzir de novo Os Lusíadas. É preciso esperar até 1954 para ver publicada em Lisboa na editora Bertrand uma tradução nova, em prosa, distribuída em França pela sociedade de edição Les Belles Lettres. Roger Bismut foi quem se atreveu a esta tarefa. Traduziu com um cuidado meticuloso, sem eludir dificuldade alguma, numa prosa ritmada que faz corresponder a cada oitava um parágrafo. A sua edição vem enriquecida de notas eruditas, claras e precisas para as quais não apenas confrontou os comentários das edições anteriores, mas também procedeu a um trabalho considerável de pesquisa pessoal. As notas discutem as dificuldades de compreensão, esclarecem os problemas de léxico e de sintaxe, tanto como as alusões mitológicas, históricas e geográficas. Um índice dos nomes próprios completa o volume, que se torna obra de referência.

Les lusiades / de Luis de Camões. – Trad. Roger Bismut. Paris: Société d'Éditions "Les Belles Lettres"; Lisbonne: Librairie Bertrand, 1954. – [446 p: il. ; 23cm; col. Portugaise, 10]. – BNP: CAM. 446 V. / CAM. 1824 V. / CAM. 2048 V.











Depois de esgotada a primeira edição, uma segunda edição revista sucede-lhe em 1961, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, introduzida por uma «advertência preliminar» do lusófilo e tradutor Pierre Hourcade. Um dos melhores conhecedores de Camões, Hernâni Cidade, assina o prefácio.

Les Lusiades / Luís de Camões. Trad. Roger Bismut; Hernâni Antonio Cidade. Lisbonne : Fondation Calouste Gulbenkian, 1961. – [XXIV, 384 p., [1] mapa; 16cm]. – BNP: L. 16119 V. / J.S. 8618 / CAM. 928 P.














Uma terceira edição inteiramente revista e aumentada de uma notícia bibliográfica sai à luz em 1980: desta vez, a epopeia acaba de ser incluída entre as obras representativas da UNESCO.

Les Lusiades / Luis de Camões ; trad. Roger Bismut. Paris: Les Belles Lettres, 1980. – [XIV, 390, [3] p.; 24cm; ISBN 2-251-37050-1]. – BNP: CAM. 1727 V.










Esgotadas todas essas edições, em 1992, o Centro Cultural Calouste Gulbenkian de Paris e a Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses subsidiam uma edição bilingue monumental, apresentada por José V. de Pina Martins, com uma introdução de Roger Bismut, que mais uma vez reviu e melhorou o seu texto nesta ocasião, segundo explica na sua advertência preliminar.

Les Lusiades / Luís de Camões. – Edição bilíngue: português e francês. – “Traduction, introduction et notes”, Roger Bismut; “présentation” intitulada “Humanisme et modernité dans ‘Os Lusíadas’” (XI-XL) de José V. de Pina Martins. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian - Centre Culturel Portugais; Lisbonne: Commission Nationale pour les Commemorations des Decouvertes Portugaises, 1992. – [LV, 725, [2] p., [2] f. il. : il. ; 28 cm; ISBN 972-95100-3-2.]. – BNP: CAM. 1758 V. / CAM. 1972 V.









Esta edição limitada vai ser reproduzida num formato mais cómodo em 1996 pelo editor Robert Laffont na sua coleção de clássicos «Bouquins». Além do conteúdo da anterior, nela se encontram um segundo prefácio assinado por Eduardo Lourenço, intitulado «Uma epopeia singular», e dados cronológicos que permitem situar o autor e a obra no contexto europeu do século XVI. Esta edição excelente, acolhida favoravelmente pela crítica especializada, parece ter desanimado até hoje novos tradutores de Os Lusíadas. […]”

Les Lusiades = Os Lusíadas / Camões. – Édition bilingue portugais-français. Trad. Roger Bismut. Pref. com o título “Une épopée singulière” (VII-XIV) de Eduardo Lourenço. Paris: Robert Laffont, 1996. – [XL, 582, [12] p., 1 mapa; 20cm; col. Bouquins. – ISBN 2-221-08243-5]. – BNP: CAM. 1337 P.





