2023/10/15

A romagem anual à Gruta de Camões, em Macau



Romagem camoniana em 10 de junho de 2023

A romagem anual à Gruta de Camões

Desde 1923, terá tido início a romagem cívica e cultural anual à Gruta de Camões, mobilizando as escolas e os representantes da comunidade portuguesa e chinesa. Foi instituída pelo governador Rodrigo José Rodrigues (1879-1963), mobilizando as escolas e os representantes das comunidades portuguesa e chinesa.


"A tradicional romagem à Gruta de Camões é uma interessante característica da vida cultural, educacional e social de Macau, instituída pelo governador Rodrigo José Rodrigues em 1923.

O Padre Manuel Teixeira refere que a 
“iniciativa partiu dum patriota exaltado e fervoroso cultor de Camões, o Governador Rodrigo José Rodrigues, que logo no primeiro ano da sua chegada a Macau convidou as escolas e as forças armadas para irem à gruta homenagear o épico. E, caso único na história destas romarias, foi ele que enalteceu o vulto imortal do poeta e a sua emoção foi tão profunda que desatou a chorar, tendo de interromper o discurso”. [Fonte: xx]

[...] Desde então a romagem à Gruta de Camões ficou institucionalizada ao mesmo tempo que se legitimou a presença histórica de Luís de Camões em Macau. Camões esteve em Macau, sem dúvida, e o recente livro de Eduardo Ribeiro vem reforçar essa tese, aduzindo uma argumentação tão inteligente quanto historicamente segura. Gostaria de evocar a romagem à Gruta de Camões realizada no ano de 1937.

O governador Artur Tamagnini Barbosa cometeu a António Maria da Silva, Chefe da Repartição Técnica do Expediente Sínico, a tarefa de proferir uma conferência sobre a vida e a obra de Luís de Camões, no dia 10 de Junho de 1937, no cenário bucólico da Gruta, perante a mocidade escolar, o professorado, os convidados e as autoridades da Província.

António Maria da Silva evoca a constelação de valores do seu tempo: 
“Graças a Deus, Portugal vai regressando ao seu antigo apogeu, desde que passou novamente a tomar como lema da sua nacionalidade a Fé e o Patriotismo, a Religião e a Pátria. Devemos incontestavelmente este nosso regresso à Fé e ao Amor de Deus ao facto de sermos guiados por esse homem extraordinário que se chama António de Oliveira Salazar, português de raça e católico de alma e coração. Camões nunca separou a sua Pátria do seu Deus; Camões nunca imaginou que Portugal pudesse ser grande, sem o auxílio do Alto”. [Fonte: xx] 
António Maria da Silva será, bastantes anos volvidos, deputado na V legislatura da Assembleia Nacional, em Lisboa. Essa interessante conferência é publicada nas línguas portuguesa e chinesa, em 1937, com o insólito título de Sumário dos Luziadas. A versão chinesa foi revista por Chu-Pui-Chi, letrado da Repartição Técnica do Expediente Sínico*.

António Aresta, in Jornal Tribuna de Macau, n.º 3771, 9.6.2011
(excertos do artigo)




Sumário dos Luziadas: 
ampliação do discurso proferido no dia 10 de junho de 1937, 
no jardim da gruta de Camões em Macau.
por António Maria da Silva 
[então “Chefe da Repartição Técnica do Expediente Sínico”]. 
– Edição bilingue, em chinês e em português, 
Macau: Imprensa Nacional. – 68 p. 










Rodrigo José Rodrigues (28.03.1879 - 18.01.1963)
Foi um médico militar e político português.

Foi capitão-médico do Exército do Ultramar, com comissões em Cabo Verde (1903) e na Índia (1904-1910); reitor do Liceu de Goa; ministro do interior (1913-1914); governador civil dos distritos de Aveiro e do Porto; deputado (1913; 1918-1922), vogal do Conselho Colonial; governador de Macau (1922-1924) e adido da legação de Portugal na Sociedade das Nações (1924-1927).





