2024/07/22

Camões no XIV Congresso da AIL, Porto 2024




XIV Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas


22 a 26 JUL. 2024 | na Faculdade de Letras da Universidade do Porto


Comissão Organizadora:

Isabel Margarida Duarte | FLUP / CLUP | Filipa Araújo | U. Coimbra
Inês Amorim | FLUP / CITCEM | Maria de Fátima Outeirinho | FLUP / ILC
Rui Sousa-Silva | FLUP / CLUP | Sabrina Sedlmayer | U. Fed. Minas Gerais
Frederico Fernandes | U. Est. Londrina | Carlos Ascenso André | Presidente da AIL




"O encontro reúne académicos de renome que apresentarão as novidades 
na cultura e na investigação em e de língua portuguesa 
nas 56 sessões de trabalho e nas sessões plenárias a ter lugar durante o evento."





DESTAQUES CAMONIANOS


22 JUL. 2024 | segunda-feira

Na Faculdade de Ciências da U. Porto | Auditório Ferreira da Silva -FC6 030



Apresentação do volume da revista Camões n.º 28 dedicado ao Poeta

com intervenção de Helder Macedo e Margarida Calafate Ribeiro,
seguida de momento musical


23 JUL. 2024 | terça-feira

Na Faculdade de Ciências da U. Porto | Auditório Ferreira da Silva -FC6 030

Painel Releituras de Mário Cláudio na celebração dos 55 anos de vida literária do escritor 


15:30 | Sala 203

Pós-colonialismo e anti-epopeia em Mário Cláudio: às (revira)voltas com Camões

por Martinho Soares | U. Coimbra / CECH

"Pretendemos revisitar algumas das obras histórico-romanceadas da produção ficcional de Mário Cláudio, incidindo na forma como o romancista desconstrói e vira do avesso o simbolismo patriótico, épico e otimista que a nação e, muito particularmente, o Estado Novo, conferiram aos maiores da pátria lusa. 

Entre eles, particular destaque será dado à figura de Camões, autor que vem acompanhando o labor literário de Mário Cláudio desde o início e percorre indelevelmente a sua obra até se consagrar como enigma e tema central no magnífico romance-ensaio: Os Naufrágios de Camões (2016). 

Desta retrospetiva, fica-nos a certeza de um romancista empenhado em colaborar com os artistas seus contemporâneos na releitura póscolonial de um passado pátrio enfunado por interesses políticos e ideológicos, trazendo ao de cima o lado escuro e menos glorioso da gesta nacional ultramarina. 

Ao escolher este tema, pretendemos sintonizar a obra de Mário Cláudio com uma série de efemérides interligadas que evocamos este ano: os 50 anos do 25 de abril e do processo de descolonização e os 500 anos do nascimento de Camões." - Dos Resumos.



24 JUL. 2024 | quarta-feira | 9:30 - 12:00 | Sessões paralelas

Na FLUP


 Sessão C | Sala de Reuniões 2

9h30

Luís Vaz de Camões e Jan Kochanowski ou Portugal e a Polónia entre a inspiração clássica e o patriotismo

por Anna Kalewska | U. Varsóvia

"[...] Jan (João) Kochanowski de Korwin, (1530 – 22 de agosto de 1584), em latim: Ioannes Cochanovius, às vezes escrito Juan Cocanovio em espanhol (o que devia soletrar-se: Cocanóvio em português), foi um grande poeta, tradutor e escritor do Renascimento e do Humanismo na Polónia. A sua trajetória biográfica cumpre o padrão da vida de um bom nobre polaco, apegado à terra natal. 

Mesmo que a vida nos extremos do baluarte da Cristandade seja diferente, a obra de ambos os génios poéticos une a inspiração clássica com o patriotismo moderno. Camões escreveu Os Lusíadas, a epopeia nacional portuguesa. Kochanowski, latinógrafo quando jovem, debruçou-se sobre o contexto geopolítico da sua época, aludido na primeira tragédia escrita em polaco: A despedida dos emissários gregos (1578). Jan Kochanowski podia ter projectado uma epopeia virgiliana – em vão, porém, porque este projeto ficou na gaveta. 

