2023/06/26

Poesia hispano-portuguesa dos séculos XVI e XVII - Simpósio Internacional da Universidade de Santiago de Compostela



La poesía hispano-portuguesa de los siglos XVI y XVII: Géneros, textos y recepción intrapeninsular

Simposio Internacional


Santiago de Compostela, 28 y 29 de junio de 2023

Salón de Grados, Facultad de Filología

Avda. de Castelao, s/n

15705 Santiago de Compostela










“El tercer simposio dedicado a la literatura ibérica centra su atención en la poesía, para abordarla con un enfoque intrapeninsular, desde la perspectiva de los géneros poéticos, aplicada como criterio de selección de las contribuciones propuestas.

Las investigaciones, congresos y publicaciones surgidas en el marco de los sucesivos proyectos de I+D+i que llevan por título La poesía hispano-portuguesa de los siglos XVI y XVII tienen como cometido el estudio conjunto de la literatura peninsular, salvando las fronteras geopolíticas que la han fragmentado de una manera artificial. Tal fin solo se podría alcanzar aunando no solo la literatura de España y de Portugal, sino también estableciendo el diálogo e intercambio entre sus respectivas tradiciones críticas.

El presente simposio cuenta con el reconocimiento de la Comisión Académica del Programa de Doctorado en Estudios de la Literatura y de la Cultura (Escuela de Doctorando de la USC) como actividad formativa, computable por 10 horas de asistencia, certificadas previa inscripción."

"Este simposio es parte del proyecto de I+D+i La poesía hispano-portuguesa de los siglos XVI y XVII: géneros, textos y recepción intrapeninsular (PID2020-118819GB-I00). Financiado por MCIN/ AEI/10.13039/501100011033/."




Coordenação:

Dep. de Lingua e Literatura Españolas, Teoría da Literatura e Lingüística Xeral Facultade de Filoloxía, Universidade de Santiago de Compostela


Comité científico (USC):

Alfonso Rey, Luis Iglesias Feijoo, Elias Torres Feijó, 
María José Alonso Veloso, Pilar Lorenzo Gradín, Elvira Fidalgo

Comité científico externo:

David González Ramírez (U. de Jaén), Rafael Bonilla Cerezo (U. de Córdoba), Francisco Javier Escobar Borrego (U. de Sevilla), Carmen Blanco Valdés (U. de Córdoba), Rita Marnoto (U. de Coimbra), Aude Plagnard (U. Paul Valéry-Montpellier 3)

Secretárias:

Martha Blanco González, martha.blanco@usc.es
Míriam Rodríguez Somoza, miriam.rodriguez.somoza@rai.usc.es






PROGRAMA


Miércoles, 28 de junio 

MAÑANA


I. Presenta: Lidia Presedo Rodríguez

10h00: «Inauguración del simposio»

10h30: Maurizio Perugi (U. Genève/ CIEO de Genève): 
«Sonetos de Camões imitados por manieristas españoles»









Esta comunicação trata de alguns sonetos de Camões que, entre finais do século XVI e inícios do seguinte, foram recolhidos em florilégios e traduzidos ou imitados por alguns dos chamados poetas maneiristas espanhóis, entre os quais se destaca Luis Martín. 
Estes textos são 1) úteis para ilustrar a influência de Camões na formação da corrente maneirista; 2) eles também podem ajudar a esclarecer certos problemas levantados pela tradição manuscrita camoniana ao estabelecer o texto crítico.






11h15: Barbara Spaggiari (CIEP de Genève): 
«As redondilhas na poesía hispano-portuguesa»


As redondilhas são um género poético exclusivamente ibérico, cultivado ao longo do século XV e transmitido como património cultural pelas duas grandes antologias que são o Cancionero General de Hernando de Castillo (1511) e o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516). Sendo intimamente ligado à vida da corte e dos paços, este género vai sobreviver à crise do homem de letras que gravitava ao redor das cortes, para manter-se em quanto expressão privilegiada das élites aristocráticas e continua a ser utilizado com grande frequência até à segunda metade do século XVI, em alternância com as novas formas. De facto, a grande maioria dos autores ibéricos de Quinhentos compõe também versos em medida velha, o que indicia a vitalidade subjacente deste género tradicional.