In:
QUINT, Anne-Marie (2011) Receção de Camões na literatura francesa, in Dicionário de Luís de Camões, cord. Por Vitor Aguiar e Silva. Alfragide: Caminho, p. 804. - As imagens das capas e as referências bibliográficas completas são da responsabilidade do editor do post.




Camoniana:

  • (1997) Apresentação a: Lírica de Camões – vol. 3, tomo II: Odes, Leodegário A. de Azevedo Filho. Lisboa, INCM, 11-15.
  • (1983) Camões en procès sous la terreur, in Les Rapports Culturels entre le Portugal et la France. Paris: FCG - Centre Culturel Portugais, 251-263.
  • (1982) Uma versão francesa até hoje ignorada de Os Lusíadas, Colóquio/Letras, Lisboa, n.º 65, (jan. 1982), 62-64.
  • (1981) Camões en France, in Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XVI - Camões, Paris: FCG – Centro Cultural Português, 723-753.
  • (1978) Encore le problème de l’édition “princeps” de “Os Lusíadas”, in Arquivos do Centro Cultural Português, vol. XIII, Paris: FCG – Centro Cultural Português, p. 435-521
  • (1975) Recherches de vestiges de "Cantigas de Amigo" dans "Les Lusiades" de Luís de Camões, in Arquivos do Centro Cultural Português, vol. IX, Paris: Fond. Calouste Gulbenkian, 11 p.







Les Lusiades de Camões: confession d’un poéte

par Roger Bismut

Pref. José V. de Pina Martins
introd. Raymond Cantel.
 
Paris: FCG - Centro Cultural Português, 1974. 
– [XI, 247, [4] p.; 26 cm]. 
– BNP: CAM. 1697 V.


  • (1973) La critique textuelle des "Lusíades", in Actas da I Reunião Internacional de Camonistas. Lisboa: Com. Executiva do IV Centenário da Publicação de “Os Lusíadas”, 59-93.
  • (1972) Contribution à un centenaire: une tentative de rénovation épique, Les Lusiades de L. Camões. Lisboa: Comissão Executiva do IV Centenário da Publicação de "Os Lusíadas”. – [35, [1] p.; 24 cm]. – BNP: J.S. 997 / L. 22854 V. / ...
  • (1972) Camões et son oeuvre lyrique, in Arquivos do Centro Cultural Português, vol. X – Visages de Luís de Camões, Paris: FCG - Centro Cultural Português, pp. 33-53.
  • (1972) Camões et la Gréce: Conferénce proférée à Athenes, Bulletin d'information. Athènes: Ambassade de Portugal à Athénes.







La lyrique de Camões

Roger Bismut

Paris: FCG - Centre Culturel Portugais
Paris: PUF, 1970.

 – [569 p, il. : 8 p. fac-simil.; 24 cm]


  • (1969) Plaidoyer pour dynamene, Bulletin des Études Portugaises, publié par l’ Institut Français au Portugal. Lisbonne: Livraria Bertrand; Paris: Les Belles Lettres, 89-93.
  • (1951) Une nouvelle traduction des "Lusiades", Bulletin des Études Portugaises, publié par l’ Institut Français au Portugal. Lisbonne: Livraria Bertrand; Paris: Les Belles Lettres. – [28 p.; 24cm].

