2025/03/15

Camões e a Madeira


Camões e a Madeira
de Fernando Augusto da Silva

Funchal: Edição do Autor, 1934
49, [2] págs.


Esta monografia está acessível em linha 
e na Rede Nacional de Objetos Digitais (RNO), 
que é o agregador nacional para a Europeana.

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"A Ilha da Madeira n'Os Lusíadas"


"A estância 5.ª do Canto V dos Lusíadas, que começa pelas palavras - Passámos a grande ilha da Madeira - forneceu assunto a variados comentários, que datam dos princípios do século XVII e se estenderam até a idade contemporânea, como abaixo mais pormenorizadamente se verá, sendo os versos 4º e 5.º os que sempre ofereceram um maior campo de análise para os críticos, que tentaram a sua mais perfeita e rigorosa interpretação. Algumas interessantes questões de feição filológica e histórica se debateram a propósito dessa interpretação, divergindo bastante as opiniões dos autores, não chegando a apurar-se um conceito unanime e conforme entre os diversos comentadores da já famigerada estrofe.

O ilustre camonianista dr. José Maria Rodrigues, ao interpretar o sentido das primeiras doze estâncias do Canto v dos Lusíadas, em que Camões nos dá uma narração sumária da primeira viagem marítima á Índia, sustenta que o poeta faz menção de duas rotas distintas, embora entrelaçadas, sendo uma de Lisboa às Canárias, em direcção às ilhas de Cabo Verde, e outra de Lisboa à Madeira, com rumo às mesmas ilhas. Desta opinião divergiu o distinto almirante Gago Coutinho, o que provocou uma larga discussão, a que adiante se fará também mais desenvolvida referência.

Os medianamente versados na obra camoniana sabem que já muito se tem escrito acerca da suposta "situação geográfica" da Ilha dos Amores, descrita nos cantos IX e X do imortal poema. Embora a maioria dos autores mantenha a opinião de que o poeta, criando um episódio de pura ficção, não "localizou" a fantasiosa ilha em nenhum ponto da rota seguida pelo Gama, é todavia certo que graves e autorizados escritores afirmam que ele tomou algumas das ilhas oceânicas como modelos para aquela conhecida narração poética, não faltando quem houvesse indicado a ilha da Madeira, como elemento de inspiração para essa mesma narrativa.

Em vários lugares e especialmente na estância 28.ª do canto IX, refere-se Luís de Camões em termos pouco lisonjeiros aos governantes da época, em que alguns têm visto uma acre censura aos irmãos Câmaras e de modo particular ao omnipotente ministro Martim Gonçalves da Câmara, natural da Madeira e filho do quarto capitão donatário do Funchal.

Pelo que se deixa rapidamente exposto, deve inferir-se que as relações de próxima afinidade, que porventura se possam estabelecer entre a Madeira e a epopeia camoniana, ficam reduzidas a estes quatro pontos principais, que sumariamente explanaremos em capítulos subsequentes:

1.º - Interpretação da conhecida estância 5.ª do Canto V e particularmente dos versos 4.º e 5.º;

2.º - Polémica suscitada entre o dr. José Maria Rodrigues e o almirante Gago Coutinho acerca a única ou dupla rota, descrita por Camões, desde Lisboa às ilhas de Cabo Verde;

3.º -Hipotética localização ou situação geográfica da chamada Ilha dos Amores;

4.º - Supostas ou verdadeiras censuras dirigidas pelo poeta aos ilustres madeirenses Luís e Martim Gonçalves da Câmara."

Fernando Augusto da Silva
Camões e a Madeira, Lisboa: e.d., 1934, p. 8-10. 




Sacerdote, historiador, professor e escritor, camonista. 
Funchal, 29.09.1863 - 18.12.1949. 

Alguns dos seus livros estão disponíveis
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Redação: 15.03.2025