12h00: Pausa


II. Presenta: Belén Quinteiro Pulleiro

12h30: Hélio J. S. Alves (U. Lisboa): 
«As agressões militares a Diu e Cefalónia na poesia de Jerónimo Corte-Real»




Numa comunicação académica inserida em contexto ficcional, Frederico Lourenço 
chamou a atenção para o símile da flor cortada num passo de elegia fúnebre integrada numa écloga, como sugestão de acesso à sensibilidade pessoal, e até à orientação sexual, dum poeta, Luís de Camões. Na época (2002), a proposta fez algum furor, chegando a merecer um artigo de Vasco Graça Moura a repudiar a sugestão do homoerotismo de Camões. 
Curiosamente, o símile da flor cortada é muito mais utilizado por um poeta português coevo, Jerónimo Corte-Real. Serão apresentadas nesta comunicação três utilizações do símile da flor cortada na obra deste, na busca de interpretações sobre como a guerra podia ser pensada poeticamente, particularmente em duas situações e locais precisos: Diu, fortaleza portuguesa e cidade indiana na costa do Malabar, e Cefalónia, a ilha no Mar Jónico a oeste da Grécia continental. 




13h15: Debate


TARDE

III. Presenta: Antía Tacón García

16h00: Antonio Ramajo Caño (U. Salamanca): 
«Una elegía de Herrera dedicada a Camões»





No quadro das relações literárias luso-espanholas, este estudo considera, em primeiro lugar, colocar o reflexo das vicissitudes portuguesas na obra poética de Herrera. Mais especificamente, oferece um estudo da retórica que informa a elegia I de Algumas obras de Herrera, provavelmente dedicada a Camões: os seus aspectos amorosos e epidíticos; a sua herança clássica; a sua relação com o conjunto do cancioneiro de 1582. Tudo isto é sustentado por uma extensa biografia que contempla igualmente obras de críticos portugueses e espanhóis.




16h45: Isabel Almeida (U. Lisboa): 
«A composição em oitavas no livro impresso de poesia lírica, em Portugal e Espanha, até ao início do século XVII»




A impressão de livros de poesia lírica de autores ibéricos, ao longo do século XVI e até ao início do século XVII, assumiu contornos e ritmos diversos, que por si só permitem um exercício comparativo interessante entre a actividade produzida em Portugal e aquela que se desenvolveu para lá da sua fronteira política. Com base neste corpus de impressos, procurar-se-á compreender a presença, no campo poético peninsular, de uma forma de origem italiana – a oitava. Que significou a sua translatio para ocidente? A que géneros ficou ligada a composição em oitavas? De que maneira a prática e a teorização poéticas participaram na dinâmica do sistema literário? 




17h30: Pausa

IV. Presenta:

18h00: Soledad Pérez-Abadín Barro (USC): 
«La oda hipano-portuguesa del siglo XVI: retórica y estilemas»



A ode vernacular do século XVI distingue-se mais do que o seu conteúdo pelas suas estrofes curtas, determinando a sua configuração estilística e retórica. Dentre todos os seus artifícios, destaca-se a recusatio, utilizada para opor a musa tenuis escolhida à musa gravis alheia.
Garcilaso apropria-se desse recurso horaciano para enunciar a propositio da sua Ode, por meio de um vínculo condicional que será profusamente imitado. Regista-se também a variante genuína, onde o elogio do amigo poeta serve de pretexto para atingir os acentos épicos recusados. 
Os exemplos de vários poetas espanhóis e portugueses mostram que, pelo menos na poesia peninsular, a ode renascentista radica naquele plectus levis propriamente horaciano.


18h45: Debate


Jueves, 29 de junio 

MAÑANA


V. Presenta: Iris Iglesias Segade

10h00: Martha Blanco González (USC): 
«La preceptiva de los géneros en Faria e Sousa: la oda»


Quando se trata de catalogar a ode como forma poética autónoma, o principal problema reside no facto de que seus limites tendem a confundir-se com os estabelecidos pela canção petrarquista. Assim, enquanto entre os preceitos toscanos do século XVI encontramos a preferência por um ou outro termo intercambiavel, a sua sistematização como género na poética espanhola revela-se anómala, pois o seu estudo e definição não serão estabelecidos até aos tratados do séc. XVIII. 
O papel de Faria e Sousa constitui, graças à Fonte de Aganipe e aos seus comentários às Rimas várias, uma primeira distinção entre os dois géneros, pois rompe com a neutralização que Herrera havia defendido ao rotular a Ode ad florem Gnidi de “canção V ”, ao defender a supremacia das odes no corpus camoniano.



10h45: Maria do Céu Fraga (U. Açores): 
«Uma perspectiva bucólica do mar: as éclogas marítimas de Diogo Bernardes e Camões».

A aliança entre lirismo petrarquista e bucolismo mostrou-se grata aos poetas ibéricos do século XVI que, na senda de Sannazaro e de Garcilaso de la Vega, encontraram na écloga a possibilidade de conciliar artisticamente dois traços fundamentais da época: o respeito pela autoridade dos clássicos e a valorização da cultura contemporânea. 
Nesta comunicação, distinguindo a écloga pastoril e a piscatória, mas vendo a sua relação, estudamos a écloga piscatória, que julgamos desenvolver-se paralelamente nas literaturas portuguesa e castelhana a partir de fontes comuns. Vendo como o artifício poético inerente ao género se tornou motor de inovação e permitiu a expressão de sensibilidades e circunstâncias diversas, abordamos o caso de dois dos grandes poetas portugueses da época, Luís de Camões e Diogo Bernardes.