Alguma bibliografia acerca da obra de Bismut

  • CARVALHO, José Adriano de (1972) Recensão crítica a: 'La Lyrique de Camões', de Roger Bismut, Colóquio/Letras, n.º 7 (maio 1972), 90-92.
  • CORNIL, Simone (1974) Recensão crítica a: Roger Bismut, La lyrique de Camoes, Revue belge de philologie et d'histoire, tome 52, fasc. 3 (1974); Langues et littératures modernes - Moderne taal - en letterkunde, p. 672-674. – [https://www.persee.fr/doc/rbph_0035-0818_1974_num_52_3_3019_t1_0672_0000_2].
  • PEREIRA, Maria Helena da Rocha (1976) Recensão crítica a: 'Les Lusiades de Camões, confession d'un poète', de Roger Bismut, Colóquio/Letras, n.º 30 (mar. 19769, 93-96.
  • REIS, Carlos (1998) Recensão crítica a: 'Critique textuelle portugaise. Actes du Colloque (Paris, 24 oct. 1981)', de Eugenio et alii Asencio, Colóquio/Letras, n.º 106 (nov. 1988), 121-122.







Descobrir um novo Portugal com a viagem da epopeia camoniana, diz-nos Voltaire















Voltaire [François-Marie Arouet]
Paris, 21.11.1694 – Paris, 30.05.1778





"Le sujet de la Lusiades, traité par un homme aussi vif que le Camoues, ne pouvait que produire une nouvelle espèce d'Epopée. Le fond de son Poème n'est ni une guerre, ni une querelle de Héros, ni le Monde en armes pour une femme ; c'est un nouveau pays découvert à l'aide de la Navigation.

[...] il ressemble au voyage dont il est le sujet. Les aventures se succèdent les unes aux autres, & le Poète n'a d'autre art que celui de bien conter les détails. Mais cet art seul, par le plaisir qu'il donne, tient quelque fois lieur de tous les autres. Tout cela prouve enfin que l'ouvrage est plein de grandes beautés, puisque depuis deux-cents ans il fait les délices d'une Nation spirituelle […]"

Voltaire, Essai sur la poésie épique


Fonte:
Voltaire, Essai sur la poésie épiqueChapitre sixième: Le Camouens, in La Henriade, avec les variantes... : on y a joint [...] l'essai sur la poésie épique [...]. Tomo 2, Caen: chez G. Leroy..., 1787, p. 83, 86-87. / Reprod. em Œuvres complètes de Voltaire, Garnier, 1877.


2022/08/23

Encarar o nosso Camões a uma grande luz natural, por Camilo Castelo Branco

 





Camilo Castelo Branco (1825-1890)




O protagonista do sempre formoso poema [Camões, 1825] de Almeida Garrett é um Luís de Camões romântico, remodelado na fantasia melancólica de um grande poeta exilado, amoroso, nostálgico. A ideal tradição romanesca impediu, com as suas névoas irisadas de fulgores poéticos, passante de duzentos e cinquenta anos, que o amador de Natércia, o trovador guerreiro, fosse aferido no estalão comum dos bardos que imortalizaram, a frio e com um grande sossego de metrificação, o seu amor, a fatalidade do seu destino em centúrias de sonetos. Garrett fez uma apoteose ao génio, e a si se ungiu ao mesmo tempo príncipe reinante na dinastia dos poetas portugueses, criando aquela incomparável maravilha literária. Ensinou a sua geração sentimental a ver a corporatura agigantada do poeta que a crítica facciosa de Vernei e do padre José Agostinho apoucara a uma estatura pouco mais que regular.

Camões ressurgiu em pleno meio-dia do romantismo do século XIX, não porque escrevera Os Lusíadas, mas porque padecera de uns amores funestíssimos. O século XVIII citava-o apenas nos livros didáticos e nas academias eruditas, como exemplar clássico em epítetos e figuras da mais esmerada retórica. Tinha caído em mãos esterilizadoras dos gramáticos que desbotam sapientissimamente todas as flores que tocam, apanham as borboletas, pregam-nas para as classificarem mortas, e abrem lista de hipérboles e metáforas para tudo que transcende a legislatura codificada de Horácio e Aristóteles.