Os Lusíadas, mesmo traduzidos para o polaco em três edições maiores (de 1790, 1890 e 1995), não tinham a hipótese de substituir ou compensar a falta de um poema épico nacional polaco, cuja função tinha desempenhado a tradução de La Gerusalemme Liberata (1581) de Torquato Tasso ou a sua versão sui generis em polaco arcaizante, vertida na Sarmácia antiga como Goffred albo Jueruzalem wyzwolona (1618) da lavra de Piotr Kochanowski (1566-1620), cavaleiro de Malta e sobrinho do poeta Jan Kochanowski. 

A presente comunicação propõe-se como um quadro comparativo de obras escolhidas, circunstâncias culturais e biografias espirituais de Luís Vaz de Camões e Jan Kochanowski. Seria mesmo igual o ideário renascentista baseado no louvor e lealdade à Pátria? Trata-se, pois, na reapropriação de simbologia e tópica clássicas, visando o objectivo comum: o da (re)criação das literaturas nacionais dentro da modernidade renascentista.

Que é, então, o Renascimento na Europa? Assentamos em que a responsabilidade colectiva e individual dos protagonistas da história gravada em verso, como também a ressonância épica e trágica da obra de ambos os vates (poetas e profetas!) lusitano e polaco permitem os métodos filológicos e geram as visões do mundo iguais ou muito parecidas. 

A mensagem de Camões e Kochanowski é universal e fica válida até aos nossos dias. Criada sob o signo internacional da herança clássica, levanta a unanimidade das vozes interpretativas e acerta no diálogo possível entre Cocanóvio/Kochanowski e Camões/Kamoens, partindo numa viagem imaginária do Reino Lusitano «onde a terra se acaba e o mar começa» ao encontro da «Estranha gente» e dos «Sármatas [d’] outro tempo» (Os Lusíadas, III, 20, 3; 11,1 e 3). 

Camões, Kochanowski e o Renascimento em Portugal e na Polónia engendram, obviamente, umas certas contradições, que podemos encontrar igualmente na poesia de Homero, Dante ou Petrarca. Convinha lembrar, ainda, as diferenças do solo, clima e terra e as profundas contradições da alma humana aquém e além da Europa, que, no nosso entender, não passam de uma simples aparência.

A cristalização da mundividência camoniana e cocanoviana comum seria possível?".  
- Dos Resumos.




9h45

“Porque te inquietas? O Principe he Camões entre os Poetas”: sobre a receção d'Os Lusíadas no poema Lisboa Reedificada (1780) de Miguel Maurício Ramalho

por Gil Clemente Teixeira | U. Lisboa


"Os Lusíadas (1572), desde que viram a luz do dia, teimam em ser um território de labirintos e de fascínios para muitos leitores e para muitos poetas. Assim, podemos cair na tentação de pensar que a produção épica portuguesa se esgota no poema camoniano, quando, na verdade, é elevado o número de poemas épicos na literatura portuguesa (impressos e manuscritos), aquilo a que Camilo Castelo Branco, logo no capítulo I do seu Curso de Literatura Portuguesa, intitulou um “mar morto das bibliotecas inúteis”. 

Autores como Hernâni Cidade, Jorge de Sena ou Cabral do Nascimento ocuparam-se do inventário, sempre imperfeito, deste filão durável da literatura portuguesa que o tempo obnubilou. Muitos destes textos, fruto do cumprimento do preceito da imitatio, dialogam com o poema camoniano (de forma mais ou menos assumida), reescrevendo-o de diferentes formas, ora corroborando-o, ora contestando-o, e até censurando-o, nos passos em que este se mostrava particularmente incómodo. 

Por isso, estes poemas épicos são hoje peças fundamentais na construção de uma história de leitura d’Os Lusíadas. O barroco, que se estende por todo o século XVII e ocupa uma larga parte do século XVIII, foi um tempo de intensa admiração de Camões e da sua obra. Por isso, Luís António Verney afirmou na carta sétima do seu Verdadeiro Método de Estudar (1746) que mais facilmente se encontraria um português que dissesse mal da religião católica do que d’Os Lusíadas. Neste ponto, não estaria muito longe da verdade.

