2023/02/27

IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969), por Milton Pacheco


© Fotografia de Ossemane A. S. Daudo, cidadão moçambicano





IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969)

EVOCAÇÕES CAMONIANAS



"A figura incontornável da cultura nacional, Luis Vaz de Camões, o poeta-viajante envolvido direta e ativamente no processo de expansão territorial portuguesa no Oriente a partir do século XVI, e que o próprio imortalizou na sua obra magna de Os Lusíadas, teve no decurso das comemorações celebrativas de 1969 a sua efígie multiplicada nos modelos de representação tradicionalmente aceites pelos especialistas.

Os festejos comemorativos dos quatrocentos anos da saída definitiva de Camões da Ilha de Moçambique destacar-se-iam das restantes quatro comemorações ocorridas em 1969 – como as de Vasco da Gama por exemplo – pela menor expressão celebrativa entre as sociedades locais e as da metrópole, em dimensão e na duração dos eventos. Tanto quanto sabemos, somente as festividades camonianas não dispuseram de um evento em Lisboa.

Circulando com maior ou menor impacto na província moçambicana, até alcançar inevitavelmente a metrópole portuguesa, as edições comemorativas móveis e de pequeno porte – as coleções filatélicas e as séries medalhísticas –, foram permitindo contribuir para a difusão do programa final das comemorações oficiais a decorrer naquela pequena ilha africana. Enquanto os selos postais foram produzidos em suporte de papel com uma ampla margem de distribuição, as medalhas, cunhadas em bronze e em prata, foram difundidas essencialmente nos meios mais elitistas dos círculos institucionais e dos circuitos colecionistas.

Mas entre as diversas obras comemorativas promovidas pelas comissões ganhou destaque, pela imponência física, simbologia histórica e exclusividade material, a escultura de Camões empunhando o manuscrito de Os Lusíadas na Ilha de Moçambique, segundo uma imagem idealizada e algo romantizada integrada no projeto de recuperação e beneficiação dos principais eixos urbanísticos e arquitetónicos daquele território insular.

No quadro político-ideológico da época, as comemorações camonianas de 1969 permitiram à máquina propagandística e ideológica do Estado Novo continuar a difundir uma mensagem de cunho histórico-nacionalista português e europeísta, vincada por um sentimento de partilha e pertença identitária expresso na obra de Os Lusíadas. Contudo, não foi apenas o regime salazarista que se aproveitou politicamente da obra e do seu autor.

O mesmo Camões que fora recrutado pelos republicanos contestatários ao regime monárquico nos finais do século XIX, associando-o aos anseios de luta pela liberdade «cerceada pelo despotismo» – e que para muitos falecera em 1580, o ano em que D. Filipe I de Portugal [1527|1581-1598] começara a forjar a Monarquia Dual Ibérica com entrada no Reino –, acabara por ser convocado uma vez mais para legitimar a presença portuguesa nos territórios em que começaram a irromper os movimentos independentistas da denominada Guerra da Libertação de Moçambique a partir de 1964.

Independentemente da forma e da matéria, e do impacto de cada peça ou conjunto, os elementos comemorativos camonianos permitiram assinalar o acontecimento histórico e impulsionar uma vez mais a biografia e a obra do Poeta. E neste caso, a escultura camoniana concebida por António Pacheco ocupou um lugar preponderante entre as demais peças celebrativas promovidas."
Milton Pedro Dias Pacheco










Milton Pacheco
Historiador, investigador, camonista
Diretor, Casa-Museu Elysio de Moura