11h00: Pausa

VI. Presenta: Míriam Rodríguez Somoza

11h30: José Miguel Martínez Torrejón (City University of NY): 
«”Torna, torna p'ra tras, rei poderoso". Trovas que son octavas que son tragedia»



Escritos depois de Alcá
cer-Quibir e publicados por António Lourenço Caminha em 1791, os 320 versos anónimos que iniciam “Torna, torna p'ra tras, rei poderoso” apresentam problemas de autoria, data e até autenticidade.
Este estudo centra-se na fluidez entre formas e convenções literárias que condicionam a sua leitura em sentidos divergentes, pois se a sua versificação em oitavas reais nos situa na poesia épica ou narrativa e desde o título o termo trovas nos remete para uma poesia mais popular e até satírica, o conteúdo é exclusivamente dialogado, seguindo parâmetros que lembram uma tragédia grega convencional.



12h15: Eduardo Aceituno Martínez (U. Granada): 
«Modelos recurrentes en el soneto europeo: Jamyn y los poetas hispano-portugueses»

Definir e traçar as conexões entre a poesia espanhola e francesa do Renascimento, até então negligenciada pela crítica, contribuiria para ampliar o quadro do petrarquismo europeu, detectando afinidades e contrastes entre as diferentes produções nacionais. 
Para o efeito, abordam-se vários sonetos de amor do século XVI, dois deles espanhóis (de Gutierre de Cetina e Diego Ramírez Pagán) e outros dois franceses (de Amadis Jamyn e Agrippa d'Aubigné), que partilham o seu tema principal: o sangue que brota espontaneamente do corpo da vítima na presença do assassino. 
Além de tentar detectar possíveis relações de influência entre esses poemas, estudaremos os recursos expressivos que coincidem ou divergem, o que nos permitirá contrastar indiretamente alguns traços da tradição petrarquista francesa e castelhana.

13h00: Debate y clausura del Simposio






Participantes



Maurizio Perugi, Professeur honoraire de l’Université de Genève y Président honoraire del Centre International d’Études Lusophones de Genève, ha realizado las ediciones críticas de Arnault Daniel, de la Vie de Saint-Alexis y del Laudario perugino y numerosos ensayos sobre trovadores occitanos, Roman de Renart, Dante, Petrarca, Camões, Pascoli y Fernando Pessoa/Ricardo Reis. Ha publicado Fundamentos da crítica textual, con Barbara Spaggiari. Ha colaborado asimismo en el Comentário a Camões, coordinado por Rita Marnoto. y dirige la revista Filologia e Literatura. En colaboración con Barbara Spaggiari y Rita Marnoto ha emprendido la edición de la poesía de Camões, dentro del proyecto del CIEPG.


Barbara Spaggiari, Catedrática de Filología Románica y directora del Centre International d’Études Portugaises de Genève (CIEPG), desarrolla su investigación en el ámbito de la crítica textual y de la edición de textos occitanos. Entre sus publicaciones se incluyen Fundamentos da crítica textual, con Maurizio Perugi, Obras de André Falcão de Resende, Clepsidra de Camilo Pessanha y Le Rime de Luigi Groto, Cieco d’Adria. Ha colaborado asimismo en el Comentário a Camões, coordinado por Rita Marnoto. Entre sus aportaciones más recientes cabe destacar la edición del Cancioneiro Juromenha y la edición de varios volúmenes de la poesía de Camões, dentro del proyecto del CIEPG, emprendido en colaboración con Maurizio Perugi y Rita Marnoto. 


Hélio S. Alves es profesor de Literatura en la Universidade de Évora. Ha sido, además, docente en las Universidades de Coímbra, Lisboa, París-Sorbona, Oxford, Berlín (Freie), Yale y Nueva York (Graduate Center), entre otras. Publicó los libros Camões, Corte-Real e o sistema da epopeia quinhentista (2001), Tempo para Entender: história comparada da literatura portuguesa (2006) y Jerónimo Corte-Real. Sepúlveda e Lianor. Canto Primeiro (2014). Asimismo, ha colaborado en volúmenes y revistas académicas nacionales e internacionales. Es el Presidente de la Associação Portuguesa de Literatura Comparada desde 2013.