Um dos críticos de Verney, de acordo com o bibliógrafo Inocêncio Francisco da Silva, foi o poeta Miguel Maurício Ramalho, autor não apenas de vários poemas de circunstância relativos a acontecimentos da vida da família real, mas também de uma epopeia de nove cantos intitulada Lisboa Reedificada (1780) que trata da reconstrução da cidade após o terramoto de 1755. 

Estamos perante um dos muitos poemas épicos sem grande presença nas histórias da literatura portuguesa, embora o seu autor possuísse uma significativa cultura literária, como comprovam, por exemplo, as várias notas que inseriu nas margens das páginas da sua epopeia, notas que tanto remetem para fontes bíblicas como para autoridades clássicas. 

Manuel Ferro, que à produção épica do barroco e do neoclassicismo consagrou parte da sua investigação, no verbete que escreveu sobre Miguel Maurício Ramalho na Biblos (2001), recordou-nos que o poema Lisboa Reedificada apresenta uma “feição camoniana”. 

Também Estela Vieira (2005), que gizou um panorama da literatura portuguesa relacionada com o terramoto de 1755, sublinhou esta proximidade ao clássico camoniano. 

A memória de Camões é, de resto, um facto irrefutável, pois é afirmada no próprio texto: “Logo a Musa me diz: Porque te inquietas? / O Principe he Camões entre os Poetas.” (canto IX, est. 73). 

Nesta comunicação pretendemos dar a ver não apenas de que modo se processa o diálogo entre este poema setecentista e a epopeia camoniana, mas também o que esse diálogo intertextual indicia do ponto de vista da estética da receção. Talvez fique claro que estamos perante um poema, ao contrário do que afirmou Inocêncio Francisco da Silva, que “transcende as raias da mediocridade”."
 - Dos Resumos.




Sessão E | Sala 207

9h45

Faces do “peito feminil”: as figuras pintadas por Camões nas edições ilustradas do século XXI

por Filipa Medeiros Araújo | U. Coimbra / CIEC


"Quinhentos anos volvidos sobre o nascimento de Luís Vaz de Camões, muitas dúvidas persistem sobre a sua vida e a sua obra, mas permanece inquestionável a intemporalidade da sua poesia, particularmente no que diz respeito à multifacetada representação do feminino. 

Na senda da investigação já desenvolvida neste âmbito por Carlos Ascenso André, Helder Macedo e Rita Marnoto, entre outros, pretende-se focar o olhar nas figuras de mulheres, ninfas e deusas pintadas por Camões, de modo a discutir a sua representação nas ilustrações que integram algumas das edições mais recentes da obra camoniana. 

Na poesia lírica, Camões soube recriar a tradição petrarquista, explorando a combinação de atributos herdados dos modelos peninsulares e dos códigos classicizantes, mas sem se limitar à visão redutora de quem canta uma mulher desumanizada. É sobejamente conhecida a forma como desafia os estereótipos da beleza física da amada nas famosas endechas a Bárbora. 

Mas importa também lembrar relevantes sinais de retratos não convencionais e até de empoderamento feminino n’Os Lusíadas. Além da intervenção política da “fermosíssima Maria”, a ninfa Tétis afirma a sua rejeição diante do gigante Adamastor, que é transformado em rocha e condenado à tortura de a ver nadar livremente em seu redor. Cumpre igualmente sublinhar o conteúdo das palavras dirigidas a Bóreas pela ninfa que o repreende, no episódio da Tempestade (V.89.4-8). Com a moderação exigida pelas condicionantes do seu horizonte contextual, a epopeia cria espaço para o enamoramento e para os jogos de sedução a que assistimos na Ilha dos Amores, celebrando o amor consentido em detrimento da violência sexual. Pese embora a predominância masculina do discurso épico, Camões foi capaz de dar voz às mulheres, e não deixou de se comparar a exemplos femininos. Recorde-se que no celebérrimo verso “Numa mão sempre a espada e noutra a pena” (VII.79.8), o Poeta apresenta-se “Qual Cânace que à morte se condena” (VII.79.8), equiparando-se, assim, à desgraçada figura das Heroides (11.3) de Ovídio.