CAMONIANA


  • (2014) As musas tagídeas de Camões na obra de Columbano Bordalo Pinheiro, in Ciclo de conferências promovido pela Confraria Camoniana de Ílhavo. – Ílhavo, Museu Marítimo, 22.11.2014.
  • (2014, maio) Do mito para a tela: as representações das Tágides camonianas na arte portuguesa de Oitocentos, in VILELA, Ana Luísa; Elisa Esteves; Fabio Mario Silva; Margarida Reffóios (ed.) Representações do Mito na História e na Literatura. Évora: Centro de Estudos em Letras / Instituto de Investigação e Formação Avançada / Universidade de Évora, 279-292. – [Comunicação apresentada no Congresso Internacional: Mito e História, org. CEL-UÉ; CIDEHUS da UÉ. – Évora, Colégio do Espírito Santo – Univ. de Évora, 25.10.2011].
  • (2012) “Que fez o Serenissimo & Reverendissimo Cardeal Iffante Dom Anrique”: a acção legisladora do Arcebispo e Inquisidor-Mor no tempo de Camões, in Camões e os contemporâneos. – [Atas], org. Maria do Céu Fraga et al., Coimbra/Ponta Delgada/Lisboa: CIEC; Univ. dos Açores; Univ. Católica Portuguesa, 387-402. – [Comunicação apresentada no Colóquio Internacional Camões e os seus Contemporâneos, Braga, 14.04.2012].




Apresentação sobre "Camões na Ilha de Moçambique..."
Colóquio Camões e a Lusofonia, org. CIEC, Coimbra, 13.03.2019








CAMÕES E MOÇAMBIQUE

Alguma bibliografia a partir do texto de Milton Pacheco, Evocações camonianas, I e II



  • (1968, março) Informações e Notícias: IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique, Boletim Geral do Ultramar, 513, 118-119.
  • (1968, nov.-dez.) Informações e Notícias: IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique, Boletim Geral do Ultramar, 521-522, 120.
  • (1969, jan.-fev.). Informações e Notícias: Três comemorações centenárias relativas ao Ultramar, Boletim Geral do Ultramar, 523-524, 167-169.
  • (1969, 29 de maio) Os centenários de Vasco da Gama, Luis de Camões e Gago Coutinho no distrito de Moçambique, Diário de Moçambique, 6601, 9.
  • (1969, junho). Informações e Notícias: Filatelia. [Selos comemorativos do IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique], Boletim Geral do Ultramar, 528, 198-200.
  • (1969, set.-dez.) Informações e Notícias: IV Centenário da Estada de Luís de Camões na Ilha de Moçambique, Boletim Geral do Ultramar, 531-534, 201-202.
  • (1969, 12 de novembro). Um cruzeiro no “Infante D. Henrique” integrado nas comemorações camoneanas, Diário de Moçambique, 6763, 1.
  • (1969, 19 de novembro) Comemorações Camoneanas, Diário de Moçambique, 6769, 1. 
  • (1969, 20 de novembro) O “Infante Dom Henrique” chegou ontem à Beira, Diário de Moçambique, 6770, 2, 9.
  • (1969, 22 de novembro) Comemorações Camoneanas na Beira, Diário de Moçambique, 6772, 3.
  • (1969, 22 de novembro) O Governador-Geral inaugura hoje o importante edifício do Colégio Luís de Camões, Diário de Moçambique, 6772, 1.
  • (1969, 23 de novembro) Comemorações camoníanas: o novo edifício do Colégio Luís de Camões foi ontem inaugurado na Beira pelo Governador-Geral, Diário de Moçambique, 6773, 1-3.
  • (1969, 24 de novembro). A estátua de Camões foi ontem inaugurada na Ilha de Moçambique pelo Governador-Geral, Diário de Moçambique, 6774, 1-3.
  • (1969, 25 de novembro). Comemorações camonianas, Diário de Moçambique, 6775, 3.
  • (1969, 26 de Novembro). [Exposição Camoniana na Beira], Diário de Moçambique, 6776, 2.
  • Albuquerque, Luís de [coord.] (1979) Memoria das Armadas qve de Portvgal pasaram ha Índia. E esta primeira e ha com qve Vasco da Gama partio ao descobrimento dela por mamdado de ElRei Dom Manvel no segvndo anno de sev reinado e no do nacimento de Xpõ de 1497. Lisboa: Edição da Academia das Ciências de Lisboa.
  • BASTOS, F. de Magalhães (1972) Camoês na ilha de Moçambique, in Facho-Sonap., 17 (1972), p. 6-8.
  • Couto, Diogo do (1786) Da Asia. Dos feitos, que os Portuguezes fizeram na conquista, e no descubrimento das terras, e mares do Oriente. Decada Oitava. Lisboa: Regia Officina Typographica.
  • Cruz, M. A. L. (2011) Camões e Diogo do Couto, in V. A. e Silva (Coord.), Dicionário de Luís de Camões. Lisboa: Editorial Caminho, 134-140.
  • Garcia, A. (1969) Camões em Moçambique: 1567-1569, Monumenta. Publicação da Comissão dos Monumentos Nacionais de Moçambique, 5, 29-31.
  • Garcia, A. (1969, 22 de novembro). IV Centenário de Camões em Moçambique. 1567- 1569, Diário de Moçambique, 6772, 13.
  • Gonçalves, A. da. S. (1969) Camões e Moçambique, Monumenta. Publicação da Comissão dos Monumentos Nacionais de Moçambique, 5, 23-25. I