Antonio Ramajo Caño, doctor en Filología Románica por la Universidad de Salamanca y Catedrático de Literatura Española, ha dedicado gran parte de su investigación a la literatura de los Siglos de Oro, desde diversos enfoques, entre los que destaca el estudio de las deudas con la tradición grecolatina. De su amplio repertorio de publicaciones pueden entresacarse la edición de la Poesía de fray Luis de León (Biblioteca Clásica) y de las Bucólicas (Églogas) de Virgilio, traducidas por fray Luis de León (Clásicos Castalia). Recientemente ha aparecido su Tópica y vida en la literatura áurea: la herencia clásica (Universidad de Salamanca), obra que aborda con planteamientos exhaustivos el origen de los principales temas literarios de esta época.


Isabel Almeida, Profesora de la Universidade de Lisboa, se ha dedicado al estudio de los libros de caballería portugueses, la poesía de Camões y de D. Manuel de Portugal, la obra de António Vieria, así como el teatro de Gil Vicente y de Jorge Ferreira de Vasconcelos. Entre sus trabajos pueden destacarse Orlando Furioso em livros portugueses de cavalarias: pistas de investigação, Poesia, furor e melancolia: notas sobre Ariosto e Camões, Guerra e paz: leituras seiscentistas de CamõesLeituras de Camões no tempo dos Filipes


Soledad Pérez-Abadín Barro, Catedrática de Literatura Española de la Universidade de Santiago de Compostela, ha dedicado su atención preferente a la poesía española del siglo XVI. Actualmente se ocupa de la poesía hispano-lusa y las relaciones interliterarias peninsulares, temas a los que ha dedicado su reciente libro Iberae fidicen lyrae: anotaciones de poética peninsular y previos volúmenes colectivos coordinados en colaboración con otros expertos: Letras hispanoportuguesas de los siglos XVI y XVII: aproximaciones críticas (Criticón, 134) y Entre Italia, Portugal y España: ensayos de recepción literaria (USC Editora-Académica).


Martha Blanco González, doctora por la Universidade de Santiago de Compostela, ha centrado su investigación en las Rimas várias de Luís de Camões, de Faria e Sousa, obra a la que ha dedicado diversas publicaciones como “Manuel de Faria e Sousa: entre la exégesis humanista y el ensayo”, así como su tesis doctoral, que se ocupa de la vertiente historiográfica de estos comentarios. Asimismo, ha colaborado en la coordinación de los volúmenes monográficos Letras hispanoportuguesas de los siglos XVI y XVII: aproximaciones críticas (Criticón, 134) y Entre Italia, Portugal y España: ensayos de recepción literaria (USC Editora-Académica).


Maria do Céu Fraga, Profesora de la Universidade dos Açores, ha centrado su investigación en la literatura portuguesa clásica, especialmente en los estudios y en temas como el bucolismo, los géneros literarios y la docencia de la literatura. De sus publicaciones pueden destacarse los estudios dedicados a Camões y a su comentarista Faria e Sousa, entre los que destacan los siguientes libros: Camões: um bucolismo intranquilo, Os géneros maiores na poesia lírica de Camões y Babel e Sião: um manuscrito da Camoniana de D. Manuel II. También se ha ocupado de la obra poética de Diogo Bernardes en numerosos trabajos, con especial atención a sus églogas y a los problemas de autoría.


José Miguel Martínez Torrejón, licenciado por la Universidad Autónoma de Barcelona y doctor por la de California (Santa Bárbara), es profesor en la City University of New York. Sus trabajos de investigación se dedican a observar la palabra y su manipulación, aplicando el análisis filológico y retórico al estudio de la historia de las ideas y los usos políticos de la literatura. Entiende los estudios ibéricos como un todo donde se entreteje lo español, portugués y latinoamericano. Recientemente ha publicado la Miscelânea sebástica da Ajuda (con la Lamentable pérdida de Jerónimo Corte-Real) y Los pre-textos de «La Florida del Inca». Está en prensa su nueva edición de la Brevísima relación del padre Las Casas (Cátedra), y sigue trabajando en su monografía sobre Don Sebastián vivo y muerto.


Eduardo Aceituno Martínez es doctor por la Universidad de Santiago de Compostela y profesor de Filología Francesa en la Universidad de Granada. Su investigación se ha centrado en los aspectos teóricos y creativos de la poesía francesa del siglo XVI, con especial atención a Amadis Jamyn, revalorizado gracias a sus estudios. Destacan asimismo sus publicaciones sobre diversos escritores franceses del siglo XX y contemporáneos. En colaboración con David Lea, ha coordinado las I Xornadas de Iniciación á Investigación en Estudos da Literatura y el volumen colectivo Dende o futuro da investigación literaria: liñas, métodos e propostas








2023/06/19

"Camões, criador de personagens" um dos temas do ColóquioInternacional Figuras da Ficção 6 - Sobrevidas da Personagem

 



Colóquio Internacional Figuras da Ficção 6 - Sobrevidas da Personagem

Coordenação do Professor Carlos Reis


19, 20 e 21 JUN. 2023 | Faculdade de Letras da U. Coimbra

Organização:

Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra











"Esta é a sexta edição de uma reunião científica que junta investigadores do projeto “Figuras da Ficção”, cujos resultados têm sido divulgados no Dicionário de Personagens da Ficção Portuguesa
Para além do contributo daqueles investigadores, o colóquio “Figuras da Ficção 6” abre-se a comunicações por outros participantes, subordinadas ao tema desta edição: “Sobrevidas da Personagem”. 
Do mesmo modo, estão programadas conferências por personalidades com reconhecido prestígio no campo dos estudos narrativos.