Luís de Camões, qual o figuram Garrett no poema trágico e Castilho no drama ultrarromântico, e as musas indígenas e forasteiras nas suas contemplações plangentes, é o que se requer que seja o mártir do amor, o soldado ardido, o talento menoscabado pela camarilha dos reis. Os maviosos sentimentalistas afizeram-nos a estas cores prismáticas – às refulgências das auroras e dos luares teatrais. Mal podemos encarar o nosso Camões a uma grande luz natural. Queremo-lo na tristeza crepuscular das tardes calmosas, na mesta solidão dos mares, nas saudades do desterro, no desconforto das primeiras precisões, vivendo da mendicidade do Jau – do escravo, como se alguma hora houvesse em Portugal escravos de procedência asiática – e das economias da preta, arrastando-se sobre moletas do adro de S. Domingos para o catre do hospital. Quem nos mostrar Camões à luz com que a história e a crítica indutiva elucidam as confusas obscuridades dos homens extraordinários – e por isso mais expostos à deturpação lendária – poderá avizinhar-se da verdade; mas, do mesmo passo, se desvia da nossa inveterada opinião, e talvez incorra em delito de ruim português.

Eu me vejo neste perigo e não me poupo às eventualidades da ousadia. Pretender exibir novidades inferidas de factos comparados e probabilidades em uma biografia tantas vezes feita e refeita, será irrisório atrevimento quando me as puderem contraditar com provas solidamente cimentadas.

[...]

Se Luís de Camões, em pureza de costumes, condissesse com a sobrexcelência do engenho, seria exemplar único de talento irmanado com o juízo. Não se conciliam as regras austeras da vida serena e pautada com as convulsões da fantasia. Amores de alto enlevo e de baixa estofa, o ideal de Catarina de Ataíde e as carnalidades das malabares e bailadeiras levantinas – o exalçar-se a regiões de luz divina e o cair nos tremedais do vulgo – essas vicissitudes que a si mesmo fazem o homem assombroso em sua majestade e miséria, tudo isso foi Camões, e em tudo isso foi semelhante aos génios eminentíssimos; mas nenhum homem como ele pôde redimir-se de suas fragilidades, divinizando os erros da imprudência, fazendo-se amar nos extravios, e imortalizando-se em um livro que, ao fechar de três séculos, alvoroça uma nação. É de nós todos esse tesouro [...].

Camilo Castelo Branco


In:
Camilo Castelo Branco - Luiz de Camões: notas biographicas. – “Prefacio da sétima edição do Camões de Garrett. Porto e Braga: Ernesto Chardron Editor, 1880.



2022/08/08

CAMONISTA - Felipe de Saavedra









Camonista, historiador, professor e diretor da RCnA
n. em Lisboa, 1963



Felipe de Saavedra, que também assinou como Filipe Delfim Santos, é doutor em História Antiga e Medieval pela Universidad Autónoma de Madrid (1993), em Filosofia da Educação pela University of Christchurch (2015) e em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa (2016). Atualmente pesquisa temas relativos à história da presença portuguesa na Ásia e ao seu impacto na cultura global.

Ensina Estudos Portugueses na Universitas Indonesia, ilha de Java, e investiga o período clássico da literatura portuguesa. É o editor de Missiva.pt, página online de um projeto global sobre epistolografia, e é membro fundador da Rede Camões na Ásia (RCnA), que em 2022 organizou o Congresso Internacional comemorativo dos 450 anos da primeira publicação de Os Lusíadas, com a participação de estudiosos da obra camoniana de todo o mundo.



Camoniana / Período Clássico da Lit. Port.