Catálogo da exposição itinerante, cartográfica e iconográfica, comemorativa do IV Centenário da Estada de Camões na Ilha de Moçambique

Lisboa: Arquivo Histórico Ultramarino, 1969



  • Lisboa, Eugénio (1981) Camões, a Ilha de Moçambique e nós, in Estudos sobre Camões: páginas do Diário de Noticias dedicadas ao poeta no 4.o centenário da sua morte. Lisboa: INCM - Editorial Notícias, p. 177-186. / reprod. em Oceanos, n.º 25 (jan.-mar. 1996), 76-80.
  • Lobato, Alexandre Marques (1969) Ilha de Moçambique: IV Centenário da Estada de Camões na Ilha de Moçambique: V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama. Lisboa: Comissão Provincial dos Centenários.
  • Lobato, Alexandre Marques (1969, novembro) Comemorações do IV Centenário da Publicação de “Os Lusíadas” [Programa]. Lourenço Marques: Comissão Provincial do IV Centenário da 1.a Publicação de Os Lusíadas. - [Há também um folheto explicativo dos festejos].
  • Lobato, Alexandre Marques (1969, novembro) Programa dos festejos centenários na Ilha de Moçambique. Ilha de Moçambique. IV Centenário da Estada de Camões na Ilha de Moçambique. V Centenário do Nascimento de Vasco da Gama. Lisboa: Comissão Provincial dos Centenários.
  • MANO, Manuel Lourenço (1939) Luiz de Camões na ilha de Moçambique, in Moçambique: documentário trimestral, n.º 20 (out.-dez. 1939), p. 103-115.
  • MANO, Manuel Lourenço (1935) Luis de Camões na Ilha de Moçambique [Estada de Camões em Moçambique, no seu regresso do Oriente], in Moçambique: documentário trimestral, n.º 20 (out.-dez. 1935).
  • Mariz, P. de (1613). Ao estudioso da lição Poetica, Manoel CORREA, Os Lvsiadas do Grande Lvis de Camoens. Principe da Poesia Heroica, Lisboa, Por Pedro Craesbeeck, 1613, [fls. IIv-V].
  • Pacheco, Milton (2022) Evocações camonianas: o IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969): Parte II, Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, n.º 52 (2022), 201-273.
  • Pacheco, Milton (2021) Evocações camonianas: o IV Centenário da Estada de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique (1569-1969): Parte I, Boletim da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, n.º 51 (2021), 157-192.
  • Pacheco, Milton (2019) Apresentação sobre "Camões na Ilha de Moçambique: marcos históricos e marcas artísticas", no Colóquio "Camões e a Lusofonia", org. CIEC, na Universidade de Coimbra, 13.03.2019.
  • Ribeiro, Eduardo (2012). Camões no Oriente e outros textos. Lisboa: Labirinto das Letras. / 2.ª ed., Lisboa, 2018.
  • Rodrigues, V. (c.1577) Primeiro Roteiro da Carreira da Índia. In Costa, A. F. (1940) Roteiros portugueses inéditos da Carreira da Índia do século XVI. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 87-116.
  • SAÚTE, Nelson; António Sopa, comp. (1992) A ilha de Moçambique na voz dos poetas. Lisboa: Edições 70.