Está hoje adquirido o conceito de sobrevida, implicando a noção de que a personagem vive uma existência autónoma que permite reencontrá-la e aos sentidos que sugere, em práticas narrativas e não narrativas, bem como em mensagens não literárias. 
As transposições intermediáticas ou adaptações (p. ex., em filmes de ficção ou em edições ilustradas) constituem casos relativamente frequentes de sobrevida da personagem, eventualmente em regime paródico."






20 JUN. 2023 | às 9h30 | No Anfiteatro III, da FLUC

CAMÕES, CRIADOR DE PERSONAGENS


"Dinamene: criação e sobrevida de uma personagem camoniana"

"Travelling de Coimbra ao Restelo: Camões no cinema português"
por Abílio Hernandez Cardoso



Mesa Plenária dedicada a Camões, coordenada por José Augusto Cardoso Bernardes
e com a presença dos Professores Maria do Céu Fraga e Abílio Hernandez Cardoso.
Imagem em Figuras de FicçãoFacebook, 20-06-2023






para saber +


Programa completo | PDF








Redação: 15.09.2024

2023/06/12

A vida de Luís Vaz de Camões, por José Movilha





José Movilha em traje do séc. XV (foto no perfil do Facebook do escritor)


"ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE..."

Autoria: José Movilha
In: Athanor de Letra, 10.06.2011




Jau acercou-se do pobre leito, a um aceno do amo. Tinha escondido a escudela com as poucas moedas esmoladas na Rua Nova dos Mercadores. O amo Luís Vaz não queria que ele pedisse e recebesse insolências, fosse assaltado por malfeitores em qualquer beco pouco iluminado, ou se soubesse que pedia para a casa. Ainda lhe borbulhava na alma o orgulho de fidalgo, embora pobre, e o reconhecimento de umas tantas gentes cultas que sabiam o que era a arte poética. Aquele catre diminuto e insalubre na Calçada de Santana, era o refúgio dos três, e ali enfrentavam a miséria Luís de Camões, sua mãe Ana e o fiel javanês a quem tinha baptizado António, mas que era tratado por Jau. A magra tença de 15.ooo réis anuais, atribuida por El Rei D. Sebastião, mal dava para viverem, a maior parte das vezes chegava atrasado o pagamento e tinham que ir falar com D. Pedro de Alcaçovas Carneiro, escrivão da puridade; daí as preocupações de Jau em arranjar mais alguns meios de subsistência.

Últimamente soerguia-se do leito, a breves períodos, enquanto as malfadadas terçãs não o cobriam de suor febril, quando assim era ainda escrevia e lia. Acariciava contra o peito o seu livro impresso há oito anos Os Lusíadas; antes a morte que ter perdido aquele manuscrito. Mas, cruéis fados, perdeu-se a doce Dinamene: "Ah! minha Dinamene! Assim deixaste / Quem não deixara nunca de querer-te! / Ah! Ninfa! Já não posso ver-te, / Tão asinha esta vida desprezaste!" Ah, como se pode viajar com a mente!... Quando saía de sua casa na Mouraria, para ir ter com seu pai aos armazéns das guardadas coisas da Guiné e da Índia. Tinha muito orgulho na sua descendência fidalga, e na sua condição de "escudeiro"; não queria ser "rascão", como mestre Gil Vicente chamou, nos seus autos, a alguns da sua condição. Logo no ano do seu nascimento um presságio astrológico dizia que ia acontecer um dilúvio de proporções bíblicas, nada que molestasse as musas da sua inspiração. Que recordação dos seus estudos em Coimbra, no colégio de Todos-os-Santos; os estudos da Gramática, Retórica, Dialéctica, Filosofia; mas, do que mais gostava era do Latim. Que mundos de acesso me deu!... Os clássicos gregos, romanos; a biblioteca do mosteiro de Santa Cruz, onde li as obras de Petrarca - a quem tomei por modelo -, Bembo, Garciliano, Ariosto, Tasso, Bernardim Ribeiro; como foi bom saber italiano e escrever castelhano."