  1. Coroas de flores das entidades que coorganizaram a romagem camoniana, em 10 JUN 2023 (fotografia na página do IIM no Facebook).
  2. Jovens da Escola Portuguesa de Macau e outros visitantes na gruta de Camões, 10 JUN 2023 (fotografia na página do IIM no Facebook).
  3. Grupo em romagem, em 1925 (fotografia in Macau antigo, de João Botas).
  4. Turistas chineses na gruta de Camões, nas década de 1910/20 (fotografia in Macau antigo, de João Botas).
  5. Turistas ocidentais na gruta de Camões nas década de 1930/40 (fotografia in Macau antigo, de João Botas).




2023/10/08

Camões e Chaves - o nascimento

Luís de Camões. Onde nasceu o autor de Os Lusíadas?

por Secundino Cunha


"AIguns especialistas apontam Lisboa como o lugar mais provável, outros Coimbra, mas apenas por o autor de 'Os Lusíadas' ter passado parte da sua con-urbada existência entre a capital, sede da Corte, e a "Rainha do Mondego", terra da universidade e do multisciente Mosteiro de Santa Cruz. Mas ultimamente têm surgido estudos e teses que apontam a aldeia de Vilar de Nantes, nos arredores de Chaves, como o sítio mais provável da natividade do homérico poeta, que vai fazer 500 anos dentro de poucos meses.

O total desconhecimento quanto ao lugar de nascimento de Camões tem a ver com o facto de, antes do Concílio de Trento, que decorreu entre1561 e 1575, não haver obrigatoriedade de assento de nascimentos e óbitos. Só boa parte das famílias nobres, por sua iniciativa, procediam a esses registos. Ora, Luís de Camões, que nasceu em 1524 (há quem defenda 1525 - como se vê nem a data de nascimento é uma certeza) não pertencia à alta nobreza e, como se sabe, chega, na sua obra lírica, a lamentar as suas despojadas origens.

Sabe-se, no entanto, e isso está documentado nos arquivos da Arquidiocese de Braga, que os avós paternos do grande poeta residiram na aldeia flaviense de Vilar de Nantes e que lá, numa casa de granito ainda hoje conhecida como a "casa dos avós do Camões" , nasceram os seus oito filhos, entre os quais o pai do épico, Simão Vaz de Camões.

Os avós do poeta, Antão Vaz e Guiomar Vaz, seriam naturais de Coimbra e teriam, ainda jovens, rumado a terras do Norte de Portugal, devido a problemas com a justiça. Acontece que, em meados do século XV, D. Afonso, filho ilegítimo de D. João I de Avis e primeiro duque de Bragança, criou, enquanto alcaide de Chaves, um couto de foragidos, como forma de combater a desertificação daquelas terras do Interior, confinantes com a Galiza. O que acontecia era que o alcaide perdoava penas leves a quem aceitasse fixar-se naqueles territórios.

O que dizem os arquivos?

Foi por essa via que os jovens Antão Vaz e Guiomar Vaz, recém-casados, cimentaram residência naquela região do País. Dizem os documentos da época que a este jovem casal foram concedidos alguns privilégios relacionados com a igreja de Vilar de Nantes, como, por exemplo, receber a "ração", que resultava dos impostos pagos pela restante população.

De resto, nos arquivos da Arquidiocese de Braga (na época abrangia todo o território correspondente às re-giões do Minho e de Trás--os-Montes) há documentos que comprovam que Simão Vaz de Camões, o pai do épico Luís, estudou nas escolas arquidiocesanas, onde obteve as designadas ordens menores, um grau eclesiástico abaixo de sacerdote. Significa que o pai do poeta era uma pessoa bastante culta para a época e que pode ter passado o interesse pelos estudos ao filho.