2023/02/26

Camões e as Ninfas da Ilha dos Amores no Parque dos Poetas de Oeiras

 






Camões no Parque dos Poetas, em Oeiras


 





As esculturas de Camões e das catorze ninfas
são da autoria de Francisco Simões

Imagens de Victor Nogueira




"Um poeta, um escultor e um político uniram-se em torno de um sonho comum. Os paisagistas deram-lhe corpo e nome – Parque dos Poetas. Nasceram poemas, jardins, lagos, muros e alamedas; as árvores cresceram e acolheram os poetas. Com uma área de 22,5 hectares, no Parque dos Poetas estão representados 60 poetas: 50 portugueses e 10 de países ou territórios de expressão portuguesa.

[...] A ideia inicial foi concebida pelo poeta e escritor David Mourão-Ferreira e pelo escultor Francisco Simões, aos quais se juntou o paisagista Francisco Caldeira Cabral e a arquiteta Elsa Severino com a sua equipa.

[...] David Mourão-Ferreira (falecido em1996) lançou a primeira semente de ‘uma alameda dos poetas’ e os paisagistas ‘transformam-na’ em Parque dos Poetas, com uma forte componente paisagística e botânica. Desde a sua génese, aqui se cruzaram várias artes: a poesia, a botânica e a escultura, mas também a música, o teatro e a dança, pois o jardim é a grande síntese.

Ladeada por pequenos jardins temáticos com as esculturas e as respetivas homenagens a poetas da língua portuguesa, a Alameda dos Poetas é o percurso central do parque, onde se caminha sobre lajes com poemas. [...] 

Luís de Camões está largamente representado em poemas gravados na pedra; a Gruta e a Ilha dos Amores no grande lago, a sul do parque, evocam o grande poeta português (a reabilitação e restauro da mãe d´água pombalina possibilitou a alimentação deste lago e do riacho a montante). A ‘flora d´Os Lusíadas' cresce nos jardins do poeta, numa importante relação entre literatura e botânica.

Os poetas do século XX, além de Camões e as catorze ninfas do imaginário de Os Lusíadas, são da autoria do escultor Francisco Simões."

Repórter de Serviço - OLHARES DE LISBOA


Parque dos Poetas: o maior museu ao ar livre de arte escultória da Europa,16.08.2021










Tágide, uma escultura de evocação camoniana, por Lagoa Henriques






Tágide

uma escultura que evoca as ninfas do Tejo cantadas em Os Lusíadas por Camões

da autoria do mestre escultor 

Lagoa Henriques

construída em bronze, pedra, betão armado, aço e inox

foi inaugurada a 25 de Abril de 2004

na Praça da República, no Montijo / Portugal






2023/02/22

A Receção de Gomes Eanes de Zurara no Renascimento Ibérico, por Alexsandro Menez









A Receção de Gomes Eanes de Zurara no Renascimento Ibérico

VIDEOCONFERÊNCIA


24 de março de 2023 / às 21h00 PT

Org.

Centro de Estudos Mirandinos, em Amares


O Centro de Estudos Mirandinos (CEM), no âmbito das suas atividades científico-culturais, irá realizar a videoconferência intitulada “A Receção de Gomes Eanes de Zurara no Renascimento Ibérico”, que será proferida por Alexsandro Menez, da Brown University, nos E.U.A.


Inscrição gratuita, mas obrigatória 
através de formulário simples online 
ou
 através dos contactos do CEM 
cem@biblioamares.pt
+ 351 253 995 182


A conferência realizar-se-á através da plataforma Zoom 
e o link da sessão será enviado por e-mail 
a todos os participantes 
na semana que antecede a conferência.















Alexandre Menez
Brown University, Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros
*
Mestre em Língua Portuguesa e Brasileira, em 2017, com a dissertação: Apolinário Porto Alegre e os partenonistas: lendo os letrados do século XIX).
*
Alexsandro Menez é doutorando na Brown University, pesquisando a circulação e receção de manuscritos do período medieval tardio e livros impressos relacionados com as viagens marítimas atlânticas por estudiosos ibéricos do início da Idade Moderna.
Atualmente, trabalha na recepção quinhentista por João de Barros (c. 1496-1570) e Bartolomé de Las Casas (c. 1474-84-1566) da Crónica tardo-medieval dos Feitos de Guiné, escrita pelo cronista real Gomes Eanes de Zurara (c. 1410 – c. 1474) - Título do projeto: Discovering the Discoveries: Episodes of Zurara's Cronica de Guine - Controversies, Edition Princeps, and Translations.