"Doces e claras águas do Mondego, / Doce repouso da minha lembrança / Onde a conquista é pérfida esperança / Longo tempo após si me truxe cégo. / De vós me aparto, sim, porém não nego, / Que inda a longa memória que me alcança, / Me deixa de vós fazer mudança, / Mas quanto mais me alongo mais me achego."

Jau ouvia falar tantas coisas ao seu amo. A maior parte não as percebia, não tinha instrução, fazia-se entender e percebia as palavras tão diferentes desta gente de pele branca. O amo falava em Natércia, Bárbara, Dinamene, Maria, Maria era o nome que mais pronunciava quando estava febril. Ele, Jau, como as aves coloridas que falavam lá na sua terra, aprendeu uma melopeia que lhe cantava baixinho: "Aquela cativa, / que me tem cativo / porque nela vivo, / já não quer que viva. / Eu nunca vi rosa / em suaves molhos, / que para meus olhos / fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,/ nem no céu estrelas/ me parecem belas/ como os meus amores./ Rosto singular,/ olhos sossegados,/ pretos e cansados,/ mas não de matar.

Ua graça viva, / que neles lhe mora, / para ser senhora / de quem é cativa.../  Pretos os cabelos, / onde o povo vão / perde opinião / que os louros são belos.

Pretidão de Amor, / tão doce a figura, / que a neve lhe jura / que trocara a cor. / Leda mansidão / que o siso acompanha;/  bem parece estranha, / mas bárbara não.

Presença serena / que a tormenta amansa; / nela, enfim, descansa / toda a minha pena. / Esta é a cativa / que me tem cativo. / E pois nela vivo, / é força que viva."


Aquietava-se tanto quando tal ouvia que parecia que todo o seu ser se revigorava. A velha mãe assumava por entre o velho pano que dividia o catre e ficava a contemplá-lo mudamente. "O seu Luís Vaz, que tantos anos se apartou das suas gentes!... Cruel mutilação lhe deformou a visão, e tantos e tão rudes padecimentos passou, tanto envelhecendo em tão poucos anos".


Aos dezoito anos vê a Lisboa que ainda tem largadas do Tejo. A Lisboa que recebe um fidalgo pobre mas atraente de porte e jovialidade, cabelos arruivados, olhos expressivos, modos de saber estar e falar. Era ainda um voluntarioso lutador e um hábil espadachim. Foi doidivanas, foi; teve rameiras por companhia, arruaceiros, embarcadiços de passagem. Até inventou um nome "Malcozinhado", para designar famosa barraca da Ribeira onde o vinho corria célere nas gargantas e se "comia quer bem, quer mal", a origem do epíteto. A sua vivacidade e composição poética dá nas vistas. Conhece por via disso D. Manuel de Portugal; poeta, senhor de alta condição social e frequentador da corte. Na mesma altura, no Pátio de Comédia, onde se dizia poesia e representavam pequenas peças e autos; conhece o franciscano António Ribeiro Chiado, poeta e apreciador do despontar artístico de Camões. É Ribeiro Chiado que alcunha Luís Vaz de Camões, de "Trinca- Fortes", por ele nunca virar a cara a qualquer injustiça e fazer frente a pretensos fortalhaças que molestavam indefesos. Finalmente a apresentação no Paço da Rainha em Xabregas, onde D. Catarina, mulher de D. João III, organizava saraus culturais. E, no Palácio da Infanta D. Maria, irmã do rei. Neste seletivo ambiente da corte conhece ainda Francisco de Morais, poeta e novelista, autor de um romance de cavalaria muito apreciado, Palmeirim de Inglaterra. Estabelece também amizade com D. Francisco de Noronha, que fora embaixador em Paris e camareiro-mor da rainha D. Catarina. Tudo isto seria determinante para a integração do poeta neste meio. Passado algum tempo as donzelas disputavam o favor das suas estrofes numa folha de papel; e os "motes" sucediam-se, devolvidos em glosa artística e elegante. Certa vez D. Francisca de Aragão, senhora de alta erudição e beleza, que brilhava nos serões da corte, propos um complicado mote a Camões: «Mas porém que cuidados?» - ao que o poeta respondeu:

"Se as penas que Amor me deu/  Vêm por tão suaves meios, / Não há que temer receios, / Que vale um cuidado meu / Por mil descansos alheios. / Ter nuns olhos tão formosos/  Os sentidos elevados, / Bem sei que em baixos estados / São cuidados perigosos. / Mas, porém, ah! que cuidados!"