Posto isto, concluímos que os avós de Camões residiram em Chaves e que o pai de Camões nasceu e residiu em Chaves, na aldeia de Vilar de Nantes. E Luís Vaz de Camões? Bem, é possível que também tenha nascido neste lugar, mas não há forma de o confirmar. Até porque o pai, Simão Vaz de Camões casou com uma escalabitana - Ana de Sá. E se hoje Santarém fica longe de Chaves, imaginemos, não do ponto de vista geográfico, mas do ponto de vista do tempo e do modo de vencer uma distância de 380 quilómetros, como seria há 500 anos. Quer isto dizer que tanto Ana Sá pode ter ido para Chaves, como Simão Camões para Santarém. Ou os dois para Lisboa, para Coimbra ou para qualquer outra região do País.

Fugir da peste

Acontece que, nesses tempos de início do século XVI, a zona centro do País, com particular incidência em Lisboa, era assolada por uma epidemia de peste, causadora de muitas mortes e, por isso, é natural que o jovem casal tenha optado por se fixar no Norte, ficando, por um lado, próximo da família de um deles e, por outro, distante do terrível flagelo sanitário que grassava de Coimbra para baixo.

Dessa forma, há fortes probabilidades de Camões ter nascido na região que hoje forma o território do município de Chaves e, por maioria de razão, naaldeia de Vilar de Nantes.

E mesmo não tendo nascido nestas terras, pode aí ter residido algum tempo, já que, na sua obra poética, são referidas algumas localidades, como Vale de Lassa ou Monterrei, que pertencendo hoje ao território da Galiza, são muito próximas de Chavee, em algumas fases da História, terão integrado a jurisdição flaviense.

Certezas ninguém tem e dificilmente alguém terá. Aliás, os dedos de duas mãos chegam e sobram para contar os factos historicamente confirmados da vida e da geografia do grande poeta. Sabe-se que passou boa parte da juventude em Lisboa, que estudou em Coimbra (ou na
Universidade ou no Colégio de Santa Cruz), que em 1550 realizou a primeira milícia no Norte de África, onde perdeu um olho em contexto de campo de bata-ha, e que, regressado a Portugal, foi preso, em 1552, por ter agredido um arrieiro da Casa Real.

Documentada está ainda a sua partida para a Índia, a 24 de março de 1553, na nau 'São Bento', da armada de Fernão Álvares Cabral (filho do descobridor do Brasil), e o naufrágio que sofreu em finais da década, vindo de Goa sob prisão, e em que conseguiu salvar o manuscrito de 'Os Lusíadas' a nado. Sabe-se também que regressou à Pátria em 1570, que publicou 'Os Lusíadas' em 1571 [sic], com privilégio real concedido por D. Sebastião, e que morreu, vítima de peste, a 10 de junho de 1580. E, para além disso, que, numa das vezes que foi preso, esteve encarcerado numa cela da margem direita do rio Tejo, em Constância, onde hoje se ergue a Casa-Memória de Camões."

Secundino Cunha
(n. 1967) Jornalista, editor do 'Correio da Manhã'.
Autor de livros sobre escritores portugueses e as casas onde terão escrito a sua obra:
 Casas de Escritores no Minho (2007), Casas de Escritores no Douro (2011), 
Casas de Escritores no Alentejo (2012), Escritores a Norte (2015),
Eça de Queiroz e a Casa de Tormes (2014), Raul Brandão e a Casa do Alto (2018)
A Casa de Teixeira de Pascoaes (2027)







para saber +


Secundino Cunha
Luís de Camões. Onde nasceu o autor de 'Os Lusíadas'?
in Correio da Manhã, Especial Domingo, 8.10.2023
Reproduzido em Município de Chaves | Facebook, 14.10.2023












Redação: 14.09.2024

2023/10/07

Edição dos sonetos de Camões por Mauricio Matos e reedições de outros estudos

 

"O entendimento de meus versos: 

sonetos atribuídos a Luís de Camões entre 1595 e 1616"

Organização de Mauricio Matos



A obra está disponível 
para descarregar gratuitamente








A obra faz uma compilação dos sonetos atribuídos a Luís de Camões 
entre os anos de 1595 e 1616, ou seja: as chamadas primeira e segundas partes das Rimas.
Originalmente, os sonetos foram agrupados de acordo com a ordenação das Rhythmas (1595), publicadas quinze anos após a morte do autor por Fernão Rodrigues Lobo Soropita.