Reconhecendo, pois, a sensibilidade do Príncipe dos Poetas para representar a complexa pluralidade feminina, propomos analisar a presença destas figuras nas ilustrações especificamente preparadas para três edições de textos camonianos publicadas no século XXI. O corpus selecionado inclui: 
  • Poesia de Luís de Camões para todos. Seleção e organização de José António Gomes e ilustração de Ana Biscaia (Porto, Porto Editora, 2009); 
  • Luís de Camões: a global Poet for Today. Edição de Helder Macedo e Thomas Earle com ilustrações de André Carrilho (Lisboa, Lisbon Poets & Co, 2019) e 
  • Os Lusíadas de Luís de Camões. Introdução, atualização do texto e aparato de Rita Marnoto (Guimarães, Universidade do Minho/Kalandraka Editora, 2021). 
Pretende-se, assim, numa perspetiva comparatista, identificar os pontos de contacto entre o texto de Camões e a produção das/os ilustradoras/es, procurando discutir a relação entre a expressão verbal e os elementos gráficos no que diz respeito à figuração feminina. 

Tendo em conta que foram selecionadas três edições que têm em comum a finalidade de divulgação da obra camoniana, impõe-se uma reflexão sobre a atenção concedida às diferentes faces do “peito feminil que levemente / Muda quaisquer propósitos tomados” (L.IX.46). Camões conheceu-as e quis dá-las a conhecer. Será que estas edições mais recentes concedem o devido protagonismo a esse objetivo tão atual e tão desafiante?"- Dos Resumos.




Sessão H | Sala 202

11h00

Caramuru e Os Lusíadasos métodos críticos de Antonio Candido e Eduardo Lourenço

por Isabela de Almeida Oliveira | UnB

"Compreendemos que a epopeia camoniana, Os Lusíadas (1572), é um paradigma para a literatura lusófona e a cultura portuguesa. Do outro lado do Atlântico, diversas foram as tentativas na colônia de reproduzir a excelência do trabalho poético de Luís Vaz de Camões, podemos citar como exemplo os poemas Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira, e O Uraguai (1769), de Basílio da Gama. Porém, a obra que ganhou mais destaque, neste contexto, diz respeito à epopeia escrita pelo frei José de Santa Rita Durão, Caramuru (1781), uma vez que se tornou parâmetro para o desdobramento da literatura romântica no Brasil. 

Assim, muitos estudos literários se encarregam de comparar e contrastar tais poemas fundacionais, buscando por suas semelhanças e diferenças, além dos seus valores como epopeias. Nesta pesquisa, entretanto, propomos nos aprofundar nas análises de Antonio Candido referente ao Caramuru, e de Eduardo Lourenço sobre Os Lusíadas, com o objetivo de estabelecer um diálogo entre os críticos acerca das relações entre a literatura portuguesa e a literatura brasileira. 

Dentro da gama de ensaios que constituem a crítica literária de Antonio Candido, três textos se mostram relevantes para o estudo da obra Caramuru (1781), são eles: o Capítulo V, “O passadista”, de Formação da Literatura Brasileira (1959); o ensaio “Estrutura literária e função histórica”, publicado originalmente em 1961 e depois incluído no livro Literatura e Sociedade (1965); e, por fim, podemos destacar também o primeiro capítulo, intitulado “Movimento e parada”, do livro Na sala de aula (2000), no qual a proposta é analisar um trecho do poema de Santa Rita Durão. 

Quanto à obra de Lourenço, localizamos seus ensaios camonianos, principalmente, na primeira parte de seu livro Poesia e metafísica (1983); contudo, há também alguns outros textos relevantes a respeito de Camões em Labirinto da Saudade: psicanálise mítica do destino português (1978) e em Mitologia da Saudade seguido de Portugal como destino (obra publicada no Brasil em 1999). 

Portanto, a partir destas referências, procuramos entender a conexão existente entre os métodos críticos de Candido e de Lourenço, considerando, principalmente, seus posicionamos acerca da importância histórico-literária das obras de Durão e Camões. Neste viés, observamos que podemos estabelecer uma relação entre os trabalhos desenvolvidos pelos pensadores brasileiro e português, uma vez que, além de contribuírem para a compreensão da literatura luso-brasileira, Candido e Lourenço são verdadeiros intérpretes de suas nações e advogam pela importância da literatura como categoria essencial para a formação da nação e da cultura." - Dos Resumos.




para saber +



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Redação: 22.09.2024