Ana Luísa Amaral (1946-2022)
Imagem da Fundação Cupertino de Miranda
"Em larga medida, o amor é inexprimível, porque não se explica. E é mortal. A única coisa que o pode imortalizar é a palavra."
In: Entrevista ao DN, 14.08.2005
ÚLTIMA MEDITAÇÃO DE CAMÕES II
Nasceste-me sem musa
e sem cuidado,
sobrevoando o tempo,
e as mais comparações
que aqui eu possa
não te farão justiça nem acerto
Foste, palavra minha,
o mantimento
que trouxe de jornada,
e alimentaste a génese de tudo
nas visões
mais amargas
Ainda que em silêncio,
diz-me agora
de como pode ser
contentamento
este fogo de luz:
cruel morada
Dá-me outra vez,
em papel brando,
o mundo:
Eu: queimando por versos
um segundo,
tu, por um som,
ardendo eternidade
Ana Luísa Amaral
*
In: A Génese do Amor. Porto: Campo das Letras, 2005.
A gênese do amor.Rio de Janeiro: Gryphus, 2007.
[A versão textual foi reconstituída a partir da Internet]
o texto dito
pela Poetisa, na Brotéria.