2024/11/17

Esta comum paixão camoniana, ou a poesia de Gonçalo Salvado


Gonçalo Salvado com um desenho de Francisco Simões
Imagem in Gonçalo Salvado Poeta | Facebook, 18.04.2022




No V Centenário do Nascimento de Luís de Camões: 1524 – 2024





"Camões, amor somente"

transcriação/antologia a partir de fragmentos da lírica, da épica e da dramaturgia camonianas 

de Gonçalo Salvado 

Prefácio de
 Mendo Castro Henriques | José Miguel Santolaya Silva |  António Manuel Ambrosio Ferreira
 
Salamanca: Caja Duero, 1999.


Apresentação da obra na Embaixada de Espanha, em Lisboa
com a presença do Embaixador D. José Rodríguez-Spiteri Palazuelo 
e do editor D. Sebastián Battaner Arias


"A obra é uma tentativa de construção de 
um Cântico dos Cânticos e de uma Arte de Amar em língua portuguesa 
a partir de fragmentos da lírica, da épica e da dramaturgia camonianas."













DELÍRIO 


"Se acendeu de outro fogo do desejo"
Luís de Camões


Quisera acordar em teu sangue a ondulação das ondas 
que pelo meu ser se espraiam. Vagas voluptuosas, 
ardentes, resplandecentes de espuma, doridas de azul,
incandescentes de sal. E vivas. Vivas.  

Quisera exaltar teu ventre entre o delírio e a loucura, 
tua carne que em mim se transfigura num sorriso vasto
de anseios puros, para sagrar contigo a vida mais fecunda.  

Ah, deixa-me aspirar o ar em tua radiante fronte 
antes que o dia expire e se alastrem as sombras 
até que de nós nada mais reste 
que um murmúrio no vento, 
um gemido abrasado e um doce lamento.  

Ó espanto deste amor no coração do verão aceso, 
fervor de um corpo indefeso ao meu desejo entregue, 
pleno de sumptuosos aromas 
e de inebriantes fragrâncias,  
a invadir de júbilo a íntima doçura da manhã. 

Ó êxtase que percorre como um sigilo a minha pele, 
luz que te pertence, dádiva de tua ardorosa claridade,
prodígio encantado da alegria onde em ebriedade me perco. 

Ó cálida mulher por minhas mãos estremecida, 
com odor quente a vertigem, a bosque silvestre, 
a resina, a álamos, a frutos molhados, 
a ramos verdes de folhagem 
em cuja pele se espelham os astros num resplendor infinito.   

Não escutas o apelo deste fogo convulsivo 
que sobre mim estende seu instinto prisioneiro 
consumindo a cada instante o meu desejo 
e minha alma inteira libertando? 

Fogo que habita e se alastra em meu peito, 
que por ti pede, implora e suplica, 
que teu amoroso sopro impele e reaviva? 

Que chama viva me convida a percorrer-te 
se em tuas próprias águas uma labareda ateaste?  

Deixa-me arder na languidez aveludada de tua carne,
fazer vibrar em teu colo os acordes da mais pura água
ser música de alba no suspiro que de ti transborda. 
Amar é o melhor ensejo para relembrar que a morte é nada. 

Amo tuas ancas sumptuosas, o denso ardor de seu meneio, 
cada movimento de sua dança, a sua elegância de baile e maresia. 
O próprio mar ao vê-las mais se azula, se enfeitiça e se deslumbra  
com a frescura de suas ondas, de suas vagas, de suas espumas. 
Quantas vezes são fúria de água a arrastar-me para os fundos  
impondo ao meu olhar que por elas cega a sua submersa claridade!  

Gonçalo Salvado
In Entre a Vinha (2013)












NASCIDA DAS VAGAS


Retoma com tuas mãos o caminho do meu corpo: 
ainda é cedo para o declinar do estio 
e o sol resplandecendo persiste 
em festejar em nossa pele
o fulgor da sua própria avidez

Não há lugar para o inverno 
quando o fogo lateja firme no sangue 
e os sentidos vibram ateados pelo desejo 
e se surpreendem lavas e delírios 
no enlace dos corpos que se fundem  

Vê como a luz testemunha 
esta rubra exaltação que incessante me percorre 
ao fluirem meus dedos pela linha da tua cintura
ao abraçar tua nudez numa sede estremecida

Vê como o mar se encrespa alvíssimo 
em doce melodia e um manto de espuma viva 
vem cobrir a orla do nosso mútuo assombro     

Quero-te assim: reclinada no meu peito
cintilante de sal rendida às vagas
das carícias de meus dedos 
exposta ao ardor da minha posse
em súplice abandono

Deixa-me beber nos teus lábios a sorvos largos
a embriaguez da volúpia 
saborear em tua boca 
o gosto fremente dos pomos  
visitar-te poro a poro
com desbordante entusiasmo
até desfalecer de gozo na suavidade do teu ventre 

Nua, ao meu lado, estendida sobre a areia 
és o apogeu da própia vida a entregar-se plena
ao fascínio da minha contemplação

Como merecer-te? doar-te todo o ardor que
em sobressalto me acende o olhar e te celebra?
Como domar o fogo que chega ditoso 
em tropel numa urgência de se revelar?