Claro, que tanto talento e bonita figura despertava algumas invejas, mais evidentes nos homens de letras seus pares. Parece que desse despeito cultivou Pêro de Andrade Caminha. Pouco tempo depois, aconteceu, o poeta ter tido a sua primeira paixão, numa marcada Sexta-Feira-Santa de 1544 , na igreja das Chagas. Camões vê Catarina, que por anagrama criado por si, dará mais tarde o nome de Natércia. Catarina era uma jovem e linda camareira da rainha e tinha 14 anos; Camões tinha 20 anos e estava na pujança da sua figura. A jovem não é indiferente a Luís Vaz. Mas, a condição de fidalgo sem meios de fortuna é um óbice que o perseguirá sempre negando-lhe amores que ele até vê correspondidos. "Ah, Natércia cruel! Quem te desvia / Esse cuidado teu do meu cuidado? / Se tanto hei de penar desenganado, /  Enganado de ti, viver queria..."

Mesmo passando à condição de aio de D. António de Noronha, cargo que pouco mais era do que escudeiro, Camões não tinha qualquer condição de manter amores na corte ou fora dela, com qualquer mulher de elevada condição fidalga. Se não bastasse um primeiro desengano de amor, aparece logo a seguir um outro enlevo, mais profundo e inatingível, que marcará ainda mais a vida do poeta. A Infanta D. Maria, irmã de D. João III, de uma cultura muito elevada e personalidade vincada, vive independente no Palácio de Santa Clara, onde recebe a fina flor das artes do país. D. Maria aprecia muito o génio de Camões, e nasce entre ambos uma afinidade intelectual muito elevada, não pondo a Infanta qualquer marca na tão elevada condição social que os separava. Os dias passam e D. Maria maravilha-se com o talento de Luís Vaz. Por sua vez este, vê na Infanta a elevação espiritual e intelectual capaz de o compreender e aos seus sonhos. A este desejado amor de Camões, que dizer: se com D. Catarina, teve tão fugaz desfecho, com a Infanta de Portugal, tal nunca poderia acontecer. O poder régio é informado: Camões é brandamente banido; parte para uma espécie de exílio interno, sendo obrigado a permanecer a uma certa distância de Lisboa. A este afastamento, escreve:

"Aquela triste e leda madrugada. / Cheia toda de mágoa e de piedade, / Enquanto houver no mundo saudade, / Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada, / Saía, dando à terra claridade, / Viu apartar-se uma outra vontade, / Que nunca poderá ver-se apartada;

Ela só, viu as lágrimas em fio / Que de uns e de outros olhos derivadas, / Juntando-se, formaram largo rio; 

Ela ouviu as palavras magoadas / Que poderão tornar o fogo frio, / E dar descanso às almas condenadas."


Camões enceta a sua longa diáspora que há-de começar aqui e levá-lo a muitos lugares do mundo. Procura o bucolismo das margens do Tejo; parece ser em Constância que vive os três longos anos que o afastam da capital do reino. Lê, escreve, escreve muito, já, de certo constava, no seu íntimo criativo a génese de um grande épico que contasse as glórias lusas. Em Ceuta perde a visão do olho direito. Regressa, e na entrega de defender amigos, fere à espada um escudeiro da corte. É preso na mais hedionda das prisões, a do "Tronco"; junto a uma ralé medonha sofre os designios dessa proximidade. Os amigos angariam algum dinheiro para compra ao carcereiro de algumas condições, vela de iluminação, papel e pena. Camões é esquecido das vistas do seu Tejo que ama, durante nove meses. Sai, e após duas semanas parte numa armada para a Índia; logo à saida da barra perde-se por naufrágio uma das quatro caravelas. A sua saudade é grande quando deixa para trás o monte " Cintio":

"Já a vista pouco a pouco se desterra/  Daqueles pátrios montes que ficavam; / Ficava o caro Tejo e a fresca serra/  De Sintra, nela os olhos se alongavam. / Ficava-nos também na amada terra / O coração, que as mágoas lá deixavam; / E já depois que tudo se escondeu, / Não vimos mais, enfim, que mar e céu."