ENG:
Alexsandro Menez
Brown University,  Department of Portuguese and Brazilian Studies
He holds several degrees in History and Literary Studies, such as a MA in Portuguese and Brazilian.
*
"Alexsandro Menez is a Ph.D. candidate in the Department of Portuguese and Brazilian Studies at Brown University. 
His research focuses on the circulation and reception of Late Medieval manuscripts and printed books related to Atlantic maritime voyages by Early Modern Iberian scholars. Presently, he is working on the sixteenth-century reception by João de Barros (c. 1496-1570) and Bartolomé de Las Casas (c. 1474-84-1566) of the Late Medieval Crónica dos Feitos de Guiné, written by the Portuguese royal chronicler Gomes Eanes de Zurara (c.1410 – c.1474)."







2023/02/21

NAVEGAR, peça de teatro da ÉTER – Produção Cultural​, coloca em diálogo Camões e Pessoa






© ÉTER – Produção Cultural​

NAVEGAR – CAMÕES, PESSOA E O V IMPÉRIO

de Filomena Oliveira e Miguel Real






"Camões e Pessoa, Os Lusíadas e Mensagem.
Pessoa revela-se como triplo (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos). Camões como autor de poesia apaixonada (lirismo) e de poesia gloriosa (épica). [...]
Entrecruzam as suas vidas: Camões viajando no Império, compondo Os Lusíadas; Pessoa viajando pela Baixa de Lisboa, desencantado da vida, dando início ao Modernismo.
Três tempos: séc. XVI Camões); séc. XX (Pessoa); séc. XXI (a linguagem e a forma). O séc. XVI e o séc. XX de Pessoa fundem-se na linguagem estética do séc. XXI, subvertendo o tempo cronológico, numa transtemporalidade cénica. 
Com eles estão Sebastião e Inês (um homem e uma mulher do povo, intemporais ou de todos os tempos); ele, Sebastião, acompanha Camões como companheiro de brigas e de viagens; acompanha Pessoa como empregado de café, amigo e confidente. É ainda o símbolo do rei amado por Camões e desejado por Pessoa.
Ela, Inês, é a mulher de todas as épocas: é Lianor e as mulheres do Malcozinhado, as nobres D. Francisca de Aragão, D. Catarina de Ataíde, D. Guiomar, todas amadas por Camões; mas também Ofélia de pessoa e a Lídia de Ricardo reis.
O V Império é consubstanciado na ilha dos amores de Camões e nas ilhas afortunadas de Pessoa." 

 In: ÉTER – Produção Cultural​











Ficha Técnica e Artística:

Texto: Filomena Oliveira e Miguel Real
Encenação: Filomena Oliveira

Música Original e Orgânica Sonora: David Martins
Voz: Ilesa da Costa Martins, Andreia João, Barnabé “Freakshow”, Tito Ribeiro

Elenco (em palco e em filme): 
Rogério Jacques como Camões
Hugo Bettencourt como Pessoa
Filipe Araújo como Sebastião
Suzana Branco como Inês

(em filme)
Paulo Pinto como Pessoa
Inês Oliveira Martins, Inês Worm Tirone, Irina Apolinário, Mafalda Veiga e Moura, Vera de Almeida Ribeiro, como Ninfas / Mulheres na Índia

Desenho de Luz: David Martins
Operação Luz, Som e Microfones: ÉTER

Operação Vídeo: ÉTER
Estruturas: Vito Fernandez
Imagem: Caracóis Voadores
Ilustração: Luís Lázaro
Conceção cenográfica: Ricardo Assis Rosa









para saber +



Sintra Notícias, 8.06.2018

Coolture, 7.06.2018









Entrevista a Luís de Camões, por Forum Estudante

 





Entrevista a Luís de Camões: «É tramado nadar só com um braço livre, digo-vos já»


O famoso autor d’Os Lusíadas aceitou receber-nos em sua casa, para nos falar um pouco dos seus projetos literários e contar-nos a sua vida repleta de aventuras.