A atual edição, apenas  contendo os sonetos, 
organizada e anotada pelo professor Doutor Mauricio Matos,
contém o Prefácio de Soropita e 
reune as transcrições dos paratextos originais, da edição de 1595.

Esta última parte - a transcrição dos paratextos da edição de 1595,
por si só já valia o título agora publicado
pelo Professor Mauricio Matos. 









Já viu?
As segundas edições revistas das obras 
“Investigações camonianas (1998-2008)”
“Ao longo da ribeira: estudos de literatura portuguesa (2000-2010)”
escritas pelo professor Mauricio Matos, j
á estão disponíveis em formato digital e 
em acesso aberto no Repositório Institucional da UEA!

Os livros estão ligados a um tema em comum: o estudo da literatura portuguesa. 

Enquanto “Investigações camonianas (1998-2008)” reúne artigos acadêmico-científicos 
sobre o trabalho, a história e a vida do poeta português Luís de Camões, 

a obra “Ao longo da ribeira: estudos de literatura portuguesa (2000-2010)” apresenta ao leitor artigos diversos sobre épocas e autores distintos da literatura portuguesa dos séculos XVI e XX. 

Ricos em informação, os livros, em sua nova edição, buscam oferecer perspectivas sobre a literatura portuguesa, a pesquisa e autores de Portugal."










para saber +





MATOS, Mauricio, org., pref. e notas (2023) 
O entendimento de meus versos: sonetos atribuídos a Luís de Camões entre 1595 e 1616
Manaus (AM): Editora UEA.


MATOS, Mauricio
Investigações camonianas (1998-2008). 
2. ed. rev. Manaus: Editora UEA, 2022.

MATOS, Mauricio
Ao longo da ribeira: estudos de literatura portuguesa 2000-2010.
2. ed. rev. Manaus: Editora UEA, 2022.








Redação: 7.09.2024

2023/10/04

II jornada CAMÕES: IMAGO POETӔ, 4 out. 2023

 


"CAMÕES: IMAGO POETӔ"

II JORNADA 

4 de outubro de 2023

Auditório do Colégio de Santo António da Pedreira | Coimbra

Reunião Zoom:
ID da reunião: 979 3601 5378

Organização: 
Grupo de Trabalho “Camões no Mundo” / CIEC.

Colaboração: 
Colégio de Santo António da Pedreira
Casa da Infância Doutor Elysio de Moura
Casa-Museu Elysio de Moura.









CENTRO INTERUNIVERSITÁRIO DE ESTUDOS CAMONIANOS 
Grupo de Trabalho “Camões no Mundo”

II JORNADA
“CAMÕES: IMAGO POETӔ”

PROGRAMA


10h30 Sessão de abertura 

11h00:
  • Camões em Macau: preservação de uma memória mítica / Sara Augusto (UPM), Lola Xavier (UPM).
  • Camões em França ontem e hoje: algumas notas breves / João Domingues (U.Coimbra).
  • Camões made in Goa / Delfim Correia da Silva (U.Goa)

12h30: Pausa de almoço 

14h30: 
  • Considerações sobre a II Jornada “Camões: Imago Poetae” / Manuel Ferro (U.Coimbra / CIEC).
  • Na oriental praia africana: a estátua de Luís Vaz de Camões na Ilha de Moçambique” / Milton Pacheco (U.Coimbra / CIEC).
  • Camões monumental, no Brasil / Maria Aparecida Ribeiro (U.Coimbra / CIEC).
15h45: Pausa de café

16h00: 
  • Um claridoso Camões no Mindelo / Manuel Ferro (U.Coimbra / CIEC).
  • Onde o mar se acaba e a terra começa (Japão) / Sayuri Goda (U.Coimbra / CIEC).
17h00 Encerramento