  • (2001) Livros quinhentistas de prelos italianos. Academia das Ciências de Lisboa; introd. José V. de Pina Martins; catalogação Maria de Lurdes Rosa; rev. Maria Leonor Cardoso Sérgio Pinto, Filipe Delfim Santos. Lisboa: ACL.
  • (2019) Congresso internacional Mariana – Lisboa e Beja, Portugal, 15 a 17 de nov. 2019. – org. Filipe Delfim Santos.
  • (2019) Mariana Alcoforado: 350 anos de paixão e prélio. – Mostra bibliográfica que assinalou os 350 anos da edição princeps das Lettres portugaises traduites en françois. Na Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa, 4 - 30 nov. 2019.
  • (2020) Afinal nem todas as cartas de amor são ridículas, in Cartas portuguesas traduzidas em francês de Mariana Alcoforado. – Edição definitiva. Ed. Filipe Delfim Santos. Amadora: Canto Redondo, 9-53.





Cartas portuguesas traduzidas em francês

Coord. de Filipe Delfim Santos
Retroversão de Vitor Amaral de Oliveira

Amadora: Canto Redondo, 2020.



Congresso Mariana: atas

1.º vol. : Crónica e comunicações iniciais

Ed. Filipe Delfim Santos

Beja: Congresso internacional Mariana / Canto Redondo, 2021. 











Epistolário magno de Luís de Camões
Volume I – Celestina em Lisboa

edição crítica, analítica e comentada
de Felipe de Saavedra

Col. Epistolários, 2

Lisboa: Canto Redondo, 2022 


Congresso Internacional 450 anos de Os Lusíadas

Ternate/Jakarta, 12 de março de 2022. 
Org. Felipe de Saavedra. 






Atas do Congresso Internacional 450 anos de Os Lusíadas


Ed. Felipe de Saavedra
 
Ternate, Jakarta, Lisboa: RCnA, 2022









 






Páginas Web com eventos e recursos:







MISSIVA: as cartas portuguesas e brasileiras – Página online de um projeto global sobre epistolografia.





Rede Camões na Ásia (RCnA). – Rede asiática de pesquisadores e tradutores de Luís de Camões.




Camoens.pt – Diretório de estudos camonianos, divulgando música, poesia e outras atividades, incluindo trabalhos académicos.






Luís de Camões – Canal do Youtube sobre a vida, a obra e a época de Luís de Camões, que veicula igualmente recursos da RCnA e de Camoens.pt.







Bahasa Portugis – Canal do Youtube que funciona como “repositório dos trabalhos multimédia sobre Língua e Cultura Portuguesa dos estudantes da Universitas Indonesia” sob orientação do Professor Felipe de Saavedra.





Óbidos, Livraria Artes & Letras



2022/08/07

CAMONISTA - José Camões

 





José Camões, n. 16.07.1958

Camonista, professor, investigador principal do CET.


José António Camilo Guerreiro Camões doutorou-se com a tese intitulada Editar novamente: onze textos do teatro português do século XVI (2006) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde atualmente é professor do programa de pós-graduação em Estudos Teatrais (Mestrado e Doutoramento).

Como investigador principal do Centro de Estudos Teatrais (CET), que foi criado em 1994 “para funcionar como palco privilegiado de atividades de investigação científica e formação de investigadores para o estudo do teatro”, José Camões tem-se centrado na história do teatro em Portugal, na edição crítica do corpus do teatro português dos séculos XVI, XVII e XVIII, nos estudos comparativos do teatro e na produção de ferramentas de investigação em humanidades digitais.





José Camões, como investigador do CET, assegura a direção científica de vários projetos:



HTP on-line - documentos para a história do teatro e das atividades teatrais em Portugal (publicados como recursos online).


  • TAP, o corpus de dramaturgos portugueses dos séculos XVI, XVII e XVIII, disponível online.


TPC XVIII – Textos Proibidos e Censurados no Teatro Português do Século XVIII: reúne-se neste catálogo o conjunto de títulos de teatro submetidos às instâncias censórias, para impressão ou representação, e que obtiveram despacho de proibição, na segunda metade do século XVIII.



