2025/04/10

O significado do dia 10 de junho


Colóquio Internacional 500/100:
500 anos do nascimento de Camões. 100 da morte de Teófilo Braga.

Cartaz (pormenor) do evento.

10 de Junho

"Em 1580, morria em Lisboa, numa modesta casa da calçada de Sant'Ana, na maior indigência, com o coração retalhado pelos infortúnios da pátria, que em virtude dos manejos jesuíticos também soçobrava, o príncipe dos poetas portugueses Luís de Camões.

Em 1572, saía dos prelos de António Gonçalves a primeira edição dos Lusíadas, edição revista pelo próprio poeta. E em 1584 era publicada a segunda edição, mutilada pelos jesuítas, que não conseguiram o seu nefasto intento de apagar o poema assim como haviam reduzido à miséria o seu autor. Os Lusíadas, porém, foram reintegrados no seu primitivo texto, chegando até nos em sucessivas edições e a sua fama ecoou pelas nações cultas do mundo que os verteram nos seus idiomas.

Em 1867, após várias tentativas e esforços, foi-lhe inaugurado o monumento. Era a primeira prestação da grande dívida, paga a Camões pela pátria sua amada.

Em 1880, Portugal saudou num brado uníssono a memória do seu maior poeta. As nações da Europa, a América, o Brasil, acompanharam o povo português nas suas patrióticas manifestações e contribuíram para a grandiosa e solene comemoração do tricentenário.

Qual foi, porém, a mola que impulsionou o povo português para o grande jubileu do orago nacional?

Como foi que as forças vivas do trabalho, representadas por todas as classes sociais, correram pressurosas, unindo esforços e atividades para realizar os solenes festejos e cortejo cívico que Portugal jamais havia presenciado?

E qual foi o fator da aderência das nações estrangeiras ao grandioso movimento?

Um homem!

O caráter mais enérgico, a individualidade mais extraordinária que conhecemos em Portugal.

Ninguém dirá que aquele organismo encerra o cérebro mais potente, mais forte, melhor orientado, que está ali o maior poder espiritual da nacionalidade portuguesa.

Esse homem é Teófilo Braga.

E assim escrevia Teixeira Bastos, em 1882, traçando a biografia do grande mestre.

"A comemoração grandiosa do grande épico é a obra mais extraordinária e colossal de Teófilo Braga. Foi, com efeito, ele o único autor das festas cívicas de 1880, festas que se repercutiram em todo o mundo, onde chegou um dia o nome de Portugal. O ilustre professor desde 1873, começara a propagar a ideia simpática da glorificação do poeta dos Lusíadas; em cartas para o estrangeiro, nas lições do Curso Superior de Letras, em conversas particulares, foi lançando a semente que se desenvolveu pouco a pouco, até que em 10 de junho de 1880 se colheram os frutos soberbos e ótimos nas ruidosas festas e mas a inúmeras publicações do tricentenário. A ação de Teófilo Braga foi bem evidente, mas ele meteu-se na sombra, ocultou-se modestamente detrás da comissão da imprensa, e daí, furtando-se ao agradecimento público, gosou como simples comparsa o efeito sumptuoso da sua obra, Era, na verdade, feliz por ver a força de uma ideia.
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Teófilo Braga na sociedade moderna é revolução; revolução na arte, na historia, na filosofia, nos costumes e nas fórmulas sociais. E a esperança do futuro nacional."

São decorridos vinte e nove anos.

E como é consolador ver o bom amigo e mestre através o grande espaço de tempo, sempre firme no seu posto, trabalhando com o mesmo ardor, a mesma perseverança e atividade, sem resvalar um ápice do caminho de intransigência e desinteresse que a si próprio traçou.

E como deve ser grato ao atleta do livre pensamento e apóstolo fervoroso da República ver a sua obra tão salutarmente propagada pelo país, por elementos de altíssimo valor, que têm secundado o trabalho do mestre e louvado as suas sábias lições.

O tricentenário camoniano abriu caminho e deu unidade ao Partido Republicano. E quando soar a hora do advento da República, a estátua de Camões será juncada de flores e Teófilo Braga receberá a palma da vitória ofertada pelas multidões reconhecidas.

É um tributo de gratidão cívica."

Jornal "O Mundo", 9 de JUNHO de 1909.


Transcrição do documento original do Arquivo de Teófilo Braga
que integra o acervo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.
A imagem digital consta Arquivo dos Presidentes do MPR, 
disponível online em:







Redação: 9.04.2025

Cartaz do Colóquio Internacional 500/100: 500 anos do nascimento de Camões. 100 da morte de Teófilo Braga.