Hoje em dia, é um dos autores mais consagrados da Língua Portuguesa. Como se sente, por ter mostrado «novos mundos ao mundo» neste campo?

Foi uma surpresa, devo dizer. Não estava à espera. Comecei a escrever aquilo por graça, para mostrar aos meus amigos, e às tantas alguém disse: «Pá, Luís, devias publicar isso!» e eu fiquei a pensar.

Como lhe surgiu a ideia para Os Lusíadas?

Eu sempre li muito e gosto muito dos mitos gregos e tal. Achei que a História de Portugal merecia um bocadinho de salero, um bocadinho de tcharan, e quis dar-lhe isso. E depois, bom, não estou a dizer que é preciso viver uma vida de aventuras pelo Oriente para ajudar à inspiração, mas também não atrapalhou (risos).


Fale-nos um pouco dessa vida de aventuras.
Não há muito a dizer. Isto é, a gente andava por Lisboa, a compor versos para as damas, pronto. Às vezes, havia um marido ou um pai ou um irmão que se chateava, havia confusão. Nada de mais, mas não recomendo, ainda assim. O problema era quando me metia à porrada. Por isso é que tive de ir para África e para a Índia.

E dá-se aí o famoso episódio do naufrágio, certo?
Ui, vocês não estão bem a ver. Trovões e relâmpagos, o mar revolto, uma grande confusão! O barco vai ao fundo e eu lanço-me ao mar, só com o meu manuscrito. É tramado nadar só com um braço livre, digo-vos já!


Quer dizer algumas palavras aos milhares de estudantes que, todos os anos, têm de ler os seus textos?

Bom, peço desculpa por qualquer coisinha… Olhem, não se preocupem muito com o verso heróico decassilábico, à medida que se lê uma pessoa habitua-se. E, para ser honesto, há algumas palavras que nem eu sei bem o que querem dizer.














2023/02/20

Entrevista a Luís de Camões que responde com os seus próprios versos, por Baptista Bastos






 
 

Baptista-Bastos imaginou uma entrevista a Camões em que as respostas deste às perguntas feitas são versos dos seus poemas.





ENTREVISTA (excerto)


— Camões, você parece ser um homem triste.

Tudo passei; mas tenho tão presente / a grande dor das cousas que passaram / que as magoadas iras me ensinaram / a não querer já nunca ser contente. 

(Do soneto “Erros meus, má fortuna, amor ardente”)


— Pode definir o amor, você, que foi a ele dado?

— Amor é um fogo que arde sem se ver; / é ferida que dói e não se sente; / é um contentamento descontente; / é dor que desatina sem doer. / é um não querer mais que bem querer; / é um andar solitário entre a gente.

(Do soneto “Amor é um fogo que arde sem se ver”)


— A sua vida foi, portanto, difícil?

— Em prisões baixas fui um tempo atado, / vergonhoso castigo de meus erros; / inda agora arrojando levo os ferros, / que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado. / Sacrifiquei a vida a meu cuidado, / que Amor não quer cordeiros nem bezerros; / vi mágoas, vi misérias, vi desterros, / parece que estava assi ordenado.

(Do soneto “Em prisões baixas fui um tempo atado”)


— Mas acredita na permanente transformação das coisas, na transformação do Mundo?

— Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / muda-se o ser, muda-se a confiança; / todo o Mundo é composto de mudança, / tomando sempre novas qualidades.

(Do soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”)


— No entanto, você, Camões, parece um homem preocupado.

— Tanto de meu estado me acho incerto, / que em vivo ardor tremendo estou de frio; / sem causa, juntamente choro e rio; / o mundo todo abarco e nada aperto. / É tudo quanto sinto um desconcerto; / da alma um fogo me sai, da vista um rio; / agora espero, agora desconfio, / agora desvario, agora acerto.