  • Reconstrução virtual de teatros portugueses perdidos.
  • ENTRIB – Entremezes Ibéricos: um projeto que visa catalogar, editar e estudar os entremezes portugueses e espanhóis do século XVII.


Como estudioso textual, tem também editado o corpus de peças portuguesas dos sécs. XVI, XVII e XVIII em formato de livro, nomeadamente obras de Gil Vicente, Afonso Álvares, Luís de Camões, António Prestes, Simão Machado, Anrique Aires Vitória, Francisco de Sá de Miranda, dramaturgos anónimos do século XVI e traduções/adaptações de peças de Jean-Jacques Rousseau, Molière e Benedetto Marcello. 

 


Obra Camoniana / Séc. XVI-XVII

  • (1983) Autos / António Ribeiro Chiado. Lisboa: Teatro da Cantina Velha.
  • (1999) Obras / de Anrique da Mota. Ed. Osório Mateu; org. José Camões, Helena Reis Silva. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses [CNCDP].
  • (1999) Poesia / de Garcia de Resende. Ed. –. Lisboa: CNCDP.
  • (2001) Gil Vicente: todas as obras. Coord. cientif. José Camões. Lisboa: CNCDP. - Documento eletrónico.
  • (2002) As obras / de Gil Vicente. Dir. científica José Camões.  Lisboa: CET; Lisboa: INCM.
  • (2003) Gil Vicente 500 Anos Depois: actas / do Congresso Internacional... Coorganização com Maria João Brilhante, Helena Reis Silva e Cristina Almeida Ribeiro / CET da FLUL. Vol. II, Lisboa: INCM.







Filodemo: teatro

Luís de Camões. 

Edição de José Camões, com notas, glossário e bibliografia.

Lisboa: Cotovia, 2004.





  • (2006) Editar Novamente: onze textos do teatro português do século XVI. – Tese de doutoramento em Estudos de Teatro. Lisboa: FLUL. – 2 vol.; il. (30cm) + 1 disco óptico (CD-ROM) em caixa.
  • (2006) Obras / de Afonso Álvares. Introd., ed. José Camões; rev. Paula Lobo. Lisboa: INCM.




Teatro português do século XVI: teatro profano 


Introd. e ed. José Camões; rev. Paula Lobo
3 vols., Lisboa: INCM, 2007-2010.

1.º vol., tomo 1: Auto do Caseiro de Alvalade, Auto dos escrivães do Pelourinho, Auto do escudeiro surdo, Auto de Florisbel, Auto de Guiomar do Porto. – 2007. 
1º vol., tomo 2: Auto das Capelas, Auto de Dom Fernando, Auto dos Enanos, Farsa Penada, Auto dos Sátiros. – 2010.
1º vol., tomo 3: Auto de Dom André, Auto de Dom Luís e dos Turcos, Auto do Duque de Florença, Auto das Padeiras, Auto de Vicente Anes Joeira. – 2010.





  • (2008) Autos / de António de Prestes. Introd. – ; ed. de Helena Reis Silva; rev. Paula Lobo. - Lisboa: INCM. – 749, [6] p. : il. (24cm); Col. “Biblioteca de autores portugueses. Teatro”.
  • (2009) Comédias / de Simão Machado. Introd. e ed. José Javier Rodríguez Rodríguez; ed. de José Camões, Helena Reis Silva; rev. Paula Lobo. Lisboa: INCM.
  • (2013) Comédias / Francisco de Sá de Miranda. Ed. José Camões, T. F. Earle. Lisboa: INCM.
  • (2015) A farce by any other name... ovvero costanze e incostanze di un genere nel teatro portoghese (XVI-XVIII secolo), in  La farsa: apparenze e metamorfosi sulle scene europee. Ed. Carandini, Silvia. Roma, Itália: Pacini, 99-127.






Teatro de autores portugueses do século XVII: lugares (in)comuns de um teatro restaurado


Org. José Camões, José Pedro Sousa. 
Lisboa: CET, 2016.