Acalmar este indómito desejo? E como? Se irrompe
febril diante do teu vulto claro, e me cega?
…………………………………………………….

Gonçalo Salvado
(inédito)













“Com vinho e rosas:o amor o vinho e as rosas na poesia de Luís Vaz de Camões 

Homenagem aos 450 anos da Ilha dos Amores”

ANTOLOGIA POÉTICA 

ed. Gonçalo Salvador 

com desenhos de Francisco Simões 

10 JUN. 2022 | no Jardim horto de Camões, em Constância, Santarém 

Uma colaboração 
da Editora Lumen com a Livraria Sá da Costa Editora de Lisboa 
em parceria com a Quinta dos Termos

"O título é inspirado na estrofe 41 do canto IX de Os Lusíadas
que relata o célebre episódio da Ilha dos Amores 
e a obra contém uma seleção das referências ao vinho e às rosas na poesia de Camões. 

Na capa reproduz um retrato do poeta lírico feito pelo escultor Francisco Simões, 
que também assina dois desenhos de nu feminino no seu interior 
(autor também da escultura “Ilha dos Amores e Ninfas”, 
instalada no Parque dos Poetas, em Oeiras). 
Inclui ainda um fragmento da obra “Camões, amor somente”, 
de Gonçalo Salvado, publicada em Salamanca, em 1999."

In: Reconquista, 21.04.2022





"Nigra Sum: 

a Mulher Negra na poesia de amor lusófona do século XVI ao século XXI"

ANTOLOGIA POÉTICA 

ed. Gonçalo Salvado

com desenhos de Roberto Chichorro 

Lisboa: Lumen/Livraria Sá da Costa/Quinta dos Termos, 2020


"A antologia, agora lançada em estreia, 
insere-se numa coleção de poesia, única no panorama editorial português, 
em que as obras surgem em original formato livro/garrafa.

O livro conta com capa e desenhos de nu feminino, concebidos para o efeito 
por Roberto Chichorro, consagrado artista Moçambicano, 
sendo que na sua obra o feminino e o erótico ocupam um lugar de relevo. 
A obra inclui ainda um texto de abertura de Maria João Fernandes."

in Gazeta do Interior, 29.07.2020





"Entre a vinha"

POESIA 

de Gonçalo Salvado

com desenhos de Rico Sequeira 

Prefácio de Fernando Paulouro

Lisboa  Portugália, 2010

“Estamos perante uma obra obra trabalhada ao gume do pensamento, 
em que a música das palavras, o ritmo breve ou mais alongado dos versos 
converge num esplendor [...] múltiplo, 
pela forma encantatória como o poeta realiza a evocação do corpo 
e se transcende na criação de um “destino solar” único e definitivo. 

Um canto de amor que se desenvolve em poemas de sentido epigramático, 
numa epifania poética da mulher que é, na realidade, um Cântico dos Cânticos."

Fernando Paulouro
In: Prefácio a Entre a Vinha













  1. Camões, amor somente. - Org. Gonçalo Salvado. Pref. Mendo Castro Henriques ; José Miguel Santolaya Silva ; António Manuel Ambrosio Ferreira. Salamanca: Caja Duero, 1999.
  2. Com vinho e rosas: o amor, o vinho e as rosas na poesia de Luís Vaz de Camões. -Antologia de homenagem aos 450 anos da Ilha dos Amores. Org. Gonçalo Salvado. Lumen, 2022.
  3. Nigra sum: a mulher negra na poesia de amor lusófona do século XVI ao século XXI – Homenagem a Sulamite, do Cântico dos Cânticos e a Bárbara escrava, de Luís de Camões. - Antologia poética org. por Gonçalo Salvado e ilustrada pelo  artista plástico moçambicano Roberto Chichorro. Lisboa: Lumen/Livraria Sá da Costa/Quinta dos Termos, 2020.
  4. O poeta Gonçalo Salvado (Lisboa, n. 1967). Licenciado em Filosofia pela U. Católica, a sua obra constrói-se sob o signo de Eros, tendo organizado várias antologias que contemplam textos de Camões. Dos seus títulos, destacamos Camões, amor somente (1999), Nigra sum: a mulher negra na poesia de amor lusófona do século XVI ao século XXI (2020) e Com vinho e rosas (2022). - Fotografia por José Brito, no Facebook, 19.11.2024.












para saber +

in Luís de Camões - Diretório de Camonística

“Antologia organizada por Gonçalo Salvado com desenhos de Francisco Simões comemora Poesia de Camões e os 450 anos da Ilha dos Amores” 
in BeiraNews, 18.04.2022

in Reconquista, 21.04.2022

in Gazeta do Interior, n.º 1649, 29.07.2020

Manuel da Silva Ramos
[Poesia de Gonçalo Salvado, desenhos do escultor José Rodrigues, 
Quinta dos Termos/A 23 Edições / Fundação José Rodrigues, 2017
in JL20.12.2017 a 2.01.2018.











Redação: 17.11.2024