Camões, não obstante a dureza da viagem, maravilha-se nas observações preciosas que contribuirão muito para a narrativa do seu épico poema. Naquele setembro de 1553, a nau São Bento chega a Goa. Daqui sai para outras paragens, como soldado combatente das guarnições das naus. Vai conhecer as águas do golfo Pérsico. Vai em frotas de comércio fazer negócios no Extremo Oriente, o "trato da China"; Ceilão, Malaca, Ternate e Banda. Assiste a temíveis massacres. Ele, um humanista, tem que conviver com a desumana voragem da cobiça do oiro e com o pouco valor dado à vida humana. Chega a ir a Macau, onde se instala com os desvelos da sua companheira Dinamene, numa cenóbica gruta, pensa ter encontrado tranquilidade para acabar o seu grande poema. A força bruta inquieta-o mais uma vez. Um capitão de nau que diz ter pertença de leis naquele local dá voz de prisão a Camões. No regresso a Goa, a nau naufrága nos baixios do rio Mecong. Dinamene morre, Camões nada com desespero apertando o manuscrito dos seus poemas épicos, entre os fracos retalhos das suas vestes. Vagueia, faminto e ferido por entre praias com gente estranha, comendo dos parcos alimentos, dos restos das populações que encontrava. Consegue ir para Malaca e depois para Goa. Parecem os "fados" querer dar algumas tréguas aos infaustos do poeta. Encontra alguns amigos: João Lopes Leitão, Vasco de Ataíde, Jorge de Moura. Encontra Garcia da Orta, humanista, médico e botânico, é nesta altura um septuagenário que tem em preparação uma grande obra científica Colóquio dos Simples e das Drogas. Mostra-a ao poeta, que logo, culto como era, viu da importância que se revestia a impressão, testemunhando a favor do alvará junto do Vice-rei. Passados estes mais de cinco anos de obrigatoriedade de cumprir na Índia. Luís pensa em regressar a Lisboa. Consegue libertar da escravatura um jovem, natural da ilha de Java, empenha-se em catequizá-lo, dá-lhe o nome de António, cria com ele grandes laços de amizade, e logo pensa em trazê-lo para Portugal. Parte Camões, e o seu fiel Jau, da Índia; naquele ano de 1567. Rumando para Moçambique. Não estavam sanadas as desventuras do poeta, e o capitão Pedro Rolim empresta 200 cruzados a Luís. Logo em Moçambique quer imperiosamente que Luís Vaz lhe pague, sendo muito contundente para com ele.Valem-lhe os amigos, que encabeçados por Diogo de Couto, fazem uma colecta e pagam a dívida. Em Novembro de 1569, Camões abandona Moçambique, na nau Santa Clara, sobre o comando de D. António de Noronha. Entra no Tejo e revê as sete colinas e os ares de Lisboa, estivera afastado durante 17 anos. Sentia-se um estranho: alquebrado, envelhecido, pobre, quase sem conhecer alguém que por ele tivesse interesse. Da família, só a sua envelhecida mãe Ana. Vai viver para uma velha casa com duas pequenas divisões, para os lados da Calçada de Santana. São três as almas que se amparam: Luís, Ana e Jau. Depois de muito porfiar para obter permissão para publicar o seu poema épico Os Lusíadas, com a ajuda de antigos amigos que ainda lembravam o seu génio: D. Francisco de Noronha, Dona Francisca de Aragão que apreciava o poeta e se lembrava dele, das sessões do Paço; sendo ela, a pedir a D. Pedro de Alcáçova Carneiro, escrivão da puridade e da confiança de D. Sebastião, que fosse facilitada a licença régia. Sendo ainda, submetido o manuscrito ao parecer da inquisição. Finalmente o livro é impresso em 1572, tendo os primeiros exemplares muitos erros tipográficas e ainda alguns cortes da censura; condição só reposta dez anos após a morte do poeta e na 4.ª edição de 1608.

"Eis-me no fim!... Carrego eu e esta pátria tanto sofrer, a vil peste que ceifa sem temperânça. Agora as notícias da funesta campanha do Norte de África, de que dizem as novas que se perdeu grande parte da mocidade desta lusa terra. O rei D. Sebastião que ninguém sabe onde está, e que todos esperam que apareça para alento da continuada nação". A tosse rompe-lhe aqueles balbúcios evocativos. Jau chega-lhe aos lábios uma tisana de plantas que são um último fel e que nada modificam do seu febril estado. Ajeita-lhe a cabeça com desvelo enquanto lhe limpa uma muda lágrima que não chega a irromper daquelas pregas sem visão. A fraca luz da vela estremece de mudança, tinha dado alento aos últimos escritos. Estes eram para D. Francisco de Noronha, que sempre percebeu do seu astro.

«Foge-me, pouco a pouco, a curta vida, se por acaso é verdade que inda vivo; choro pelo passado; e, enquanto falo, se me passam os dias passo a passo. Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena. Enfim acabei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela.»









2023/06/06

Sessão na ACL sobre a Edição Crítica da Obra de Luís de Camões

 



Edição Crítica da Obra de Luís de Camões

Evento, presencial e à distância

06 JUN 2023 | 15h - 17h

Na Academia das Ciências de Lisboa - Sessão da Classe de Letras


com a participação
dos investigadores camonistas:

Rita Marnoto | CIEC, Coimbra

Barbara Spaggiari & Maurizio Perugi | CIEP, Genebra



Acesso Zoom:





Comunicações:










A edição crítica da princeps de Os Lusíadas
- por Rita Marnoto.




















A edição crítica das Redondilhas
- por Barbara Spaggiari.

























A edição crítica dos Sonetos - por Maurizio Perugi.