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Colóquio Internacional 500/100: 500 anos do nascimento de Camões. 100 da morte de Teófilo Braga. Cartaz (pormenor) do evento. |
10 de Junho
"Em 1580, morria em Lisboa, numa modesta casa da calçada de Sant'Ana, na maior indigência, com o coração retalhado pelos infortúnios da pátria, que em virtude dos manejos jesuíticos também soçobrava, o príncipe dos poetas portugueses Luís de Camões.
Em 1572, saía dos prelos de António Gonçalves a primeira edição dos Lusíadas, edição revista pelo próprio poeta. E em 1584 era publicada a segunda edição, mutilada pelos jesuítas, que não conseguiram o seu nefasto intento de apagar o poema assim como haviam reduzido à miséria o seu autor. Os Lusíadas, porém, foram reintegrados no seu primitivo texto, chegando até nos em sucessivas edições e a sua fama ecoou pelas nações cultas do mundo que os verteram nos seus idiomas.
Em 1867, após várias tentativas e esforços, foi-lhe inaugurado o monumento. Era a primeira prestação da grande dívida, paga a Camões pela pátria sua amada.
Em 1880, Portugal saudou num brado uníssono a memória do seu maior poeta. As nações da Europa, a América, o Brasil, acompanharam o povo português nas suas patrióticas manifestações e contribuíram para a grandiosa e solene comemoração do tricentenário.
Qual foi, porém, a mola que impulsionou o povo português para o grande jubileu do orago nacional?
Como foi que as forças vivas do trabalho, representadas por todas as classes sociais, correram pressurosas, unindo esforços e atividades para realizar os solenes festejos e cortejo cívico que Portugal jamais havia presenciado?
E qual foi o fator da aderência das nações estrangeiras ao grandioso movimento?
Um homem!
O caráter mais enérgico, a individualidade mais extraordinária que conhecemos em Portugal.
Ninguém dirá que aquele organismo encerra o cérebro mais potente, mais forte, melhor orientado, que está ali o maior poder espiritual da nacionalidade portuguesa.
Esse homem é Teófilo Braga.
E assim escrevia Teixeira Bastos, em 1882, traçando a biografia do grande mestre.
"A comemoração grandiosa do grande épico é a obra mais extraordinária e colossal de Teófilo Braga. Foi, com efeito, ele o único autor das festas cívicas de 1880, festas que se repercutiram em todo o mundo, onde chegou um dia o nome de Portugal. O ilustre professor desde 1873, começara a propagar a ideia simpática da glorificação do poeta dos Lusíadas; em cartas para o estrangeiro, nas lições do Curso Superior de Letras, em conversas particulares, foi lançando a semente que se desenvolveu pouco a pouco, até que em 10 de junho de 1880 se colheram os frutos soberbos e ótimos nas ruidosas festas e mas a inúmeras publicações do tricentenário. A ação de Teófilo Braga foi bem evidente, mas ele meteu-se na sombra, ocultou-se modestamente detrás da comissão da imprensa, e daí, furtando-se ao agradecimento público, gosou como simples comparsa o efeito sumptuoso da sua obra, Era, na verdade, feliz por ver a força de uma ideia................................................Teófilo Braga na sociedade moderna é revolução; revolução na arte, na historia, na filosofia, nos costumes e nas fórmulas sociais. E a esperança do futuro nacional."
São decorridos vinte e nove anos.
E como é consolador ver o bom amigo e mestre através o grande espaço de tempo, sempre firme no seu posto, trabalhando com o mesmo ardor, a mesma perseverança e atividade, sem resvalar um ápice do caminho de intransigência e desinteresse que a si próprio traçou.
E como deve ser grato ao atleta do livre pensamento e apóstolo fervoroso da República ver a sua obra tão salutarmente propagada pelo país, por elementos de altíssimo valor, que têm secundado o trabalho do mestre e louvado as suas sábias lições.
O tricentenário camoniano abriu caminho e deu unidade ao Partido Republicano. E quando soar a hora do advento da República, a estátua de Camões será juncada de flores e Teófilo Braga receberá a palma da vitória ofertada pelas multidões reconhecidas.
É um tributo de gratidão cívica."
Jornal "O Mundo", 9 de JUNHO de 1909.
Transcrição do documento original do Arquivo de Teófilo Braga
que integra o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.
A imagem digital consta Arquivo dos Presidentes do MPR,
disponível online em:
Redação: 9.04.2025
Cartaz do Colóquio Internacional 500/100: 500 anos do nascimento de Camões. 100 da morte de Teófilo Braga.