Gil Vicente: compêndio

Coord. José Augusto Cardoso Bernardes, José Camões

Textos: Amélia Maria Correia et al.

Coimbra : Imprensa da Universidade; Lisboa: INCM, 2018.

  • (2019)  Do figurado ao literal: 'a todos veréis quexar / y a ninguno veréis morir / por amores'", in España y Portugal en la encrucijada del teatro del siglo XVI: estudios dedicados al profesor Miguel Ángel Pérez Priego. Ed. Miguel Ángel Teijeiro Fuentes; José Roso Díaz. Sevilha, Espanha: Editorial Renacimiento, 83-118.
  • (2019) Comédia d’Os Vilhalpandos / Francisco Sá de Miranda (Ms. Real Academia de la Historia) – [on-line], in Camões, José (dir.) Teatro de autores portugueses do Séc. XVI: base de dados textual. Lisboa: CET, Univ. de Lisboa. [22 novembro 2019].
  • (2020) Castro / António Ferreira. Ed. José Camões; Helena Reis Silva.



Comédia del Rei Seleuco / Luís de Camões

Ed. José Camões; Helena Reis Silva, 2020

Texto utilizado para esta edición digital: Teatro de autores portugueses do Séc. XVI: base de dados textual. Lisboa: CET, Univ. de Lisboa. [15 março 2019].


  • (2021) Um teatro exemplar. – Pref. a Exemplos Antigos: paremiologia e fraseologia no teatro português do século XVI: provérbios, ditados, adágios, anexins, rifões e outros ditos e sentenças quinhentistas / de Lurdes PATRÍCIO. Tavira: CM / CET da FLUL, 9-16. 




Poesia
/ Francisco de Sá de Miranda. 

Еdição de José Camões e Filipa de Freitas. 

Lisboa: INCM, 2021. – 1760 p.







CENTRO DE ESTUDOS DE TEATRO

Autores Portugueses dos Séculos XVI e XVII






Teatro de Autores Portugueses do Séc. XVI
Base de dados textual, online

“Neste sítio reúnem-se as obras que fazem a história do teatro no século XVI em Portugal, numa edição preparada no Centro de Estudos de Teatro
dirigida por José Camões, com Helena Reis Silva, Isabel Pinto, Lurdes Patrício, Inês Morais, Filipa Freitas e José Pedro Sousa 
(decorrente do projecto POCTI/ELT/33464/2000 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia).
Colaboração de José Javier Rodríguez Rodríguez (textos em castelhano; apresentações), Lucília Chacoto (paremiologia), Manuel Calderón Calderón (textos em castelhano; apresentações), Maria Luísa Oliveira Resende (comédias de Jorge Ferreira de Vasconcelos).

A apresentação dos textos é feita com critérios rigorosos de transcrição, tendencialmente modernizantes da ortografia, eliminando erros óbvios de tipógrafos, mantendo as marcas fonéticas da língua quinhentista.
A técnica editorial permite disponibilizar informação através de campos temáticos, glossário, notas críticas para a investigação, fac-símiles e bibliografia.”




Teatro de Autores Portugueses do Séc. XVII

“Neste sítio reúnem-se as obras que fazem a história do teatro no século XVII em Portugal, numa edição preparada no Centro de Estudos de Teatro, dirigida por José Camões, com Helena Reis Silva, Teresa Araújo, José Javier Rodríguez Rodríguez, Carlos Mota Placencia, Manuel Calderón Calderón, Filipa Freitas, José Pedro Sousa, João Nuno Sales Machado (decorrente do projeto PTDC/CLE-LLI/122193/2010 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia).
A transcrição dos textos é feita com critérios tendencialmente modernizantes da ortografia, eliminando erros óbvios de tipógrafos. A técnica editorial permite disponibilizar informação através de campos temáticos, glossário, notas críticas para a investigação, fac-símiles e bibliografia.”