(Do soneto “Tanto de meu estado me acho incerto”)













Fonte:
Baptista-Bastos (1980) [Entrevista imaginária], in revista Camões, n.º 2-3 (set.-dez. 1980), número que assinalou as “Comemorações do 4.º Centenário da Morte de Camões”, Lisboa: Ed. Caminho.
Apud: 
CARREIRO, José – Luís de Camões: a lenda, in blogue Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 10.06.2007.








Olá ! Eu sou Luís de Camões..., diálogo entre poetas imaginado por Isabel Silva








 



Olá ! Eu sou Luís de Camões.


Diálogo imaginado entre os poetas Luís de Camões e António Gedeão, no tempo atual.



Luís de Camões: Olá ! Eu sou Luís de Camões e ouvi dizer por aí que andaste a imitar um poema meu que falava sobre a minha bela Leanor. E como se não bastasse transformaste-a numa figura horrorosa, que mais parecia ter saído de um bordel. Nunca ouviste falar nos Direitos de Autor?

António Gedeão: Acalme-se homem. Em primeiro lugar eu não imitei o seu poema. Eu só me baseei nele para escrever um poema mais moderno, que as pessoas desta época possam perceber. Além disso a minha Leonor é muito digna. Vesti-a com a roupa que se utiliza hoje em dia, porque se a descrevesse como o senhor o fez não entenderiam a sua beleza e ainda podiam pensar que ela tinha saído de um convento.

Luís de Camões: Quer então dizer que eu não sou bom escritor e que não descrevi Leanor corretamente? Era o que faltava. Eu nem tinha ouvido falar nas peças de vestuário mencionadas no seu texto.

António Gedeão - Pelo contrário. Considero-o um excelente escritor e para mim é uma honra poder falar consigo. Acho que descreveu muito bem a sua Leanor e todas as situações do poema. Mas tem de compreender que o tempo passou e com ele mudaram os costumes, a fala, o vestuário e muitas outras coisas.

Luís de Camões - Talvez tenha razão. Até acho o seu poema bom, embora não o compreenda bem.

António Gedeão: Como já referi, agora, o uso da linguagem é outro. A maior parte das pessoas não compreendem o meu poema quanto mais o seu que já foi escrito há alguns séculos.

Luís de Camões: Pois é. Já no meu tempo era assim. As pessoas começam a ler, não percebem a primeira estrofe, põem o poema de lado e não se dão ao trabalho de o tentar compreender. Há uma coisa que não percebo. Porque é que a sua Leonor anda de motoreta? (não faço ideia do que isso é). Agora já não é costume as pessoas andarem a pé?

António Gedeão: Claro que andamos a pé. Só que já não é hábito irmos buscar água à fonte, porque temos água canalizada. Por isso decidi descrevê-la a ir de motoreta para a praia.

Luís de Camões: Se formos a ver o tema do seu poema afasta-se um pouco do meu. O meu poema fala de uma Leonor humilde, que me atrai devido à sua beleza simples e que aos meus olhos é a mulher mais bonita na face da terra.

António Gedeão: Quanto a mim, no meu poema descrevo-a como uma mulher sedutora e provocadora que deixa toda a gente a olhar para a ela por onde quer que passe. Mas devo confessar-lhe que a sua Leanor me agrada mais.

Luís de Camões: Afinal ainda existem bons poetas. Tenho de ir embora. Ando a ver se consigo escrever mais algum poema, mas a idade não perdoa. Espero que tenha uma obra muito vasta. Gostei de o conhecer.


Autoria: Isabel Silva










Fonte:
Ministério da Educação - DGIDC (2006) , in Educação para a Cidadania:  Guião de Educação do Consumidor. - [.PDF]. Lisboa: ME - DGIDC, p. 93. - Este texto está integrado no anexo "G. Viver seguro e saber gerir o risco na sociedade de consumo", p. 90, que inclui "Textos de apoio à compreensão do tema" e "Fichas para os alunos", p, 90-93.

Apud: Helena Damião, "Olá" Eu sou Luís de Camões", in blogue De Rerum Natura: a natureza das coisas4.03.2011.